Revisitando a Continuidade Musical do UCM | Fase 4

 

Já faz mais de um ano desde da última vez que falei das trilhas da Marvel aqui, da última vez cobri toda a história do UCM até What If...? onde Laura Karpman fez história reprisando diversos temas na série. No dia seguinte que o texto foi postado, James Gunn anunciou que Tyler Bates não retornaria para a continuação de Guardiões da Galáxia e quem o substituiria seria John Murphy, que trabalhou com Gunn em O Esquadrão Suícida. Desde então 12 projetos foram lançados, encerrando a fase 4 com o especial de festas de Guardiões, a primeira trilha de John Murphy com a equipe...

Shang-Chi | Eternos | Gavião Arqueiro | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa | Cavaleiro da Lua | Doutor Estranho no Multiverso da Loucura | Ms Marvel | Thor Amor e Trovão | Mulher-Hulk | Lobisomem na Noite | Pantera Negra Wakanda para Sempre | Especial de Festas

Então vamos lá. Eu inexplicavelmente não falei de Shang-Chi no outro texto, vamos começar com ele. Não há continuidade para falar a respeito, porém há novos temas para inserir no catálogo. O tema de Shang-Chi por Joel P West, na verdade é uma combinação de elementos dos temas dos pais dele, lindo simbolismo e complementa a história do filme perfeitamente, temos 8 notas repetindo e 6 notas nos metais graves, esse é o motif de Wenwu, também 4 notas em loop que levam as 6 de Wenwu que se não me engano são uma ideia para os anéis/corrupção dos anéis. E no motif para a Ying é bem mais melódico e desenvolvido, as 8 notas repetentes retornam, e no mesmo intrumento 11 notas rápidas, com a melodia principal nas cordas com 15 notas

E então, pah, as 11 notas rápidas da mãe, as 6 notas do pai, a melodia de 15 notas da mãe se torna a seção B do tema de Shang que leva as 8 notas repetentes de Wenwu e intercalam com a agora seção B (15 notas da mãe) e A (6 notas do pai) terminando com as 11 notas rápidas em profusão. Épico, emocional, nada igual. Única razão pela qual eu fico feliz com a morte de Wenwu, se ele ainda vivesse esse tema ficaria bem confuso. Segunda temporada de What If...? terá um episódio sobre Wenwu, ansioso pra saber como Laura usará o tema.
Agora realmente vamos para o pós-What If...?. Eternos também não tem continuidade necessária, mas Ramin Djawadi nos forneceu dois temas importantes. O da equipe e o das memórias. O primeiro não é exatamente um tema que me faz pensar "Hum... Eternos", na verdade me faz lembrar qualquer outra coisa que Djawadi já trabalhou (ou Lorne Balfe em His Dark Materials), porém bom pra ele retornar a Marvel, já que ele que começou tudo. O segundo é bem melódico, geralmente nas cordas ou nas vozes, que permeiam a trilha, seja uma vocal solo (sabes que te amo) ou um coral inteiro.
Agora chegamos realmente no assunto. Gavião Arqueiro retorna com Christophe Beck e seu assistente, agora promovido a aparecer nos créditos, Michael Paraskevas. Eu amo Beck tanto quanto qualquer um, o homem é responsável por manter o tema de Sam Wilson vivo em Homem-Formiga, mas quanto aos seus novos temas para essa série... bem, se eu ouvir eu vou lembrar, mas não me peça pra lembrar de cabeça. Enfim, temos o primeiro tema para Clint Barton (coitado) e um para Kate Bishop. Como a série se passa no natal, a trilha está cheia dos clichês musicais que são a maior vibe e muito legais, além de diversos trocadilhos nos nomes das faixas.
Também temos um tema para Maya/Echo, que vai ganhar uma série solo, vamos ver quem vai compor e se vão mantê-lo. Os temas entram em embate na faixa Dustup on a Housetop, de forma maestral e... não creio... Even for You/Not Good de Alan Silvestri? O tema de Yelena de Lorne Balfe?! É isso mesmo gente, para máxima emoção Beck e Paraskevas resgataram motifs e temas, é super eficaz!
E não foi só uma vez não, nem somente esses, além de algumas clássicas natalinas, uma variação do motif de Wilson Fisk por John Paesano foi usado e o tema de Natasha por Lorne Balfe, realmente uma maravilha, e fizeram das cenas algo realmente emocionante e impactante. E parabéns a Lorne Balfe, eu só tinha ouvido a trilha no filme mesmo, mas automaticamente lembrei que aquele era o tema da Yelena. Beck realmente valoriza a continuidade e só posso agredecê-lo por fazer a série melhor com isso.
Da última vez, minha preocupação com o multiverso era o fato de não reprisarem os temas passados de personagens, especificamente com Sem Volta pra Casa e Multiverso da Loucura. Sobre o primeiro, foi a coisa mais doida que já presenciei a respeito da trilha, alguém vazou o álbum semanas antes da estreia revelando a famigerada Faixa 19 e outras. Ora veja, nem todas as reprises foram para o álbum, o tema principal do Aranha do Tobey não entrou, a versão completa do tema do Duende também não, mas o importante é que estão no filme, e o álbum nos agraciou com todas as menções ao tema do Doutor Octopus, a do tema da Responsbilidade/Peter Parker do Tobey por Danny Elfman e o tema do Espetacular Homem-Aranha do falecido James Horner, além de uma breve do tema do Homem Areia de Christopher Young
Poderiam ter sido mais utilizados? Definitivamente. Poderiam ter sido mais incorporados e brincado mais com o tema do Aranha do próprio Michael Giacchino? Acho que deveria. A única faixa que faz isso, e quase não faz, é Otto Trouble... Fazer o que. Pelo menos ele fez isso com o tema do Doutor Estranho e do Aranha na ótima Sling vs Bling. Giacchino também criou um tema para o sinistro grupo de cinco pessoas não relacionadas, um quase tema de responsabilidade e um motif para os Aranhas que foi muito pouco utilizado.
O outro filme que tinha preocupações, Multiverso da Loucura, também não melhorou muito as coisas. Pra quem leu minhas reviews de Era de Ultron (não recomendaria lê-las agora) sabe que Danny Elfman foi contratado pra basicamente dar um patch apagando todas as menções do novo tema de Brian Tyler, ele então criou um novo arranjo do icônico tema de Alan Silvestri (versão que o adm adora), então havia expectativas de duas coisas quando foi anunciado que Elfman estava em Multiverso da Loucura, que ele faria o mesmo com o tema do Doutor Estranho de Giacchino e que o tema da Wanda de Era de Ultron retornaria. Essas duas coisas se tornaram realidade... mas não exatamente como esperávamos. Primeiramente, lá se vai o cravo (harpischord) que Giacchino, Mothersbaugh, Silvestri e Karpman usaram como o som do Doutor Estranho e associados desde que o personagem apareceu em 2016. Segundo que o tema toca somente umas 4 vezes, com o novo tema tomando conta a partir da metade do filme, basicamente, Elfman deu uma de Tyler em Era de Ultron, reconhecendo o tema original, mas seguindo com o próprio.
Antes de ir pra Wanda, já que as faixas acima introduzem três novas ideias, a primeira sendo o tema de America Chavez (final de On the Run), o segundo um pequeno motif para Wong (1:07 de Gargantos), que não tem cara de quem vai aparecer muito no futuro, e terceiro, o tema principal do filme (logo depois do motif de Wong). Vamos para Wanda agora, Beck resolveu não usar o tema do Elfman e Elfman resolveu não usar o tema de Beck, então voltamos ao tema de Era de Ultron (1:42 de Illuminati vs Wanda), em uma versão sinistra e as vezes com um final diferente, é quase irreconhecível pelo arranjo (o que serve pra Wanda do filme). E falando no tal dos Illuminati, com eles vem duas novas reprises, o tema do Capitão América de Alan Silvestri e o da série animada dos X-Men dos anos 90 de Haim Saban e Shuki Levy. Por algum motivo o da Capitã Marvel não é usada apesar de Pinar Toprak ter sido assistente de Danny Elfman no passado.
No fim, podia ser pior. Cavaleiro da Lua é outra que não tinha necessidade de continuidade musical, também não havia necessidade de contratar um compositor egípcio, mas adorei e quero Hesham Nazih e o tema em tudo quanto é Cavaleiro da Lua agora. 3 temas destaque, primeiro obviamente, o do Cavaleiro, o coro proeminentemente com cordas e metais acompanhando, extremamente grudenta, essas vozes vão ficar na sua cabeça por um bom tempo. A única coisa é que a gravação da trilha acaba sufocando tudo, só ouvir Duel of Fates pra notar a diferença da gravação de uma música com coro proeminente, de resto é uma das melhores trilhas recentes da Marvel.
O próximo é o do vilão Ethan Hawke, perdão, Arthur Harrow, um tema simples, tocando ou bombasticamente ou bem baixo quase imperceptível, mas ainda sinistro. Ainda nessa faixa abaixo o terceiro tema, farinha do mesmo saco do tema do Cavaleiro, o de Lyla, com uma vocal solo. Os três entram em embate na faixa New Skillsets
Naturalmente, depois de um longo mistério sobre quem iria compor para Ms. Marvel, achei que seria um(a) compositor(a) do Paquistão, mas não, reentre Laura Karpman. Os quadrinhos da Kamala são os únicos depois de Turma da Mônica Jovem que esse ser que vos fala acompanhou, e o tema é perfeito, independentemente das mudanças que o UCM implementou. 12 notas divididas em seções de 3, a primeira indo pra cima, a segunda pra baixo, e as duas últimas pra cima. Sendo tocada nos metais ou em instrumentos étnicos. A trilha em si usa diversos eletrônicos também, indo para uma esfera sonora diferente do típico UCM. 3 temas foram mencionados, mas só um entrou para o álbum, o dos Vingadores. Os outros dois são o da Capitã Marvel e o dos X-Men dos anos 90. Com provavelmente uma espiadinha do novo tema para Marvels.
Então, até agora tudo foi bem, a continuidade não é exatamente uma Brastemp, porém tá firme. No entanto Thor: Amor e Trovão chegou... que chutou o balde e criou novos temas para todo mundo, inclusive um 4º para Thor, depois de Ragnarok que, apesar de também criar um novo tema, referênciou outros do passado de maneira hilária e emocionante... Bem não temos nada disso aqui, sai Mark Mothersbaugh e entra Giacchino e sua assistente Nami Melumad, também promovida aos créditos principais. Não quero mais falar a respeito, aqui está o novo tema.
Continuando em projetos odiados, Mulher-Hulk entra em cena, e apesar de muito ser dito sobre a série (eu gostei), não há muita discussão a respeito da trilha... DEVE SER PORQUE SEMPRE QUE TEM UMA MULHER PROTAGONISTA AGORA, POR ALGUM MOTIVO AO INVÉS DE TRILHA USAM MÚSICAS MINANDO QUALQUER CHANCE DO COMPOSITOR BLIHAR. Tô exagerando? Batwoman, Kung Fu, Naomi, Mulher-Hulk... Sabe o que todas essas séries têm em comum? Exato, compositoras. Ao invés de dar o espaço para elas brilharem (em uma indústria que minou as oportunidades para elas por décadas), músicas são colocadas no lugar, de qualquer forma, vamos falar sobre o que está aqui. Amie Doherty é responsável pela trilha, e apesar de, por algum outro motivo, a trilha de O Incrível Hulk aparentemente ser intocável, ela conseguiu (ao menos para mim) ligar o seu tema para Jen Walters e o de Craig Armstrong.
Eu sei o que está pensando... não tem nada parecido! Bem, para mim, a orquestração dos metais e cordas, e a batida eletrônica são muito parecidas. O tema de Doherty é usado de duas formas, nas cordas sutilmente, e nos metais bombasticamente, pelas razões que já falei acima, quase não ouvimos a versão bombástica na série, e assim como Ms. Marvel, a trilha tem diversos elementos eletrônicos e o tema é diversas vezes tocado nesses eletrônicos, pra falar a verdade ele é tocado de diversas maneiras diferentes, é bem versátil. Bem, e a respeito da continuidade? Estamos bem. Sobre os temas de Incrível Hulk? Estamos mal. O tema dos Vingadores está aqui (a única certeza do universo a esse ponto), e um "novo" motif para Wong, mais ou menos novo porquê está bem na veia do que Elfman compôs, porém o cravo retorna, obrigado Doherty! E o que Beck começou Doherty continua reprisando o tema do Demolidor de Paesano (e seu compositor adicional Braden Kimball, que foi creditado na faixa, o quão legal é isso?!).
Giachinno: De Compositor a Diretor. Mais pra compositor e diretor, Lobisomem na Noite foi o especial que Feige deu de presente para o homem, e como a maioria dos projetos aqui, não precisou de continuidade musical, mas permitiu Giacchino retornar ao som gótico de Jurassic World: Reino Ameaçado, que particularmente é a minha trilha favorita da trilogia, então mais desse som me foi ótimo e o tema é ótimo também.
Chegamos ao último filme da Fase 4, Wakanda Para Sempre. Ludwig Göransson retorna, também se não retornasse... Sua trilha para Pantera Negra o faturou um Oscar de melhor trilha, o primeiro para um filme da Marvel, e como no primeiro filme, Ludwig colaborou com diversos artistas para o álbum de músicas de e inspiradas no filme, dessa vez, as versões dessas músicas utilizadas no filme com a mão de Göransson foram incluídas no álbum. O filme é sobre luto e a trilha reflete muito isso, uma faixa do primeiro filme tem uma enorme siginificância neste, Ancestral Plane.
Os diversos motifs nessa faixa são utilizados por todo filme simbolizando a perda (fim de Imperius Rex), o peso da perda (fim de Nyana Wam) e a aceitação da perda (Lift Me Up) de T'Challa. Assim como no primeiro filme, Ludwig viajou para México e Nigéria, a fim de descobrir um novo som para o atual estado emocional de Wakanda e o mundo sonoro de Namor e Talokan, o resultado, junto com elementos já estabelecidos no primeiro filme, como o motif das Dora Milaje, é uma trilha extremamente diversa e linda culturalmente. Além do que foi adicionado, há também o que foi retirado, os tambores falantes e o tema de T'Challa está ausente do filme exceto no fim do filme (T'Challa) e em momentos específicos com elementos do tema inseridos com o novo para Wakanda (a versão orquestral, Welcome Home) e Shuri (a versão eletrônica, Wakanda Forever), essa última transitando do tema de 6 notas de T'Challa para os eletrônicos de Shuri e a batida e metais do tema original por baixo, mas não exatamente iguais. Infelizmente não encontrei as diferenças na letra entre Wakanda, do primeiro filme e Welcome Home, sei que elas existem, sei que tem um propósito e devem ser demais, mas infelizmente não achei.
Temos também um motif para o luto e raiva de Shuri em He Wasn't There, ligado ao novo tema, para uma vocal solo. Ouvimos o resultado da pesquisa de Ludwig em Namor e Yucatán, não são exatamente melodias que dá pra sair assobiando, mas esse não é o propósito de um tema. Todos os elementos, temas e sons entram em embate em Yibambe!, criando uma sopa cultural muito interessante de se ouvir. Mas não tivemos o tema dos X-Men dos anos 90 quando Namor disse "Mutante", então 0/10, trilha péssima. Brincadeiras a parte, outra ótima trilha de Ludwig continuando do primeiro filme e acrescentando muita coisa nova, ele como todo mundo da produção se comprometeu 100% e isso é evidente ouvindo a trilha.
O próximo, e último, é o Especial de Festas de Guardiões da Galáxia... O tema de Tyler Bates era necessário? Há um argumento a ser feito a respeito disso, mas a verdade é que não. O tema tem mais ligação com Quill e os Guardiões e o especial foca em Mantis e Drax, não é como John Murphy tivesse criado outro tema para o grupo... O Esquadrão Suicida também não teve um tema específico, se não me engano, posso estar lembrando errado. È uma trilha bem atmosférica, mas podia pelo menos usar o tema de Bates no final... sem muitas esperanças para Guardiões Vol 3. PS: O assistente de Murphy se chama Tyler Barton...
Então é isso, no fim as coisas não foram tão ruins, Beck recebe a medalha desse texto e o segundo lugar da Fase 4 como compositor que mais se importa com a continuidade musical, e ele estará de volta para Quantumania, e Karpman retornará em The Marvels, estou ansioso para ambas as trilhas. Muitos novos temas foram criados nessa fase, e se não queriam que Silvestri brincasse com o catálogo em Guerra Infinita e Ultimato... Não estou muito esperançoso também para Dinastia Kang e Guerra Secreta, que pelo menos o tema de Holt para Kang sobreviva (vai que é tua Beck). Esperançoso estou para Invasão Secreta, Echo e Demolidor, dependendo dos compositores. Se seguirmos por esse caminho, talvez a continuidade esteja em perigo, mas teremos muita música de qualidade no caminho.

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