DOIS FILMES EM UM! | DUNA PARTE DOIS (Review Que Ninguém Pediu)

 No dia bissexto de 2024, chegou aos cinemas a sequência de uma nova saga que divide as opiniões dos fãs de cinema: Duna. Os filmes que adaptam a série de livros de Frank Herbert contam uma ópera espacial que se mistura com thriller político para criar um universo que, se for pra comparar com títulos que o público possa entender, se assemelha com Star Wars e Game of Thrones em alguns pontos (não só narrativamente, mas também visualmente).

O primeiro foca em apresentar o cenário político da galáxia em que a história se passa, se contendo em duas casas, os Artreides e os Harkonnen) e um único planeta, Arrakis, e a trama acompanha o sucessor do Duque Artreides, Paul (Timotheé Chalamet). Ao serem forçados pelo Imperador do universo a assumir a mineração de especiarias do planeta Arrakis, os Artreides se veem em um conflito com os Harkonnen pelo território, que com financiamento do próprio Imperador, tentaram genocidar os oponentes. O filme conta essa história sem pressa, usando de todo diálogo como uma peça importante da construção da saga, o que faz parecer que o longa se arrasta, consequentemente sendo cansativo, justamente o fator que impediu com que uma parte do público gostasse dele.

Duna: Parte 2 acompanha os sobreviventes desse genocídio, Paul e sua mãe Jessica (Rebecca Ferguson), que precisam se unir aos Fremen, nativos do planeta Arrakis, para sobreviver e buscar vingança contra aqueles que destruíram suas vidas.

Paul e Jessica Artreides

No início, o filme se afasta um pouco do cenário político e foca em introduzir não só Paul e Jessica aos Fremen, mas o espectador também, e faz isso muito bem, de forma envolvente e crescente. A jornada de Paul Artreides para Paul Muad'Dib Usul, de um estrangeiro para parte do povo, é o principal desenvolvimento dessa primeira parte do filme, que também destrincha a profecia das Bene Gesserit (culto religioso do qual Jessica Artreides foi criada) que pregava a vinda de um Messias salvador para os Fremen, e como o povo do Norte ao Sul de Arrakis reage a ver a profecia acontecendo diante de seus olhos.

Toda a cultura Fremen lembra bastante histórias do Oriente Médio, com claras referências religiosas e folclóricas, como por exemplo aos Jinn da mitologia Árabe.

Stilgar (Javier Barden) é o líder dos guerreiros Fremen do Norte.

Quando essa jornada de Paul finalmente finaliza, e você já está completamente envolvido pela atmosfera Fremen, o filme te arranca de lá para desenvolver o outro lado do conflito, os Harkonen, e a impressão que fica é que um filme terminou e outro começou dentro da mesma sessão do cinema. Isso acontece porque, depois de tanto crescer, o filme retorna ao ritmo introdutório do início, iniciando um sentimento de cansaço. Na verdade, vários são os momentos que o filme deu a impressão de que acabaria e não o fazia, mas há uma divisão muito óbvia na trama que me faz imaginar se, como alguém que não leu o material original, esse filme adapta mais de um livro.

Quanto a atmosfera, assim como no primeiro filme, ela é extremamente imersiva. Se eu achei isso tendo assistido o primeiro apenas na sala de casa, imagina quando vi essa sequência em uma sala IMAX. Mesmo a maior parte do filme sendo em um deserto, a fotografia aproveita pra entregar momentos dignos de pôster promocional (e eles sabem disso, visto que eu percebi vários pôsteres do filme enquanto assistia a ele). Dennis Villeneuve ataca de novo entregando visuais de um clássico do cinema de ficção científica, sendo bem diferente do "bonito" que estamos acostumados no cinema nerd. Aqui temos um "magnífico".

Não só bonita, a fotografia também é prática e tem uma função na trama do filme, que é separar os momentos. Se Arrakis é puxado pra um sépia, a casa dos Harkonnem é um noir (em cor, não em tema) e o Imperium, assim como as Bene Gesserit, lembra uma estética (em tema, não cor) Inquisidora – vulgo o Santo Ofício da Inquisição, que ocorreu na Espanha na Idade Média. Qual é, eu sou historiador. Minhas reviews sempre puxam pra esse lado... Claro, obviamente mesclado com o toque tecnológico da ficção científica.

Paul e Chani (Zendaya) tem um relacionamento desenvolvido no filme que parece preparar terreno para uma trama ainda maior no futuro.

Na trilha sonora, Hans Zimmer (que se você não conhece pelo nome, provavelmente já ouviu o trabalho dele alguma vez na sua vida) entrega em todos os momentos, até melhor que no primeiro filme. Levando em consideração que ele já está compondo a trilha do terceiro, dá pra entender como a trilha se complementa ao mesmo tempo que evolui. É um trabalho contínuo!

O elenco é formado por muitos nomes famosos. Quem retorna do último filme tem mais chance de brilhar (Sim, tô falando da Zendaya) e quem chega agora não fica só por 2 minutos (Tô falando de Florence Pugh e Austin Butler).

Feyd-Rautha (Austin Butler) na repentina, mas ótima, cena em preto e branco filmada em infravermelho do filme.

A cara de bobo do Timotheé Chalamet é a certa pra te convencer de que todo mundo subestima Paul quando o vê, e atuação dele te convence também quando essas mesmas pessoas que subestimaram passam a confiar no Muad'Dib.

Toda essa trama do messias conversa muito bem com a contemporaneidade, dentro de uma trama que reflete nada mais do que o conflito de um povo em ameaça de extermínio por uma nação exploradora.

Apesar de demorar pra chegar, o fim é satisfatório, concluindo o arco que foi iniciado na Parte Um e dando o pontapé para um conflito ainda mais grandioso.

Veredito: ★★★★

Não se leve pela minha nota: não é um filme para qualquer um. É extenso, pode ser cansativo, e se propõe a ser uma experiência "mais pura" do audiovisual do que o usual no gênero de ficção científica. O público que Dennis Villeneuve tenta alcançar com esse filme é um bem específico: o nerd que curte a 7ª arte, e se você não está nesse meio, pode ser que esse filme, assim como o primeiro, seja um sonífero.


– Tiago Sampaio

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