O Código de Matrix Resurrections | Review

 

"The Matrix: Resurrections" é o 4° e mais novo filme da franquia que iniciou em 1999 e teve seu, até então, final em 2003, ano que os dois últimos filmes, ambos os jogos e "Animatrix" foram lançados.

Criado por Lana e Lily Wachowski, porém só com Lana na direção dessa vez, a franquia envelhece junto com a audiência, com o novo filme se passando 20 anos depois do último e Neo se encontra novamente buscando o que é ou não "real".

SEM SPOILERS

Aos preocupados que isso seja um Reboot ou prequel, acalmem os corações pois Resurrections não só continua a história e conceitos das produções da franquia (até de Animatrix), mas também evolui o mundo e a tecnologia. Em 1999, escapar para a realidade significava algo diferente do que é hoje, apesar de revolucionário, a vida hoje é extremamente conectada a diversas Matrix, e o novo filme reflete a nossa atual realidade como o de 1999 o fez na época dele. E faz isso muito bem até.

O filme começa nessa linha de comentários metacontextual e envolvido de mistério sobre essa nova realidade, referenciando a trilogia anterior de forma criativa e por vezes nostálgica. O papo filosófico beira mais aos de Reloaded e Revolutions, o que pode desagradar a alguns, porém para esse a quem vos fala, complementa magnificamente a trilogia.

O que infelizmente quebra o link entre esse filme e o resto da franquia é a falta de Don Davis, o compositor que estabeleceu o som desse universo, tão importante quanto John Williams é para Star Wars. Ele foi substituído por Tom Tykwer & Johnny Klimek, que já colaboraram com as Wachowski em outros projetos. Apesar de citar material de Davis, a energia e o estilo não estão lá, e a trilha acaba sendo só mais uma, um contraste com o trabalho de Davis que saiu da norma e criou algo inédito.

Com a evolução do mundo e da tecnologia, é de se esperar que o CGI e as lutas evoluam também, e na maior parte do tempo o trabalho é sólido, é difícil surpreender em relação ao CG hoje em dia, e o filme não se propõe a quebrar barreiras. O mesmo no departamento das lutas, não vá esperando outro Reloaded, com gente se batendo de 30 em 30 minutos, as lutas em Ressurrections são direto ao ponto e não tão frequentes na trama.

Para os amantes da dublagem, não há nenhum problema, a não ser a infelicidade do não retorno dos grandes personagens, mesmo assim as novas vozes combinam e não diferem tanto das antigas.

A teoria de que Lana foi forçada a fazer esse filme pela Warner Bros. é divertida e com certeza pode ser verdade, mas isso não significa que é um filme mal feito. Pelo contrário! Lana tem um carinho enorme pela franquia e no fim, a mensagem do filme é sobre abraçar a sua história e olhar para um futuro melhor e diferente.


SPOILERS

Ora essa, máquinas trapaceiras!

No fim de Matrix Revolutions, uma nova versão da Matrix é criada, Sati e a Oráculo olham para um céu claro e bonito na certeza de que a guerra está terminada e outro loop não comecaria. A paz, dada pelo acordo de Neo com as máquinas após a destruição de Smith na antiga Matrix garantia que todos que quisessem sair não encontrariam resistência das máquinas.

Assim, quando Resurrections começa, aparentemente com uma recriação do início do primeiro filme, seguindo para as portas do chaveiro de Reloaded, indo pra revelação de um Agente Smith/Morfeu, a introdução de modais que na verdade estão todos dentro de um jogo criando por Neo na Matrix de verdade... a mente tende a desligar (pegando a tática de 2003 a beta de um novo jogo de Matrix foi lançada semanas antes do filme, jogo esse que aparenta ser o feito pelo próprio Neo no universo... metacontextualização máxima), bem, Matrix nunca foi 100% explicativa, é o que leva a tantas discussões sobre o que significa, e a montagem de 'fãs' discutindo em devaneio sobre "o que é Matrix" e o que se espera de um novo filme, ao invés de perguntarem para o criador que está do lado deles, é uma grande sacada de Lana dizendo 'Matrix sempre foi algo meu e de Lily, e continua sendo'.

E o primeiro ato do filme foca em Neo acordando de novo da Matrix, para o desespero de seu terapeuta, que depois é revelado ser o novo 'cara branquelo de terno branquelo' Arquiteto, chamado Analista dessa vez, por entender a mente humana, segundo ele. Assim que Neo é libertado e a introdução via dojo é feita, o filme começa o fan service diferenciado, mostrando os avanços feitos em 60 anos da raça humana livre. No episódio de Animatrix, O Robô Sensível, um grupo de humanos tenta convencer uma máquina a se juntar a eles, no fim as coisas vão mal, mas o plano deu certo, em Ressurrections essa ideia é expandida, o sacrifício de Neo convenceu diversas máquinas a ajudar os humanos, liderado por ninguém mais, ninguém menos que Niobe. Ela não é o único rosto familiar a aparecer, uma Sati crescida ajuda Neo e o novo grupo a resgatar Trinity e o Merovingio dá as caras e xinga em francês por uns minutos soltando pérolas que parecem ter vindo do Twitter, e o retorno do agente Smith... dessa vez interpretado por Jonathan Groff.

Aí chegamos nas complicações... os por quês... as intenções... Ressurrections não é um filme fácil, e não é porquê ele é grande demais para mentes pequenas, só é meio embolado mesmo, uma recriação do primeiro filme pra começar esse talvez não tenha sido a melhor ideia. O novo Agente Smith é o chefe do Programador Anderson, e tirando umas breves falas repetidas, Groff não tem a mesma potência de Weaving, então por quê trazer ele de volta? (Desconsiderando o fator Neo vs Smith que parece ser obrigatório, o único motivo que vejo é que o código do Smith agora está intrincado ao de Neo após absorvê-lo em Revolutions) Como funciona a díade entre Neo e Trinity? A crise de energia que levou à guerra civil foi criada pelo Analista tentando ressuscitar Neo e Trinity, ele disse que custou muito, mas que custo é esse? Talvez tudo isso tenha resposta em cenas deletadas ou em um comentário de áudio da diretora, no caso o filme é um pouco confuso sim.

Pessoalmente falando, aqui estou para a expansão da lore e Ressurrections me entregou mais do que podia imaginar, com o bônus dos metacomentários hilários e um final feliz para o casal protagonista, terminado o filme espelhando o fim do primeiro, e como em 1999, se uma sequência vem aí é um mistério. 

FIM DOS SPOILERS

Apesar de um início desnecessariamente complicado, The Matrix Resurrections é uma boa "atualização" da metáfora que é toda a franquia Matrix para os dias de hoje. O filme dispensa sequências, apesar de ser possível desenvolver um quinto filme a partir daquele final, não parece ser dos planos da Lana ou da Warner tirar leites dessa velha vaca.

Definitivamente não é um filme para todos. O medo de Matrix de escancarar a metáfora à pessoas trans, além de todo o metacontexto, foi perdido, e algumas pessoas não ficaram contentes com "política" sendo "socada" dentro de Matrix.

É um filme divisor de águas. Não se há um consenso geral, porém uma coisa é certa, não tente assistir sem ver os outros antes, não vale nem a pena. Porém, se já é familiarizado com o mundo, é uma recomendação nossa para assistir e tirar as próprias conclusões e deixar elas aqui em baixo na aba de comentários. Vamos debater Matrix.

– Gabriel Bezerra e Tiago Sampaio.

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