Rebels e Animação em Star Wars | Quando que a valorização virou desdenho?
O ano é 2013, George Lucas vende a Lucasfilm para Disney. Com um final devastador, a série exibida pela Cartoon Network (Warner Bros sendo a distribuidora), Star Wars: A Guerra dos Clones, foi cancelada. Nisto, uns episódios já finalizados foram pegos pela Netflix para distribuição, intitulado "As Missões Perdidas". Tanto a equipe que trabalhava na série quanto os fãs ficaram arrasados por não conseguirem terminar a história e, nesse interim, a primeira decisão da Disney foi de continuar com a Lucasfilm Animation, mas com uma nova série para o DisneyXD, canal para um público mais infantil que o Cartoon Network.
Com lançamento marcado para 2014, dando mais ou menos um ano para a equipe que, para quem conhece o processo de uma série animada, sabe que é um intervalo ridículo para se contatenar este processo, visto que os episódios já prontos de Clone Wars para Netflix já revelam que é tudo feito com bastante antecedência. Rebels é criada usando o conceito original para Clone Wars e inspirado para o seu design nos desenhos de Ralph McQuarrie. Contra todas as chances, o resultado foi uma história coesa contada em 4 temporadas, onde vemos o desenvolvimento e crescimento de uma família de alma lutando contra a opressão do império e passando por momentos decisivos para a galáxia e história do universo de Star Wars.
Passando-se nos últimos 5 anos antes da decisiva batalha de Yavin (vulgo Estrela da Morte faz boom), a série nos apresenta 6 novos personagens, Ezra Bridger, Kanan Jarrus, Hera Syndula, Sabine Ren, Garazeb Orrelios e Chopper que formam a célula rebelde Fênix, atuando principalmente no planeta Lothal, lar de Bridger, começando extremamente contida em seu próprio núcleo e expandindo para outros cantos da galáxia e da história nas temporadas seguintes, continuando histórias de Clone Wars, encerrando algumas, contando a de personagens importantes e criando novos que ganhariam destaque.
Sendo a primeira mídia lançada oficialmente no novo cânone, a série se esforçava para se manter ligada a quadrinhos, livros e filmes, algumas vezes gerando ligações na mesma semana, ao mesmo tempo que ela mesma contava eventos importantes: a chegada de Thrawn, a derrota de Maul, a criação da Aliança Rebelde e o destino de Ahsoka e dos Clones, além de incluir personagens dos filmes como Tarkin, Vader e Palpatine. Rebels conseguiu contar a própria história (ótima, com início, meio e fim) e ainda assim contar eventos de extrema importância para a galáxia, se tornando essencial no processo.
A 7ª temporada de Clone Wars, Bad Batch e Andor, são moldadas por acontecimentos de Rebels de grandes maneiras. Outras mídias se conectam de outras formas, um Lasat ser o mestre de Cal Kestis, por exemplo. O universo de Star Wars seria muito diferente sem Rebels e sua história. É muito provável que nem chegaríamos a ter um Cerco a Mandalore (e mesmo se tivéssemos, seria bem diferente). E mesmo com Tony Gilroy respeitando a série, há uma ascenção de opiniões e desejos de que eventos retratados na série sejam refeitos em Live Action...

Mom Mothma em Andor, discutindo sobre o que futuramente a levará a sair do senado, como retratado em Rebels.
Sempre houve e (se formos realistas) sempre haverá aqueles que desvalorizam animação como forma de contar qualquer tipo de história. Vindo dos mais velhos é fácil entender, porém complica quando alguém das gerações mais recentes tem a mesma opinião. Principalmente em Star Wars onde as séries animadas, em sua maioria, esmagam qualquer filme/série live action, podendo ir com mais naturalidade onde eles não podem, ao se utilizar de personagens sem deepfake e IA que beiram a imoralidade.
Infelizmente, os grandes estúdios continuam alimentando essa ideia retrógrada (e idiota). A Disney com seus filmes dos anos 90 (aptamente nomeados da Renascença do estúdio) foi o que tirou eles da quase falência, e continua fazendo versões Live Action desses clássicos (em sua maioria inferiores) com Bob Chapek supondo que adultos não tem interesse em filmes animados, um novo Como Treinar o Seu Dragão, "agora com gente", apesar do último filme ter sido lançado 4 anos atrás (2019), o que acaba sendo só mais um filme animado, só que agora em CG, realista o suficiente para enganar e se alimentar da noção não dita de que ser Live Action é inerentemente mais válido (vide o remake de Rei Leão chegar a 1 bilhão).
Talvez o exemplo mais recente que destroce essa ideia seja o filme do Pinóquio de Guilhermo del Toro que foi lançado em datas parecidas com o remake da Disney, um "Live Action" e outro animação em stop motion, que ganhou o oscar e permitiu del Toro fazer um discurso lindo sobre a validade da mídia. Não há mal em querer ver seus personagens favoritos em Live Action, mas você deve se perguntar o porquê do seu querer. Séries continuando enredos de uma série animada mas não usando nada das séries animadas na história ou no marketing dão a entender que o porquê dos personagens estarem em Live Action não é exatamente para chamar atenção das séries animadas.
Temos The Mandalorian repetindo o mesmo enredo para Bo Katan que tinha sido resolvido em Rebels, sem nenhuma citação à Satine, a governante de Mandalore a qual o Olho da Morte, grupo que Bo fez parte e Din Djarin é membro de um subgrupo dele, gerou todo o problema que The Mandalorian quer resolver... mas nada disso é usado para a história. É tratado como se não houvesse existido mesmo que Rebels já houvesse utilizado maestralmente. Obi-Wan Kenobi também não fez nenhum esforço para se conectar a Clone Wars, exceto pela performance de Hayden Christensen, mas isso foi por sua própria valorização ao material animado. O que é feito são mini referências, visuais ou textuais à eventos dessas séries para os que viram fazerem o meme do DiCaprio e deixar os que não viram sem precisar ver... Mas é a mesma galáxia, uma coisa deveria crescer da outra.
Hoje (23), às 22:00, dois episódios de Ahsoka serão disponibilizados. Não há como prever o que vai acontecer, e não tenho forças para isso. Pelos trailers, já acontecerão alguns retcons sobre o final de Rebels, a personalidade da personagem titular já está diferente da animada, porém ainda há esperança de ser realmente uma boa continuação que respeite o que veio antes na forma animada (teremos Kevin Kiner e co. de volta, pela primeira vez em uma mídia live action, o que quer dizer: verba para uma orquestra), mas não é o que o material promocional indica. Não há qualquer razão para essa série não ser animada mas, ao que parece, não há fé que a audiência vá assistir se não forem pessoas na tela, e talvez eles tenham razão... e isso é deprimente.
Mês passado, Jornada das Estrelas fez um crossover entre a sua série live action Strange New Worlds com a sua animada para um público adulto Subalternos (Lower Decks pros esnobes), iniciando animada, levando dois personagens para live action (com os atores) e terminando com a equipe live action animada (estavam bêbados), ambas as séries se passam no mesmo universo em tempos diferentes, não importa se uma é desenho e a outra é carne e osso, são o mesmo universo, com a mesma importância e validade, se Star Wars e a audiência abraçassem isso... Talvez as coisas fossem um pouco diferentes.
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