O que tem de errado nas séries da Marvel Studios?

 Invasão Secreta, a mais nova série da Marvel, teve seu final de temporada exibida no Disney+ nessa semana, no dia 26 de Julho. A série teve um início muito sólido e mostrou potencial pra ser uma das melhores produções do Universo Cinematográfico da Marvel, mas acabou sendo uma adaptação porca de um dos maiores eventos dos quadrinhos da Marvel Comics. Além de completamente previsível em todas as revelações que deviam chocar o público, a série comete o mesmo erro de todas as outras produções da Marvel Studios para o Disney+: ela esquece que só tem 6 episódios.

Todo o decorrer da série é lento, o que condiz com a atmosfera definida nos dois primeiros episódios de drama e espionagem. No entanto, espera até o penúltimo episódio pra ameaçar crescer e, quando finalmente chegamos no episódio final, tudo precisava ser amarrado em míseros 35 minutos (contando com os créditos finais).

O vilão Gravik se torna um poderosíssimo Super-Skrull no último episódio de 'Invasão Secreta'.

O mais triste é que esse mesmo problema já persiste por 2 anos, desde o início da nova empreitada da Marvel Studios em produções serializadas pro Disney+. Até as séries aclamadas, como WandaVision e Cavaleiro da Lua sofrem com tramas que se arrastam no decorrer da temporada pra culminar em um episódio final corrido.

Isso acontece por causa da falta de costume da Marvel Studios, que desde os anos 90 só produzia filmes, com o formato televisivo de criar e contar histórias.

Em 2019, depois do estrondoso sucesso da primeira saga da Marvel nos cinemas (a famosa Saga do Infinito), Kevin Feige (o CEO do estúdio) anunciou que agora o UCM expandiria para outros formatos que seriam exibidos exclusivamente no Disney+, e anunciaram diversas das séries que nós já assistimos, como Wandavision, Falcão e o Soldado Invernal, Loki e What If. Nesse processo, a Marvel Enterteinment (ou seja, a marca Marvel como um todo, responsável por todas as divisões existentes como quadrinhos, cinema, TV e demais produtos) desmantelou a Marvel TV, a divisão especializada em conteúdos televisivos.

O dia em que Kevin Feige anunciou os filmes e séries da Fase 4 do UCM, na San Diego Comic Con em 2019.

A Marvel TV foi um sucesso por muito tempo, tendo produzido até conteúdos para o próprio UCM, como Agents of S.H.I.E.L.D. e Agent Carter, e na sua época as séries tinham diferentes formatos e não seguiam uma mesma fórmula como os filmes, na verdade, eram bem únicas se pararmos pra comparar.

Agents of S.H.I.E.L.D., a primeira série feita com o intuito de se conectar com os filmes do Universo Cinematográfico da Marvel, tinha 23 episódios e mesmo assim a trama se arrastava menos do que as atuais séries da Marvel com 6 ou 9 episódios. Em AoS, a série se dividia em dois arcos de 9 episódios, que se chocavam nos episódios finais da temporada.

A trama girava em torno dos agentes da S.H.I.E.L.D (obviamente) limpando as bagunças que restavam depois dos filmes dos Vingadores, pelo menos no início, e com o tempo, da 2ª temporada adiante, a série foi se tornando cada vez mais independente.

Imagem promocional da 6ª temporada de 'Agents of S.H.I.E.L.D.'

Já Agent Carter, que nasceu como um spin-off de Capitão América que acompanhava Peggy Carter após o fim da 2ª Guerra Mundial e o congelamento de Steve Rogers, as temporadas tinham menos episódios, sendo 9 no total, além de ser uma série de época, completamente ambientada nos anos 40.

A Marvel TV também foi responsável pelas séries da Marvel na Netflix (que hoje estão disponíveis no Disney+), que foram as primeiras produções para maiores do UCM, e que compartilhavam entre si um universo menor, mais estreito, mais urbano e organizado. Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage, Punho de Ferro e Justiceiro todas tinham 13 episódios por temporada, e só foram canceladas porque a Marvel Studios decidiu tomar as séries pra fazer.

Pôster promocional da Saga dos Defensores.

O ponto é, a Marvel Studios decidiu tomar pra si a tarefa de fazer as séries do UCM com a promessa de uma interação maior com os filmes (algo que não passava de de referências em uma via de mão única na época da Marvel TV), dando um orçamento muito maior para as produções, mas se esqueceu que a TV e o streaming são mídias completamente diferentes do cinema. Suas séries tem um ritmo que não funcionam sequer para a proposta de "filmes de 6 horas separados em episódios", o que já seria uma péssima ideia mesmo se executassem a proposta direito.

É possível que esse formato esteja com seus dias contados, já que no próximo ano 'Daredevil: Born Again', nova série do Demolidor, chega no Disney+ com 18 episódios, com um esquema 3 arcos de 6 episódios cada e com um possível hiato entre esses arcos. Resta esperarmos pra ver se a Marvel Studios vai se propor a fazer séries que realmente sejam serializadas e pensadas para o formato televisivo ou se eles vão, mais uma vez, arrastar uma trama por cada arco, por 18 episódios, pra finalizar a série com um final corrido e que não satisfaz nenhuma das expectativas construídas durante a exibição.

Kevin Feige anunciou no palco da D23 de 2022 a nova série do Demolidor com Charlie Cox (Matt Murdock) e Vincent D'Onofrio (Wilson Fisk).

– Tiago Sampaio

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