Homem-Aranha: Através do Pertencimento | Review Que Ninguém Pediu

Nosso aguardadíssimo Homem-Aranha: Através do Aranhaverso finalmente estreou, e se você já acompanha o blog há um tempo, sabe que nós (principalmente esse que vos fala, @tiagosamps) somos apaixonados por Homem-Aranha no Aranhaverso. Principalmente pela genialidade musical presente no filme. Não é atoa que ganhou o Oscar de melhor animação em 2019, desbancando a Pixar que vinha forte com Os Incríveis 2. Desde então foram anos esperando pela sequência, que depois de ter sido adiada algumas vezes, finalmente está entre nós. E a espera valeu a pena.

E relaxa, não vai ter spoiler aqui, mas obviamente vou comentar aspectos da trama. Caso queira assistir ao filme com a experiência intacta, volta aqui depois.

O novo filme se passa 1 ano depois do primeiro, mas narrativamente começa exatamente de onde o primeiro parou: Miles Morales é o único Homem-Aranha do Brooklyn (pelo menos no seu universo), e ele tá muito bom no que faz. Exceto que o peso de esconder o segredo dos seus pais fica cada vez mais difícil. Inclusive, essa relação familiar é o principal motor do filme, onde vemos a conexão, a amizade e a confiança que Rio e Jeff Morales tentam construir com o menino Miles, mesmo sabendo que ele esconde alguma coisa.

Rio Morales e Jeff Davis

O filme coloca Miles em uma jornada de pertencimento, onde ele tenta se encaixar em um ciclo onde achava que seria mais feliz. Nessa busca, o personagem consequentemente busca independência, e erroneamente atrela esse conceito à segregação – nesse caso, desgarrar de seus pais. Não é o caminho, mas é exatamente o que todo adolescente pensa em algum momento da vida. Eventualmente Miles se decepciona com o que ele achou que se identificava e aonde supostamente pertencia, e é nesse ponto do filme que a relação de Miles com sua família se torna o maior elo de força.

Gwen apresenta a Sociedade Aranha ao Miles

O filme também toca sutilmente no tema da paternidade. O querido Peter B. Parker agora tem uma filha, que satisfatoriamente é a entrega do desenvolvimento que o personagem teve durante o primeiro filme, e temos o principal antagonista, Miguel O'Hara, que também é movido pelo amor à sua filha. No caso, nos seus erros como pai.

E falando nele, passei o filme inteiro tentando encontrar uma forma de descrever o Homem-Aranha de 2099 sem chamar o indivíduo de arrombado. Mas não me leve a mal, o personagem é imponente e impiedoso, e apesar de assumir o papel de antagonista, nem de perto é um vilão. Seus objetivos ainda são meio núbios mesmo no fim do filme, mas é claro que suas intenções não são ruins. É um personagem que vale a pena ficar de olho pra saber como se desenvolve até o fim da trilogia.

Miguel O'Hara, o Homem-Aranha 2099

Sim, trilogia, porque o filme além de já ter sequência confirmada pro próximo ano, termina com um gancho alá Vingadores: Guerra Infinita. O final deixa um gosto IMENSO de quero mais, principalmente porque as 2 horas de filme passam voando. O ritmo da trama é dinâmico e em nenhum momento ele desacelera, mesmo quando está apresentando novos conceitos, sua escala está sempre em uma crescente.

O filme tem muitas surpresas e referências pra todos os tipos de fãs. Se você só assistiu aos filmes dos Homens-Aranha, tem surpresa pra você. Se você é mais obcecado (como eu), não tem um momento do filme que não tenha um detalhe pra ficar assim:

"Eu entendi a referência"

Mas não só de referência vive o fã. O filme também agrada visualmente, e de uma forma muito mais artística que o primeiro, que se ateve a mostrar só um universo. Aqui na sequência nós conhecemos pelo menos 4 universos diferentes e todos são ÚNICOS visualmente. Não só os universos, mas os próprios Aranhas são ilustrados de forma icônica. Dou destaque pro Spider-Punk, que rouba a cena no curto período que fica em tela. A produção revelou que foram 3 anos pra chegar no resultado final do design de Hobie Brown, mas não consigo pensar em nada mais genial do que uma fanzine ambulante no meio de vários personagens 3D. O personagem alterna entre o preto e branco e o colorido de forma muito dinâmica durante seus movimentos, outro destaque do filme.

Hobie Brown e seu estilo fanzine, muito característico do real movimento punk.

A coreografia, principalmente dos combates, está muito superior à do primeiro filme, e cada Aranha se movimenta de forma, adivinha, única. Sim, eles deram muita identidade pra cada personagem em tela, e não só personalidade comportamental, mas corporal também. A forma que Pavitr Prabhakar (o Homem-Aranha da Índia) balança nas teias é tão original e característico que ofusca até o próprio Miles, que tem ainda mais swag do que antes (até porque, aqui o personagem tem um ano a mais de experiência).

Pavitr Prabhakar e sua movimentação diferenciada

A proposta do filme é ser exatamente como um quadrinho, com quadros, painéis e até balões de observações (que inclusive, são ótimos pra explicar pra um público mais casual certos conceitos sem atrapalhar o ritmo de filme com diálogos expositivos), alá Scott Pilgrim Contra o Mundo. Não que o primeiro filme não tenha essa proposta, mas como em todos os aspectos, aqui é muito superior.

Um quadrinho animado

Sobre a música, o filme usa muito mais a trilha sonora original (a instrumental) do que as canções originais. A trilha instrumental segue o padrão do primeiro filme, mas evolui, inclusive nas músicas que se repetem. "My Name is... Miles Morales", por exemplo, é uma versão melhorada de "Only One Spider-Man" e "Spider-Man Loves You" misturada com "Catch The S Train", todas do primeiro filme. A sequência se inclina muito pro rock, com uma presença muito forte de guitarras e principalmente de baterias (a assinatura oficial da Gwen Aranha na trilha do primeiro filme), que é o instrumento que mais brilha nessa trilha. O Hip-Hop ainda está presente e é protagonista por ser a assinatura de Miles, mas agora divide espaço com o Funk, como na própria "My name is... Miles Morales", que eu já citei.

My Name is... Miles Morales – Daniel Pemberton

Apesar das canções originais não exercerem o mesmo papel que as canções do primeiro filme, onde as músicas participam ativamente da narrativa e funcionam como uma forma alternativa de transmitir o desenvolvimento de Miles como o Homem-Aranha, as novas canções são muito bem encaixadas. Eu diria até que o novo álbum de canções inspiradas no filme, produzido pelo Metro Boomin e com diversos convidados, é melhor que o do primeiro, mas tenho certeza que isso me dá margem pra escrever outro texto focando só nas músicas (de novo rs).

Annihilate – Metro Boomin, Swae Lee, Lil Wayne e Offset.

Ah, e o filme simplesmente não termina, e apesar de boa parte do público da minha sala no cinema ter ficado indignado com isso, o final do filme cresce de uma forma tão natural, com um suspense tão bem construído, introduzindo uma virada tão forte na trama, que ao mesmo tempo que cria uma sensação de ansiedade, a trama se preenche, concluindo alguns arcos pessoais para os personagens, dando a sensação de que, mesmo com as ameaças prometidas pro próximo filme, os personagens estão prontos pra elas.

O Mancha.

Enfim, ASSISTAM. O filme é um supra sumo das animações nos aspectos narrativos e técnicos, é um ótimo entretenimento para a família ao mesmo tempo que é uma experiência cinematográfica completa pra quem curte cinema e filmes do gênero de super-herói.

E a nota final, pela primeira vez aqui no blog, é a máxima, porque esse filme não tem UM defeito pra eu citar pra vocês.

VEREDITO: ★★★★★


Agora é esperar ansiosamente pelo 3° (e provavelmente último) filme do Aranhaverso. Spider-Man: Beyond The Spider-Verse (Homem-Aranha: Além do Aranhaverso, em tradução livre) está marcado pra chegar aos cinemas dia 28 de Março de 2024.


– Tiago Sampaio.

Comentários

Postagens mais visitadas