Nem todo Fim é trágico. | Guardiões da Galáxia Vol. 3
Nessa semana, dia 05 de maio, chegou aos cinemas Guardiões da Galáxia Volume 3, o último filme da equipe de heróis cósmicos da Marvel. A saga que começou em 2014 com um grupo de heróis de "categoria C" dos quadrinhos termina com personagens que hoje são consagrados pelo Universo Cinematográfico da Marvel.
Como de costume, essa review vai conter um ou outro detalhe da trama, ou seja, mesmo não tendo spoilers grandes, eu recomendo que não leia caso queira preservar a experiência do filme, volta depois. Além disso, dessa vez a review vai ser um pouco mais pessoal do que as outras, pra externar propriamente toda a emoção que esse filme gerou vos fala (que inclusive, se você não me conhece, fica à vontade: @tiago.samps).
Bom, sobre o filme, os Guardiões da Galáxia dispensam apresentações. Pelo menos atualmente. Peter Quill, Gamora, Drax, Groot e Gamora são personagens que temos acompanhado ao longo dos últimos 10 anos, e que têm os melhores desenvolvimentos dentro do UCM. Com um filme de origem que os apresenta como um grupo desajustado de criminosos espaciais, a franquia sempre focou no tema família.
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Guardiões da Galáxia (2014) |
Como o próprio diretor James Gunn comentou na entrevista pra Fandango: "Eu penso no Vol. 1 como sendo [um filme] sobre a mãe, o Vol. 2 sobre o pai, e o Vol. 3 sobre si mesmo, e se resolver com cada uma destas situações."
E sim, o Volume 3 é sobre cada um dos guardiões e suas jornadas como indivíduos. Enquanto nos dois primeiros filmes focamos no Senhor das Estrelas, aqui todo mundo brilha e te emociona um pouco, com um óbvio destaque ao Rocket, quem faz a trama girar.
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Rocket assume o papel de destaque no Volume 3 |
Sem entregar muito, mas o filme começa com os Soberanos (a raça alienígena dourada que aparece no Volume 2) tentando sequestrar o Rocket, o que acaba o deixando ferido, e os Guardiões precisam vasculhar o passado do personagem pra descobrir uma forma de salvar o amigo. O filme não falha em mostrar o desespero de todos os Guardiões na jornada, e como falhar não é uma opção. A forma que cada um lida com a possibilidade de perder um membro da família, que casa perfeitamente com as personalidades dos personagens e com o tom cômico da trilogia mesmo sem perder o peso dramático de toda a situação (diferente de Thor: Amor e Trovão, que falha em equilibrar o drama do arco da Jane Foster com a proposta de comédia romântica).
O ritmo do filme não é dos mais constantes, e as vezes a forma que ele alterna entre a jornada dos Guardiões e o passado do Rocket pode te tirar dos momentos de forma brusca, mas ele vai abrindo caminho pra um terceiro ato que conclui bem ambos os núcleos.
Depois de 4 filmes (contando com Vingadores: Guerra Infinita e com o Especial de Natal dos Guardiões da Galáxia), o Senhor das Estrelas (Chris Pratt) finalmente se afasta um pouco dos holofotes, mas é perceptível o amadurecimento de Peter Quill como líder e como amigo.
Sobre a Gamora (Zoe Saldana), essa tinha o potencial de ser a pior parte do filme. Não por causa da personagem, que é a favorita do público desde o início da franquia, mas por causa de como o seu arco é fácil de ser mal escrito. A situação da personagem se assemelha a do Loki, que também morreu em Guerra Infinita e foi "substituído" por uma versão retirada do passado. Enquanto a série solo do personagem lida com isso de forma burra, esse filme faz questão de lembrar a si mesmo e ao público que essa Gamora NÃO é a mesma que morreu em 2018, e que são, de certa forma, duas entidades diferentes, com arcos diferentes. O filme não força a personagem a se tornar o que a versão anterior era (cof cof Loki cof cof), e aproveita pra explorar um lado da Gamora que a gente nunca viu antes.
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A "nova" Gamora |
Outro personagem que o público também costuma confundir é o Groot (que pasme, é interpretado pelo Vin Diesel), que também tem duas versões: o bobão, que morre no final do primeiro filme, e o seu filho, que nasce daquele galho que os Guardiões plantam (o famoso Baby Groot). Esse novo Groot é uma versão bem mais inteligente e forte, que se você prestar atenção tem uma personalidade bem diferente da de seu pai.
É difícil falar dos outros personagens sem entregar muito de como eles são desenvolvidos nesse filme, mas um destaque precisa ser dado pra Nebulosa, que tem um dos (se não o melhor) desenvolvimento de personagem dentro do UCM mesmo sendo uma coadjuvante nos filmes que aparece. De vilã, irmã ressentida, pra heroína mais exemplar da equipe, as decisões que a personagem toma até o fim do filme fecham de vez o ciclo que seu pai, Thanos, começou. É praticamente impossível não se emocionar caso você se importe e se ligue no desenvolvimento dos personagens envolvidos na saga.
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Nebulosa e seu arco de libertação |
O filme também tem fortes alegorias bíblicas (à arca de Noé, por exemplo), e tem um vilão que brinca com a ideia de "se não existe um Deus, então eu vou assumir esse papel". Mas é difícil falar dessas alegorias sem entregar um pouco da trama, mas não são o que fazem o filme. Quem não entender não vai estar perdendo muita coisa, só umas referências (e referências bíblicas são bem comuns não só em filmes de herói, mas no cinema em geral).
E falando em vilão, QUE VILÃO, MEUS AMIGOS. O conceito de não prometer nada e entregar tudo está aqui no Alto Revolucionário. Com um visual – bem diferente dos quadrinhos – que causa um estranhamento (que é proposital) e a personalidade de um verdadeiro psicopata (com direito à falsa simpatia, promessas falsas e assassinatos em nome de um bem maior), o personagem é interpretado com maestria por Chukwudi Iwuji e é uma pena que provavelmente não vamos ver essa ameaça em um filme tão cedo...
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O Alto Revolucionário |
Indo pra parte mais técnica do filme, a trilha sonora se mantém no mesmo nível do Vol. 2, mas aqui as músicas pop são usadas com muito mais maestria porque não são só colocadas nas cenas, elas canonicamente fazem parte dela através da caixa de som do Peter Quill. Se a música tá tocando na cena, ela provavelmente tá no fone do Peter ou na caixa de som da nave dos Guardiões, e o filme faz questão de mostrar esse detalhe toda vez.
Pra quem se importa com CGI (a computação gráfica), não tem muito o que reclamar. O filme tá muito bem polido nesse aspecto, tanto nos cenários quanto nos alienígenas e efeitos de armas e poderes, mas, pessoalmente, eu não acho que seja mais bonito que os dois primeiros filmes no quesito fotografia. Mas é indiscutivelmente melhor do que tudo que foi feito nos filmes e séries da Fase 4.
Mas como não só de CGI se faz um filme, o cabelo e maquiagem merecem MUITO um destaque. Tem muitos personagens que são caracterizados só com maquiagem, mas a gente nem precisa ir longe pra falar sobre cabelo, por exemplo. A nova peruca da Zoe Saldana pra Gamora é infinitamente mais bonita do que qualquer uma que ela usou nos outros filmes.
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A caracterização dos habitantes da "Contra-Terra" |
No fim, são detalhes que o público casual não se liga muito, mas são aspectos que afetam bastante na forma que a história é contada e recebida, principalmente dentro da sala de cinema.
Agora, se você planeja ver esse filme com uma criança, esquece. A não ser que você queira deixar alguns traumas com ela, aí tudo bem. Porque nem eu processei tudo ainda. O final é feliz e colorido, mas pra chegar lá a gente sofre MUITO. O filme também é um pouco mais violento do que os dois primeiros, mas nada gráfico que crianças não podem assistir, apenas um amadurecimento natural de uma trilogia que cresceu com o público.
Ó, dá uma segurada aí. Vou falar sobre o que eu achei do final do filme! Então não diz que eu não avisei e mete o pé logo se você não quiser saber se alguém morre. Volta depois, o artigo ainda vai estar aqui.
Bom, pela primeira vez em um filme dos Guardiões da Galáxia, não temos morte alguma envolvendo os protagonistas. E eu sei, quem já tá acostumado a ler minhas reviews sabe que eu chamo filmes que não matam nenhum personagem de covardes, mas esse é um caso raro de filme que nenhum personagem precisava morrer pra carga dramática existir. Ela tava lá com todo o peso do passado do Rocket e com as dificuldades que os heróis passaram durante a jornada. Matar qualquer um deles em qualquer momento do filme seria... frustrante, principalmente quando passamos todos os filmes anteriores chorando por alguém (Groot, Yondu, Gamora...). Terminar o filme (e consequentemente a saga) dando um final feliz pra TODOS os personagens dá um sentimento não só de alívio, mas de preenchimento. De que não há mais história pra contar. Foi uma forma perfeita de fechar uma história, e James Gunn provou, de novo, que é incapaz de escrever arcos ruins.
Apesar dos Guardiões da Galáxia como conhecemos ter chegado ao fim, o filme abre espaço pro futuro da franquia com uma nova formação da equipe que pode não ocupar os holofotes com um filme tão cedo, mas pode aparecer em outros projetos da Marvel Studios no futuro.
VEREDITO: ★★★★⅕
Eu estava esperando assistir o filme pra vir ler, mas não aguentei esperar tanto. É muito bom ter a confiança redobrada de que o ingresso vai valer a pena.
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