Doctor Who: O Começo de Uma Nova, Nova Era

Este texto pode conter spoilers dos especiais, porém olhe a boa notícia: se você quiser começar a assistir Doctor Who por este novo especial de natal, você pode!

Como é bom ser whovian! Dezembro foi um mês cheio de emoções para os doidos que são whovians (ou devo dizer, fãs de Doctor who) com a chegada da nova era comandada, novamente, por Russell T Davies, showrunner que marcou e muito a chamada “new who”, quando a série foi retomada lá em 2005. Naquele tempo, eu pessoalmente só tinha meus 3 aninhos mas é meio doido como eu demorei pra descobrir o que é Doctor Who (na verdade, o conceito de seriado também, porém quando descobri mudou a minha forma de assistir televisão, especificamente ficção científica.) É uma série que mesmo aos trancos e barrancos com seu orçamento limitado, sempre prezou pelo mais importante: as histórias e lições que queria passar. Uma vez, eu vi alguém dizendo na internet que existe uma vida pré-Doctor Who e pós Doctor Who e eu não poderia concordar mais com isso. Ela é pensada, na maior parte do tempo, para mudar sua perspectiva, te fazendo rir, chorar e refletir, às vezes tudo no mesmo episódio. 


Um pequeno parênteses a seguir: mas o que é Doctor Who? Basicamente, uma série britânica que somando seus anos em atividade, já é uma senhora comemorando seus 60 anos, sendo uma das séries mais longevas da história da televisão. A sinopse é um pouco doidinha mas se resume a um alien que sempre encontra um ou dois companions e, juntos, encaram aventuras apaixonantes pelo temido espaço-tempo dentro de uma máquina do tempo na forma de uma cabine telefônica britânica azul dos anos 60, a T.A.R.D.I.S (sigla para Time and relative dimension in space). E desse mote, prepare-se para qualquer coisa porque com esta pequena explicação, tudo pode ser possível dentro dessa série.


Evolução dos logos de Doctor Who conforme os anos


Eu não estava esperando fazer este mini ode de amor a Doctor Who, mas simplesmente saiu, foi mais forte que eu porque essa série, por mais que haja qualquer plot maluco imposto pelos showrunners, sempre irá me encantar nesse tanto. Não sei se poderia ser uma série pra todo mundo mas com certeza é uma série que todos deveriam ao menos dar uma chance. Alguns episódios funcionam melhor como introdutórios do que outros, mas então isso nos leva ao ponto principal deste texto: os especiais de 60 anos estrelados por David Tennant e Catherine Tate e o especial de natal deste ano sendo o primeiro episódio comandado por nosso já querido 15th.


Quando se descobriu que David Tennant iria retornar como figura chave para Doctor who, existiam dois tipos de pessoas: as “ah não, David tennant de novo?!” e  “uhul! David tennant de novo! Finalmente vai voltar a ser bom!!!!” (ainda me admira esse tipo de gente) até que todos entraram no consenso de “então vamos aí né, ele tem que comprar o leite das crianças” (e sim, para quem não sabe, esse homem tem muitos filhos). Pois nesse meio tempo, muitas teorias foram criadas tendo, enfim, a confirmação de que ele não seria outra coisa no meio do caminho e sim, o próprio 14th. Particularmente, eu ainda não engoli essa escolha do RTD porque eu adoraria que fosse uma falha na regeneração para resolver “negócios inacabados” do que realmente um doutor em si . Mas tudo bem, já passou e os especiais saíram e estão aí para serem aproveitados. E tem para todos os gostos com cada episódio tendo uma vibe completamente diferente do outro então pelo menos um deles, com certeza vai pescar a atenção do telespectador. 


Primeira regeneração do mundo a regenerar até as roupas

Diretamente dos anos 80, literalmente inspirado em uma HQ dessa época, “Star Beast” (parecendo até dos mesmos criadores de “Gremlins”), foi o episódio que eu mais me diverti assistindo dentre os três. Aqui, encontramos “Beep, The Meep”, uma criatura que de fofinho tem só a carinha. Eu, particularmente, achei ele uma gracinha mas ainda assim, desconfiei logo de cara. O que, em suma, resume todo o episódio. Aqui, temos um perfeito exemplo do que é um bom e básico episódio procedural de Doctor Who, onde há um vilão extremamente caricato enquanto fere 77 direitos humanos e o usamos como desculpa para ver a personalidade do Doctor ao interagir e procurar evidências relacionadas ao seu adversário. Mesmo o Beep The Meep ter sido mandado para o beleléu, ainda gostaria de ver o retorno desse monstrinho, vai que um dia acontece, né? Como diz o ditado, de Doctor Who podemos esperar qualquer coisa. 


Comparação do "Beep, The Meep" entre a série e a HQ dos anos 80.

Agora chegou o momento, e toda hora é hora de enaltecer Donna Noble. Eu (ainda) não conheço todas as companions que já passaram por pela série nesses 60 anos, devo ser sincera. Ainda assim, Donna com certeza é única. É quase transcendental ver a química entre Catherine Tate e David Tennant em cena e em como seus personagens são simplesmente o que precisam ser um para o outro. Donna, mesmo ainda sem sua memória, parece que quinze anos não se passaram e a atriz estivesse a interpretando como se fosse ontem. Temos novamente nossa querida personagem presente (essa aqui vai para aqueles que duvidavam que ela poderia voltar quando isso era praticamente uma fanfic) com sua personalidade que sempre desafia e diverte o Doutor. Yasmin Finney (cotada para alguns episódias seguintes na nova temporada!!!!) também está maravilhosa e eu, tendo assistido a Heartstopper, estou muito feliz a vendo em uma série histórica como Doctor Who, além de que essa produção de elenco foi muito perspicaz em trazer esses nomes vindo de produções britânicas jovens como ela e o próprio Ncuti Gatwa vindo de Sex education e Barbie. 


Mãe e filha resolvendo tudo

Mesmo já sabendo também tive quase um flashback de guerra com o momento que o 14th congela ao escutar o nome Rose na voz da Donna. A presença da filha dela traz uma boa justificativa para ela não morrer ao recuperar a memória, mas essa energia que ainda está acumulada trouxe uma sensação meio de “então tá” quando elas a liberam simplesmente tendo a resiliência de a deixarem ir ( mas eu gostei da gracinha de “só mulheres entenderiam”).  


Extremamente comparável ao molde de Midnight (S04EP10), Wild blue yonder segue um caminho muito diferente em relação ao primeiro episódio onde temos nossa dupla em uma dinâmica de suspense presos dentro de uma espécie de nave. O episódio realmente construiu esta atmosfera tensa muito bem e ainda teve espaço para aprofundar as emoções que o catorze precisa carregar de suas experiências passadas que ele não processou estando um misto de sentimentos prestes a explodir. Fiquei feliz quando descobri que as criaturas desse episódio foram produzidas por (tcharam) efeitos práticos! O roteiro realmente foi escrito de uma maneira feita para nos enganar e confundir para saber quem é quem ali dentro do ambiente. Por fim, como gancho temos o puro caos em que eles encontram ao retornarem e encontrarem Wilfred falando que o mundo enlouqueceu. A aparição dele cura onde dói e isso é ESTAMPADO no rosto tanto do Doutor quanto no do avô de Donna. Ali, pareceu até uma celebração pessoal dos próprios atores e de como essa série é importante e querida para eles.


Efeitos práticos sempre serão famosos!


Essa confusão se firma em uma ideia muito interessante que põe a humanidade como inimiga dela mesma ao fato das pessoas estarem sendo enlouquecidas pela raiva e estarem em descontrole fazendo tudo que quiserem, tendo como veículo disso a tecnologia. O Toy maker, então, entra em cena sendo o arquiteto deste plano secular, interpretado pelo ilustríssimo Neil Patrick Harris que está perfeito dentro do personagem. É uma pena, no entanto, como fã de musicais devo dizer, que desperdiçaram a chance de montar um número musical com ele e isso já deveria ser um dos motivos de que ele precisa retornar na temporada se já não tivesse a mão misteriosa que resgatou a essência do Toy Maker. 


Neil Patrick Harris como Toymaker

Esse episódio, entretanto, deixou a desejar no sentido que dá vontade de ver MAIS sobre esse vilão e me fez pensar se seria mais válido que os três especiais fossem escritos de maneira a serem interligados como continuação direta entre si ao invés de serem apenas sementes do que possivelmente está guardado para o futuro da série. Não podemos dizer também, que Russell T Davies não tentou inovar a adicionar um pequeno e outro grande detalhe ao cânone de Doctor Who: a mavidade e a bigeneração. A primeira foi uma pequena piada inserida que, apesar de não ter tido muita graça, criou uma paralelo de que agora, no universo da série, a gravidade realmente mudou de nome com o Doutor tendo esta consciência. Ficaremos então aguardando para ver se será algo que será consertado pelo Quinze ou realmente se tornará um charmezinho concretizado. Quanto a minha opinião, é um detalhe que me parece desnecessário mas também não machuca ninguém. Já sobre a bigeneração, é um pouco mais polêmico. Apesar da cena ser consequência da derrota do Toymaker que, novamente, pareceu simples demais mesmo que esteja dentro das regras estabelecidas pelo próprio vilão, foi meio doido ver este efeito realmente acontecer. No final, vendo de forma pragmática, acabou sendo uma desculpa que justifica reciclar o Tennant sempre que desejarem e, considerando a construção do porquê o rosto do 10th ter voltado, eu queria um momento e uma justificativa mais elaborada já que esse é um dos pontos que costura os três especiais mas não chega em um verdadeiro ápice.   


Ruby Sunday e 15° doutor sendo uma grande dupla.

É impressionante como em pouquíssimos minutos de tela, apresentando-se no final do terceiro especial, Ncuti Gatwa exala CARISMA, e logo em seus primeiros momentos dá pra perceber que o ator fez seu dever de casa muito bem pois parece que ele referencia vários doutores anteriores e ainda assim expressa sua própria marca para o personagem. Talvez, o plano mestre do RTD seja toda a era do 15th ser uma grande carta de amor a todos os anos da série. Fui fofa sendo esperançosa agora, né? Porque realmente é o meu desejo e estou torcendo muito para que se concretize!


Quando saiu as primeiras imagens promocionais e eu vi uma loira que tem toda a estética da Rose repaginada, meu primeiro pensamento pelo que eu me lembro foi “será mesmo que vamos ter uma Rose 2.0 e toda aquela ladainha de novo? Eu simplesmente me recuso.” (não que eu não goste desse plot, mas convenhamos, melhor deixá-lo lá em 2007) Entretanto, eu fico muito feliz de vir aqui dizer que eu simpatizei MUITO com a Ruby logo de cara, não só porque eu adoraria pôr a culpa de eu ser desastrada em Goblins, mas também porque desde sua primeira cena ela está RADIANTE. Tanto Millie Gibson quanto Gatwa estão claramente muito felizes e orgulhosos de estarem dentro da série e isso se esbanja em todas as cenas. Eu já estou cem por cento engajada em descobrir mais sobre nossa mais nova companion e sua origem que deixam um gosto que ainda vai dar muito pano pra manga. Por enquanto, nos resta apenas as teorias rolando pela internet.


Em falar em teorias, as coadjuvantes do episódio também brilham. Apesar de parecer pouco, a senhora, apelidada carinhosamente de Dona Enchente (Mrs. Flood) despertou o alerta entre os telespectadores surgindo inúmeras teorias de que ela vai além de uma simples vizinha. A mãe da Ruby também brilhou dentro do episódio, especialmente em uma cena em específico que ela está em destaque. Dá pra ver muito forte o carinho e a importância que a Ruby e as outras crianças que passaram em sua vida têm.


Anita Dobson e Michelle Greenidge, respectivamente.
             

O que não está fazendo um grande orçamento para Doctor Who… Por um lado, meu preciosismo me agoniza um pouco por ter receio de que o charme que sempre fez parte da série ser engolida pela ganância da Disney e por outro, essa grana sendo injetada traz novos gadgets, várias mudança de roupas, uma ambientação linda, uma sonic que agora até cria escudos e uma Tardis tão clean que até é demais para o meu gosto pessoal, porém tem um charmezinho de uma jukebox que estou muito curiosa se vai ser apenas um item decorativo ou qual função ela irá ocupar.


Se em The Giggle teve um ponto decepcionante em ter sido desperdiçada a chance de ser um episódio musical, ‘The Church of Ruby Road' me surpreendeu muito com a “The Goblin Song”, que foi muito divertida e dinâmica. Dito isso, a era Gatwa mal começou vindo com tudo com esse episódio superando os três anteriores e já sei que sentirei eternas saudades quando ela acabar. Espero que tenha causado o mesmo sentimento naqueles que adoram caçar defeito quando a série se propõe verdadeiramente ao novo. 



Já estou ansiosa aguardando as próximas aventuras da navinha azul que já temos, inclusive, previsão de estreia: maio de 2024

– Luísa De Luca.

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