Spider-Man: Miles Morales | Vidas Descartáveis
Este texto possui Spoilers sobre a trama principal do jogo Spider-Man: Miles Morales.
Spider-Man: Miles Morales é um jogo sequência lançado em Novembro de 2020 pela Insomniac Games.
O jogo conta a história de Miles Morales, um menino negro do bairro do Harlem, em Nova York que acaba ganhando poderes de aranha e se torna aprendiz de Peter Parker, o Homem-Aranha original.
No início do jogo Peter viaja, deixando Miles como o único Homem-Aranha de Nova York e os eventos do jogo se desenrolam durante esse período.
O jogo tem uma "atmosfera negra" muito bem feita, desde a trilha sonora, os ambientes que Miles frequenta e também nas situações que o personagem passa, que fazem referência direta a problemas reais presentes frequentemente em na vida de diversas POC (abreviação pra expressão americana People of Color = Pessoas de Cor) na América. Algumas extremamente sutis, mas ainda sim significativas.
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Miles se defendendo diante das autoridades mesmo após salvar vidas. |
Em uma missão no início do jogo, Miles indiretamente é responsável pela destruição de uma ponte (coisa bem comum em filme, jogo e quadrinhos de Super-heróis), mas rapidamente contorna a situação, conseguindo salvar todos presentes no desastre. Quando as autoridades MILITARES da Roxxon (um dos grupos vilões do jogo) chegam ao local, o Homem-Aranha é detido por eles de imediato. Nesse momento, os civis em volta começam a questionar as ações dos militares, defendendo o protagonista e gravando a ação dos soldados, que não desejam que o ato seja gravado. Felizmente, Miles consegue fugir da situação com poderes de camuflagem, mas situações assim ocorrem TAMBÉM no mundo real de forma não tão diferente. Temos como exemplo bem popular George Floyd, detido por autoridade policial por uma multa de $20 e asfixiado por 8 minutos e 46 segundos até sua morte, também com civis em volta repreendendo os policiais e gravando a ação. Se Miles não tivesse poderes, seu fim seria trágico como o de George.
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"Não podem matar o Homem-Aranha. Ele nos salvou!" Exclamavam os civis. |
Conforme a trama avança e os planos da Roxxon são revelados, Miles descobre que a usina elétrica que seria inaugurada no Harlem seria nociva pra população. Mas isso não importava se era pro avanço e pro ganho da empresa. Miles fica extremamente indignado quando percebe que pra empresa, o povo do Harlem – um povo majoritariamente negro – é considerado descartável e apenas números em prol de um resultado lucrativo maior.
O que não é muito diferente do que a gente vê nas favelas do nosso país, com o pessoas cujas vidas também são consideradas descartáveis.
As autoridades da Roxxon, ao confrontar o grupo "terrorista" Underground, põe em risco o povo do Harlem por diversas vezes ao iniciar tiroteios em meio a população.
Não muito diferente de como funciona a "luta contra o tráfico" no nosso país, onde diversas vidas inocentes são perdidas nas favelas por causa de conflitos em áreas em meio ao povo.
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Notícia de 28/01/2021, um dia antes deste texto ser escrito. |
John Paquette e Ben Arfmann (roteiristas do jogo) conseguiram escrever uma história com referências que podem passar despercebido como parte da trama para alguns, mas que traz um choque pra aqueles que presenciam – e sentem na pele – essas situações. É importante que assuntos como a violência Militar/Policial e o descarte das vidas de POCs sejam apresentados e criticados de forma mais frequente, pois acontecem a todo momento e, infelizmente, já são normalizadas no cotidiano não só brasileiro, mas ao redor do mundo também.
- Tiago Sampaio.
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