Afinal, Magneto estava certo?
O episódio 8 de X-Men '97 deu início à reta final da temporada e causou um alvoroço na internet quando Magneto, depois de passar a temporada toda seguindo os passos de Charles Xavier, voltou às suas origens e mandou um recado pra todo o planeta Terra com um pulso eletromagnético que, com certeza, acabou matando uma galera. Tudo isso ao som de um maravilhoso discurso da Valerie Cooper, que diz:
"Olha, em Genosha eu senti muitas coisas. Dor, luto, admiração por aqueles que lutaram apesar das chances. Mas sabe o que foi mais estranho? Ninguém pareceu estar chocado ou surpreso. Nem mesmo eu. Sim, eu estava assustada mas, na verdade, eu tinha uma sensação muito profunda de déjà vu. Como se o passado, presente e futuro não importasse e nem tivesse importado. Porque sempre terminamos no mesmo lugar horrível. Acontece que o Magneto nos conhece melhor do que Charles conhecia. Sabe o que pensamos. Que muitos de nós vivemos tragédias como a de Genosha como um déjà vu antes de seguirmos nossas vidas. Mas o mais assustador sobre Genosha não foi a morte ou o caos. Foi um pensamento. O único pensamento possível quando se é perseguida por robôs gigantes criados para te destruir:
Magneto estava certo".
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"Já chega" X-Men '97 (2024) Episódio 8: "Tolerância é Extinção - Parte 1" Dirigido por Chase Conley |
Mas certo em que, exatamente? Até porque, todo mundo conhece Magneto como o maior inimigo dos X-Men, o homem que tentou exterminar toda a humanidade por acreditar que o Homo Superior (o nome científico ficcional dos mutantes) são a raça definitiva do planeta Terra. O que dentro desse discurso genocida e eugenista pode, de qualquer forma, estar certo?
Antes de responder essa pergunta, precisamos relembrar um pouco de quem é Magneto.
Erik Magnus Lensherr (mas seu nome na real é Max Eisenhardt) é um mutante judeu, sobrevivente do holocausto, que viu toda a sua família ser perseguida e morta por nazistas durante a 2ª Guerra Mundial. Mesmo depois da guerra, Erik continuou a ver sua família e amigos sendo perseguidos por humanos. Seja por questões religiosas, políticas ou ideológicas. Forçado a lutar pra sobreviver, Erik se tornou o reacionário conhecido como Magneto. Tomado por ódio, os caminhos de Magneto o levaram a diversos conflitos contra a humanidade e contra os X-Men, que defendiam estes.
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Fabulosos X-Men (1963) #150 "Eu, Magneto" Roteiro de Chris Claremont. |
Mas é claro que ódio não justifica exterminar toda uma raça. Magneto definitivamente não estava certo nessa tentativa.
O ponto é que, não só na ficção, mas na vida, nada e principalmente ninguém é 8 ou 80. São as pequenos nuances, desvios, altos, baixos, erros e acertos que fazem toda a história da humanidade. Ninguém bom está isento de defeitos, da mesma forma que ninguém mau, como Magneto, está isento de acertos.
A vivência de Erik fez com que o Magneto fosse um homem impiedoso, vingativo e sanguinário. Um genocida. Um vilão. Mas essa mesma vivência o mostrou que tudo que a raça humana é capaz, não só contra a mutandade, mas com os seus próprios. A humanidade é violenta, intolerante e incapaz de viver em paz com qualquer outro indivíduo ao menor sinal de diferença entre si. Magneto viveu o suficiente entre os humanos pra entender isso. Ele sabe que a ideia dos mutantes serem aceitos por todos os humanos era uma ideia utópica, e não queria ver seu povo ser exterminado como diversos outros foram ao longo da história.
E foi isso que Valerie Cooper entendeu também. O pensamento de que "Magneto estava certo" é assustador para ela não porque ela acha que a humanidade deve morrer, mas sim porque é inegável o que a humanidade faz e nós observamos isso todos os dias. Não à toa as histórias dos X-Men servem de alegoria para histórias de preconceito, e já conversamos sobre isso.
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Capa de Magneto (2014) #1 Arte por Paolo Rivera. |
Essa é uma discussão que chegou só agora ao público geral por causa da nova série dos X-Men, mas o "movimento" Magneto Was Right já é algo nos quadrinhos desde o início dos anos 2000!
Erik Lensherr passou por um longo processo de redenção, que assim como na série começou com seu julgamento pela ONU e passou por uma (na verdade algumas) recaídas de maldade, mas no fim, terminaram com o Magneto sendo parte integral dos X-Men.
Mesmo na equipe, lutando ao lado dos heróis, Erik não abandonou seus ideais. Seus conceitos sobre a índole humana permanecem os mesmos, e muitas pessoas concordam com esse pensamento. Mas Erik admite que os métodos genocidas, talvez, não sejam o caminho certo pra garantir sobrevivência.
Recentemente, o próprio Xavier admitiu ter uma visão utópica de igualdade perante a humanidade e, ao lado de Magneto, formaram uma nova nação mutante que não se acanhava em se mostrar superior às nações humanas como sociedade.
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Dinastia X #1 (2019) Magneto do novo testamento apresenta pacificamente a Nação de Krakoa aos embaixadores humanos. Roteiro por Jonathan Hickman. |
Claro, a graça da ficção é justamente as diferentes visões que cada leitor ou espectador pode ter. Mas, contextualizando a série, e todo o discurso de Valerie Cooper, é muito importante destacar que a razão de Magneto que as obras de X-Men como um todo sempre batem na tecla é em relação ao comportamento da humanidade.
E você? Também acha que Magneto estava certo? Eu sim. Como um homem negro, eu observo a hostilidade voltada pra minha cor, e sei muito bem como é doloroso me misturar enquanto me iludo com o pensamento utópico de um dia ser visto como igual. Claro que eu não saio por aí matando todo mundo... Mas é só isso que me diferencia do Magneto.
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Quentin Quire sobre usar uma camiseta com a estampa "Magneto estava certo" dentro do Instituto Xavier em Novos X-Men (2001) #135. Roteiro por Grant Morrison. |
Texto por Tiago Sampaio.
The audacity calling out Blank not knowing to understand the whole concept. It sad seeing your nonsense comment. You must be a hater to your own self. Shame on you.
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