Star Wars | O potencial desperdiçado de Finn

 

"Star Wars", uma das maiores franquias da cultura POP desde 1977, possui um leque extenso de personagens, cada um com seu próprio enredo e a maioria com arcos fechados de desenvolvimento, sejam nos filmes, em animações, em novelizações ou nas novas séries para o Disney+.

"O Despertar da Força" foi o sétimo episódio de Star Wars, lançado em 2015 e o responsável por apresentar a franquia para uma nova geração de espectadores, foi o filme que redefiniu os personagens clássicos da trilogia original e introduziu novos com grande potencial de desenvolvimento.

Finn, Rey e Poe Dameron em imagem promocional de "O Despertar da Força".

O problema é que a nova trilogia não teve um planejamento a ser seguido, e chegou a ser dirigido e escrito por duas pessoas diferentes, com visões totalmente conflitantes sobre a franquia, o que culminou no não aproveitamento do potencial de nenhum dos novos personagens.

Poe Dameron, interpretado por Oscar Isaac, foi o personagem que menos sofreu com as inconsistências de roteiro causadas por J.J Abrams (que dirigiu os episódios VII e IX) e Rian Johnson (que dirigiu o episódio VIII), tendo sido afetado apenas em "A Ascensão Skywalker", onde a revelação do passado "sombrio" do personagem contradiz o que havia sido estabelecido nos quadrinhos anteriormente.

Rey Skywalker, a protagonista da trilogia interpretada por Daisy Ridley, não foi muito bem recebida pelos fãs antigos da saga, que não ficaram satisfeitos com a verdadeira origem da personagem e de sua resolução no episódio IX, "A Ascensão Skywalker".

Mas, com certeza, o personagem mais injustiçado, não só da trilogia, mas da franquia como um todo, é Finn, interpretado por John Boyega.

Finn (John Boyega) em "O Despertar da Força" 

Um Stormtrooper a serviço da Primeira Ordem, o personagem foi treinado desde a infância para servir a restauração do Império galático.

Sem nome, apenas um número de identificação, FN-2187 deserdou da Primeira Ordem para se juntar à Resistência como um herói da Nova República.

FN-2187

Na época, era a história mais inovadora para um personagem de Star Wars, além do fato de, pela primeira vez, um personagem negro estar em um papel de destaque na franquia.

Diversas vezes, o filme joga indícios de que FN-2187, agora batizado de Finn, era sensível à força:

No início do filme, Kylo Ren sente o conflito de Finn quando o mesmo ainda era um Stormtrooper em Jakku, e mais pra frente, Finn sente o tiro na base Starkiller sem sequer estar olhando.

Kylo Ren sente o conflito de FN-2187 

No episódio VIII, "Os Últimos Jedi", Finn foi deixado de escanteio, e até possui um plot, mas que sequer faria falta se não estivesse no filme. Felizmente, Rey possui um ótimo e satisfatório desenvolvimento neste filme (tudo para ser descartado no episódio IX por Abrams, mas isso é assunto pra outro texto), mas Finn, aquele que era um dos pontos mais altos em narrativa no Episódio VII, se tornou o mais baixo.

O personagem até teve uma evolução e um aprendizado nesse filme após sua jornada com Rose Tico (Kelly Marie Tran), mas a conexão de Finn com a força é totalmente ignorada, sem haver um único momento de sensibilidade do personagem como no filme anterior.

O filme também tenta fechar o arco do personagem com a "Capitã Phasma", personagem introduzida no Episódio VII, mas só descarta mais uma personagem com muito potencial.

Finn vs Phasma

Por fim, no episódio IX, o tão odiado fim da saga Skywalker, Finn mais uma vez teve seu papel reduzido, tendo virado até piada entre os fãs por ter sido retratado como o "chaveirinho" de Rey.

Finn passa o filme inteiro tentando contar um segredo para a personagem, mas parece que isso é totalmente esquecido ao fim do filme e ele sequer toca no assunto, o que deu a entender que ele queria apenas expressar sentimentos por ela.

Felizmente, a Novelização oficial – e canônica – de "A Ascensão Skywalker sugere que o que Finn queria confessar era que sim, ele tinha afinidade com a Força (e que graças à ela que Finn pode resistir ao condicionamento da Primeira Ordem)!

E assim como o episódio VII, o filme mostra, mesmo que muito sutilmente, a sensibilidade de Finn à Força: Ele sente a chegada de Kylo Ren no deserto de Pasaana.

Finn em Pasaana

A verdade é que o potencial não só de Finn, mas de toda a trilogia sequel, infelizmente, foi desperdiçada por falta de planejamento e organização do que era prometido pra ser a culminação da franquia.

A troca de diretores e roteiristas afetou muito a forma que a história desenrolou, e fez com que o personagem mais original em anos de Star Wars, terminasse com um arco inconclusivo.

Há esperanças de a história de Finn ser continuada, visto que a franquia costuma usar outras midías para continuar expandindo o umiverso e desenvolver personagens sem muito foco nos filmes. Seja em uma série, um quadrinho ou livro, é questão de tempo até os personagens da trilogia sequel serem revisitados e continuados, basta esperar.

– Tiago Sampaio