O Batman não é tão durão como você pensa.

O texto a seguir possui spoilers da série Titans.

Batman. Criado em 1939 e até então um dos personagens mais rentáveis e populares dos quadrinhos. Possui diversas histórias marcantes desde os livros até aos filmes e animações. Um personagem que possui uma legião de fãs fiéis que conhecem sua mitologia como ninguém.

Mas esses mesmos fãs parecem não entender o que realmente o personagem é. 

Após seus pais serem assassinados por um assaltante em um beco após saírem do cinema, o jovem Buce Wayne, de aproximadamente 10 anos de idade, inspirado pelo filme de justiceiro que assistiu com seus pais, decide se tornar um vigilante para não permitir que o que aconteceu com seus pais ocorra com mais ninguém em sua cidade, Gotham City.

Inspirador, não? Essa é a origem do Batman em toda e qualquer iteração que vise contar a origem do Cruzado Encapuzado.

Mas o que fica nas entrelinhas nos quadrinhos e quase nunca é dito nas adaptações é que Bruce não é exatamente um exemplo de estabilidade emocional e psicológica. Na época que o personagem foi criado, terapia era considerada "coisa de gente maluca" mas mesmo hoje, décadas depois e com sua origem reescrita dezenas de vezes, Bruce nunca foi submetido à terapia pra superar o que ocorreu. Mesmo 30 anos depois, Bruce ainda é um menino, uma criança traumatizada que vive revivendo em sua cabeça a memória da vida de seus pais sendo tomada, não por um super-vilão, mas por um assaltante comum.

Traumatizado e com medo, Bruce decide não só trazer justiça, mas medo também, e escolhe justamente uma fobia de quando era criança pra ser o símbolo que os bandidos temeriam.

A série Titans nos apresenta um Bruce Wayne com mais idade e experiência, e na terceira temporada, após a morte de Jason Todd pelas mãos do Coringa, esse Bruce se descontrola e finalmente mata o vilão. Algo que condiz com um personagem que deixou o vilão por escapar tantas vezes, causando diversas mortes, chegando agora em um familiar seu.

Os fãs começaram a reclamar de verdade quando Bruce abre um arquivo no BatComputador de potenciais "Robins", alegando que o Batman nunca foi um predador de crianças e que isso era extremamente errado da parte da série.

É então que vos digo que estes fãs nunca entenderam o Batman, e que Bruce sempre foi SIM um "predador". Bruce projetava em crianças que tinham a idade aproximada à sua na época da morte de seus pais seu próprio trauma, ao invés de agir como um verdadeiro pai. Bruce era e ainda é irresponsável com toda e qualquer criança que se torna guardião. Na série Titans, Bruce é bem mais afetado que o normal.

Na primeira temporada, Dick Grayson, o Robin original, se afasta de Bruce Wayne por estar se tornando uma pessoa e um justiceiro como ele. Algo que definitivamente NÃO faria de Dick o herói que ele queria ser.

É inegável que o personagem tem icônicas histórias, antagonistas e coadjuvantes incríveis, filmes e desenhos que já se tornaram clássicos. Mas poucos são aqueles que souberam desenvolver o lado mais importante do personagem: sua problemática.

É assustador como vemos fãs do personagem não reconhecerem como Bruce Wayne é um menino assustado, que apesar de ter sido um herói por diversas vezes, é importantíssimo entender as consequências desse trauma não tratado pro Bruce e como isso o torna uma ameaça àqueles que o cercam.

Por muitas vezes a insegurança do Batman é confundida com "preparo". Por muitas vezes a violência de Bruce Wayne é confundida com Justiça. Mas Bruce Wayne não é alguém pra se espelhar (e isso é algo que o próprio Bruce diz pros Robins).

O que falta é alguém que saiba escrever o Batman pra escancarar a parte problemática do psicológico do personagem, pois isso seria uma fonte de histórias muito mais profundas abordando a dualidade do personagem que apesar de ser SIM desconsertado, é um dos maiores heróis da DC Comics.