Fallout - O fim do mundo nunca foi tão lucrativo! | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU
Com tudo isso na mesa, fica meio óbvio que uma adaptação de Fallout para live-action era uma receita fácil para o sucesso. Seja pela sua falsa nostalgia polida aos anos 50 e 60 que tá sempre em alta, pelas criticas sociais bem ácidas e muito bem posicionadas sobre consumismo ou pela sua estética e narrativa pós apocalíptica que se inspira muito nos sucessos de filmes e séries sobre terras devastadas e mortas. E com isso, é muito bom dizer que a série é um sucesso em traduzir bem cada um desses elementos e ainda manter a identidade que sempre te lembra os jogos e te mantém entretido!
Seria mentira dizer que sou uma grande fã de Fallout, quer dizer, eu joguei MUITO do Fallout Shelter (o joguinho de construção de bases para celulares) e um pouquinho só do New Vegas (de 2010). Sempre tive o interesse latente, mas nunca a disposição pra ir e realmente jogar. Na verdade eu sentia que Fallout era um daqueles casos que as pessoas mais gostam de falar sobre o jogo do que de fato jogar, então sempre deixei de lado. Daí essa série me surge como uma última tentativa de entrar nesse mundo, e... Funcionou muito bem, eu voltei a jogar Fallout New Vegas após anos! Mas de volta pra série...
Banner do primeiro Fallout |
A série do Prime Video se ambienta dentro do universo dos jogos, sendo parte canônica dele e se passando após todos os outros títulos da franquia. Ela decide seguir a fórmula dos jogos, mas com uma história inédita, em um lugar diferente e sem muitas conexões além de referencias e aprofundamento de mundo. Ela não só traduz a narrativa dos jogos pra um formato televisivo como consegue manter sua essência graças à sua ambientação já maluca que permite se inspirar – e muito – nos jogos. Não só no mundo em que se passa, mas como nas pequenas coisas que formam a base dessa franquia, a ponto de fazer você em alguns momentos ter a sensação de estar vendo a dramatização de uma gameplay de um CRPG ou de uma mesa de RPG.
A protagonista aqui é Lucy, interpretada por Ella Purnell (Yellowjackets), a residente de um abrigo nuclear que é forçada a conhecer o mundo externo pela primeira vez para poder resgatar seu pai, que foi sequestrado durante o ataque de invasores que vivem fora dos abrigos. E é nos olhos dela, uma mulher ingenua e sem vivência exterior, que conhecemos esse mundo que em outro tempo foi habitado como o nosso e descobrimos com ela mais sobre a grande conspiração envolvendo a VAULT-TEC, empresa responsável por criar e administrar os abrigos como o que Lucy vivia.
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Lucy, interpretada por Ella Purnell. |
A trama é simples: uma história sobre chegar de um ponto A até um ponto B, mas assim como a campanha de um jogo, Lucy encontra todo tipo de personagem excêntrico e desventuras que a desviam temporariamente de seu caminho, traduzindo bem as missões secundárias de um jogo de mundo aberto.
Mas é através desses desvios que conhecemos os outros dois personagens centrais da série: Maximus (Aaron Moten), um rapaz que foi criado durante toda sua vida para ser um soldado da Irmandade de Aço, uma das principais facções desse mundo; E um caçador de recompensas que já viu de tudo que esse mundo tinha a oferecer, o "Necrótico" (Walton Goggins).
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Os três personagens centrais da série. |
A série guarda os momentos em que os três personagens estão juntos em tela, o que faz esses momentos terem muito mais impacto e de certa forma uma tensão pela natureza antagônica que eles começam tendo um com o outro. Mas na maior parte dos momentos de interação estamos apenas vendo como Lucy reage a quem for a sua companhia da vez, e nisso a série brilha, evidenciando de forma clara como cada um desses três personagens representam um lado desse mundo conturbado que leva todos aos seus limites e como cada um deles é filho de uma ferida diferente, construindo um drama delicioso e uma ambientação maravilhosa ao mesmo tempo que ajuda a conhecer o que é esse universo que existe além da sátira.
A ambientação da série brilha por si só, traduzindo com fidelidade a estética dos jogos e conseguindo dentro disso criar algo que se destaque por si só. A mistura de diferentes cenários e estéticas é tão bem amarrada que faz com que você saia de um cenário Populaxe com cores vibrantes dentro dos Vaults para um "Velho Oeste" cinzento e morto na superficie sem sentir a mudança.
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Acompanhe a jornada de Lucy! |
O humor também está no ponto certo, com um certo cinismo e ironia para fazer comentários sobre consumismo e corporativismo enquanto usa de estéticas tão bem definidas por representarem justamente aquilo que a série caçoa, sempre mantendo a auto-consciência do quão ridículo a vida nesse mundo pode ser ao mesmo tempo que a naturalidade te convence de que toda essa insanidade é só mais uma quarta-feira.
Um ponto a se destacar é a sua mixagem de som, que apresenta efeitos sonoros que te fazem pular da cadeira, sendo a primeira vez que, eu, carioca de nascença, senti que os tiros de uma arma numa série soavam de fato como tiros, além de conseguirem expressar muito bem a sensação de cada impacto que ocorria na série, te ajudando a sempre ter uma noção muito precisa do ambiente de cada cena e do que está acontecendo.
A maquiagem é surreal junto dos efeitos práticos, conseguindo evidenciar muito bem o quão grotesca certas coisas são nesse mundo, com destaque para os Necróticos que com seu visual apodrecido que variam entre o amigável (porém estranho) até o totalmente apodrecido que te dá náuseas só de olhar.
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O Necrótico (Walton Goggins). |
A mensagem de Fallout também é clara como água purificada. A série não esconde que parte do problema é o capitalismo e as mega corporações que controlam tudo por de baixo dos panos, e deixa tudo ainda mais obvio quando faz questão de dizer na nossa cara que a guerra que ocorreu nesse mundo não passou de um produto para causar uma falsa escassez e gerar lucro e controle através da privatização de todos os setores. Ao mesmo tempo, esse foi o ponto que mais me decepcionou na série e que menos consegui aproveitar com honestidade. Não me entenda mal: a critica é super valida e bem-vinda. Mas a mensagem anti corporativa na trama da conspiração envolvendo a VAULT-TEC me parece meio sacana quando você para pensar que está vendo isso numa produção que é patrocinada pela Amazon, te fazendo dar um suspiro decepcionado com a própria realidade e ficar meio desiludido com o futuro... Mas talvez isso seja apenas comigo e minha visão meio desesperançosa? Não sei... Talvez sim.
Enfim, Fallout evidencia o mal que a privatização de setores responsáveis por administrar recursos e prestar serviços básicos é um mal a ser combatido, e dá ênfase nisso ao mostrar o que acontece quando a existência da humanidade passa a ser vista como só uma fonte de lucro nas mãos dos grande poderosos, nos revelando a verdade que todos nós já sabiamos: Um CEO motivado consegue ser uma ameaça à nossa existência tão aterrorizante quanto o chefe de estado mais autoritário.
VEREDITO: ★★★★★
Vale a pena assistir? Fallout é, sem duvida alguma, a melhor série que tive o prazer de resenhar nesse blog, e traz consigo uma mensagem forte de conscientização junto de risadas, entretenimento, além de um deleite visual e sonoro.
Então não perca seu tempo! Vá logo assinar o Prime Video e ajude a fortalecer grandes monopólios e acelerar o fim dos tempos! Afinal, vai ser maneiro demais, né?!
- Carly "Hami" Costa
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