Tentativas, erros e um custoso acerto | The Flash


Há 10 anos atrás (exatos, contando a partir do lançamento dessa resenha), O Homem de Aço estreava mundialmente nos cinemas lançando o primeiro projeto de universo compartilhado de filmes da DC nos cinemas. Pouco tempo depois, um filme do Flash foi anunciado pra lançar após o primeiro filme da Liga da Justiça. Esse filme teria direção de Rick Famuyiwa (The Mandalorian) e contaria uma história de escopo menor com Barry Allen aprendendo a ser um herói com seu novo amigo Victor Stone, o Ciborgue.

Muito tempo passou, e o filme que hoje lança nos cinemas, 5 anos depois do esperado, tem uma proposta muito maior e ousada, e ao invés de simplesmente integrar um universo compartilhado da DC, encerra ele.

Lembrete: Além da descrição da trama (sinopse) que eu faço, essa review NÃO TEM SPOILERS, mas como sempre eu recomendo que você assista ao filme antes de ler. Fiquem a vontade, o texto é pra vocês.

The Flash acompanha Barry Allen (Ezra Miller) após os eventos de Liga da Justiça (pelo que entendi, a versão do Zack Snyder, lançada em 2020) sendo uma espécie de faxineiro da equipe , limpando a lambança que o Batman (Ben Affleck) deixa no caminho das missões. Mas a trama começa mesmo quando Barry acidentalmente descobre que pode voltar no tempo, e o resto vocês provavelmente já sabem: ele tenta salvar a mãe dele e cria uma nova linha do tempo no processo. Apesar de ser um enredo bastante usado quando se trata do Flash, vide o filme animado 'Flashpoint' e a 3ª temporada da série do Flash, aqui foi onde o conceito foi melhor usado e explicado.

O forte do filme está no arco de ambos os Barry Allen. Inclusive, Ezra Miller merece muitos elogios por interpretar duas versões completamente diferentes do personagem. O filme não precisa mostrar a infância de nenhuma das duas versões pra você sacar que a vida de ambos fez com que eles se tornassem os indivíduos distintos que acompanhamos. Miller mostra um domínio e uma entrega surreal, principalmente levando em consideração que maior parte do filme é o ÚNICO ator em cena, contracenando consigo mesmo.

Barry Allen (Ezra Miller) e Barry Allen (Ezra Miller)

Ambos os Batmen também são pontos fortes nesse filme, e não só porque Ben Affleck e Michael Keaton são ótimos atores, mas porque Andy Muschietti claramente é um diretor que conhece o Homem Morcego, e logo no início do filme vimos um Batman habilidoso, fantasioso, usando tudo que é ferramenta possível no que seria uma simples perseguição de moto na trilogia superestimada do Christopher Nolan.

Batman (Ben Affleck)

Infelizmente, não dá pra elogiar tanto assim Sasha Calle como Supergirl. A atriz é extremamente travada se comparada com os outros heróis em cena. O que é triste, porque eu pessoalmente esperava bastante da personagem. A presença dela é ok, serve ao propósito, e seria injusto reclamar de falta de tempo de tela ou pouco arco de desenvolvimento porque, afinal, é um filme do Flash, e é um ponto positivo personagens que não são do núcleo do velocista não ocuparem seu espaço.

Supergirl (Sasha Calle)

O tempo que os Batmen e a Supergirl (e qualquer outra aparição) não tiveram foi convertido em tempo pro desenvolvimento da trama principal, que não, não é o Multiverso. Barry Allen é um homem repleto de traumas que descobre ter o poder de fazer tudo de novo, e tenta de várias formas fazer com que tudo ocorra de forma "perfeita". Chega a ser irônico um filme que foi feito e refeito várias vezes até chegar nesse (até que satisfatório) resultado falar, justamente, sobre um herói em uma jornada de tentativa e erro.

Voltando pro técnico, o filme brinca perigosamente (e propositalmente, de acordo com o diretor) com o vale da estranheza. Os efeitos especiais dos poderes do Flash, principalmente nas coreografias de luta, estão ótimas. Depois de 9 temporadas de The Flash, ver uma movimentação mais fluida pros velocistas e ataques novos é bem revigorante. Mas o longa insiste em fazer modelos 3D de pessoas reais, e isso não dá muito certo.

Flash faz um mini furacão 

As participações especiais não se limitam apenas ao Batman de 89. O filme tem algumas outras surpresas, mas não espere nada muito grandioso. São aparições bem curtas que funcionam mais como homenagens do que qualquer outra coisa. Agora, quais personagens a DC escolheu homenagear que é... não sei, questionável? Nem Grant Gustin, nem John Wesley Shipp (atores que interpretaram o Flash por anos em live-action) fazem parte dessas participações, o que mostra como a Warner estava mais preocupada em referenciar o passado da DC nos cinemas do que a mitologia do Velocista Escarlate. É difícil bater o martelo sobre esse tópico, e é certeza que as aparições que acabaram no filme vão dividir opiniões dos fãs que forem assistir. Pra quem não está por dentro do longo histórico da DC, é só uma cena curta e maneira dentro do filme, que provavelmente vai te instigar a procurar saber quem que apareceu ali.

Ezra Miller e Grant Gustin nos bastidores de 'Crise nas Infinitas Terras' (2019)

E não dá pra terminar de falar desse filme sem citar a trilha sonora. Benjamin Wallfisch trouxe de volta os temas da Mulher-Maravilha e de ambos os Batmen pras suas aparições, e ainda compôs músicas novas que casam perfeitamente com a atmosfera do filme de ação, comédia e uma pitada de drama.

No fim, é triste que esse seja o fim desse universo. O filme mostra como o DCEU tinha um potencial gigantesco de ser um conjunto coeso e empolgante de filmes com personagens que há pouco tempo eram os mais populares quando o assunto eram super-heróis. Pelo menos, como encerramento, ele funciona. O longa reconta O Homem de Aço (2013) e contextualiza Barry Allen nesse período assim como Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016) fez quando introduziu Bruce Wayne, mas também faz questão de deixar claro que esse universo, que demorou tanto pra ser amarrado, não vai ser continuado da forma mais tosca possível neste desfecho. E a gente nem sabe em qual limbo o filme do Besouro Azul (que estreia em Agosto) e do Aquaman (que estreia em Dezembro) estão depois desse final. Pelo menos é um filme muito divertido, e vale muito a pena ser assistido, principalmente se você gosta do Flash, do Batman, e da DC como um todo, mas não vá na expectativa de assistir um concorrente de Homem-Aranha: Através do Aranhaverso ou Sem Volta Para Casa.

VEREDITO: ★★★ 


– Tiago Sampaio (
@tiago.samps)

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