Filme de Super-Herói, Homenagem Póstuma e Intercâmbio Cultural | Wakanda Para Sempre (SEM SPOILERS)
Pantera Negra: Wakanda Para Sempre finalmente chegou aos cinemas, trazendo consigo o fim da Fase 4 do Universo Cinematográfico da Marvel. Essa última leva de filmes e séries que começou em 2021 com WandaVision focou em introduzir novos personagens e definir o rumo dos heróis que sobraram após Vingadores: Ultimato, e a sequência do filme do Pantera Negra não tem uma proposta diferente disso.
Antes de começarmos a resenha do filme, já te tranquilizo informando que esse texto é completamente SEM SPOILERS, mas é recomendável evitar a leitura caso deseje preservar 100% sua experiência.
Com o infeliz falecimento de Chadwick Boseman em 2020, a produção do 2° filme do Pantera Negra foi inteiramente reescrita com a intenção de homenagear o ator que consagrou o herói nos cinemas, e a trama que antes mostraria o Rei T'Challa lidando com as consequências do estalo de Thanos em Wakanda se tornou a passagem de manto honrosa chamada de Wakanda Para Sempre.
O filme tem uma carga emocional IMENSA e não faz cerimônia alguma para dizer: T'Challa está morto. O filme também não faz distinção do personagem ao ator quando se trata em falar da perda, e evita ao máximo dar uma razão pra morte do Rei T'Challa. Na realidade acompanhamos a impotência da Princesa Shuri em não conseguir salvar seu irmão e a força da Rainha Ramonda em assumir a maior nação do mundo após perder um filho tão próximo de perder seu marido.
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As homenagens para T'Challa também são para Chadwick Boseman. |
Apesar do luto ser um tema presente por todo o filme, no primeiro ato ele é apresentado ao público de forma que se você se abrir, definitivamente vai sentir a dor dos personagens. Não só dos personagens, a emoção de todos os atores emana de uma forma extremamente pessoal.
É provavelmente um dos filmes mais emocionantes da Marvel, principalmente pra quem é fã que acompanha a franquia.
Shuri é a protagonista dessa vez e embora essa mudança jus à versão coadjuvante/alívio cômico que conhecemos no primeiro filme, sua nova jornada de luto e amadurecimento é suficientemente envolvente e convincente, muito graças à performance de Letitia Wright.
Além da carga emocional, tem também a carga CULTURAL que a trama carrega. O primeiro filme do Pantera Negra já foi um marco para o gênero de super-heróis trazendo muito da cultura africana em visuais, costumes e dialetos utilizados, mas Wakanda Para Sempre vai ainda mais além apresentando a cultura mesoamericana.
A nação submersa de Talocan nos foi apresentada como a antagonista do reino de Wakanda, e apesar de nos quadrinhos ser conhecida como Atlântida e ser inspirada na mitologia grega, o filme reescreve completamente o reino para adaptar outra cultura antiga e bem menos explorada no audiovisual: os Maias e Astecas. Não só o nome como os costumes e lendas de Talocan são muito presentes principalmente no segundo ato, que foca em apresentar esse novo núcleo. A trama ainda toca rapida e silenciosamente na colonização dos Astecas pelo Império Espanhol que começou em 1519. É bom pontuar que todos os talocanos são interpretados por atores mexicanos.
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Embora a performance case com o personagem, que também é muito bem adaptado das histórias em quadrinhos, apesar de não ter uma motivação 100% exposta até a metade da trama.
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Namor é fortemente baseado em Kukulcán, divindade da mitologia mesoamericana. |
O resto do elenco também é completamente talentoso. Lupita Nyong'o (Nakia), Danai Gurira (Okoye) e Winston Duke (M'Baku) retornam como coadjuvantes pontuais na jornada, mas o destaque vai para Angela Bassett (Rainha Ramonda) que protagonizam fortes cenas junto com Letitia Wright. Arrisco até dizer que uma nomeação no Oscar para qualquer uma das duas não é exagero algum.
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Rainha Ramonda. |
Dominique Thorne é outra novidade introduzida no filme como a personagem que é ao mesmo tempo um alívio cômico e a chave do principal confronto do filme, Riri Williams.
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Riri e sua armadura baseada no Homem de Ferro. |
Adicionando ao intercâmbio cultural está a lindíssima fotografia do filme, que tem ainda mais identidade do que seu antecessor em 2018.
Ryan Coogler mostra que tem tudo o que é necessário pra continuar à frente da franquia e mostra, assim como Chloé Zhao (Eternos) e Sam Raimi (Doutor Estranho no Multiverso da Loucura), a importância de deixar um diretor ditar o visual de um filme.
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O nascimento de Namor. |
Não só com diretor bom se faz um bom filme, Ludwig Göransson está de volta como o compositor da trilha sonora do filme, que resgata os principais temas do primeiro filme e cria novos que entregam exatamente a atmosfera necessária pra sentir as intenções das cenas. Até a ausência de música é usada de forma magistral no longa.
Assim como em 2018 para o primeiro filme e em 2021 para Shang Chi e a Lenda dos Dez Anéis, a Marvel produziu um álbum com músicas de diferentes artistas de pop e rap pra Wakanda Para Sempre. Além de Lift Me Up, da Rihanna e da Tems, diversos outros artistas afroamericanos e latinos marcam presença. O álbum também faz um intercâmbio cultural, tendo músicas em inglês, espanhol e até no dialeto maia (que é falado com frequência no filme).
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Canções do álbum oficial inspirado no filme. |
O filme não redefine nenhum conceito no Universo Cinematográfico da Marvel ou apresenta ameaças mirabolantes pra serem enfrentadas pelos Vingadores no futuro. Na verdade ele é bem contido no universo de Wakanda e até tem surpresas, mas nada que fuja da proposta da trama. Até a única cena pós créditos é acima de tudo uma homenagem e um encerramento ao papel do Chadwick Boseman do que uma preparação para o futuro.
Claro, pra quem não se importa com outras culturas e com protagonismo feminino, o filme provavelmente não é essa maravilha, já que ele só se veste como um filme de super-herói em seu terceiro ato. Mas pra quem procura um filme rico emocional e culturalmente dentro do gênero de super-heróis, Wakanda Para Sempre é um prato cheio e definitivamente vale a pena a experiência.
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A nova Pantera Negra contra Namor. |
Pantera Negra: Wakanda Para Sempre – ★★★★ (4/5)
– Tiago Sampaio (@tiagosamps)
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