Aprendam a aceitar o fim das coisas!


 Não é de hoje que séries famosas se estendem por quase ou até mais de uma década, afinal, Smallville teve 10 temporadas e um quadrinho que tentou continuar a história pra quem queria ver as aventuras de Tom Welling como o Super-Homem depois de 10 anos sendo apenas o Superboy.

No entanto, também não é de hoje que séries boas forçam uma estadia mais longa que o necessário, causando um fastio justificável na audiência.

Qual a razão disso? São várias as respostas. A mais óbvia? Dinheiro. Não só com filmes, qualquer título rentável distribuído por empresa grande vai ser "aproveitado" até que o público canse. A Marvel Studios (que é do grande conglomerado Disney) chegou ao ponto de estar lançando 3 filmes e 4 séries POR ANO. A Netflix, que eu diria ser a pior nesse quesito, renovou Alice in Borderland para uma terceira temporada que não só não tem base alguma (porque o mangá original termina exatamente onde a 2ª temporada terminou), mas que também estraga um final que é propositalmente aberto e ambíguo.

Alice in Borderland (2020 - Só Deus sabe)

A Amazon também não fica pra trás, já partindo pra terceira temporada de Good Omens mesmo que a primeira temporada já tenha adaptado todo o livro de Neil Gaiman.

Mas se o público quer, que mal tem, certo? Errado!

Infelizmente, uma boa parte do público geral atualmente tem uma dificuldade, ou melhor, uma deficiência na capacidade de absorver tanto o desenvolvimento, quanto a conclusão de personagens e histórias.

Por exemplo: a série do Loki acabou muito bem fechando o arco do personagem-título com um dos melhores desenvolvimentos de personagem do Universo Cinematográfico da Marvel, e uma galera já tá "esperando" o retorno do personagem no futuro, ignorando como isso jogaria fora toda a jornada que foi construída.

Para este público, vale muito mais ver o mesmo personagem sem nenhum crescimento por anos como forma de entretenimento do que a satisfação de ver um desenvolvimento e uma conclusão.

Antes um personagem deslocado dentro do Universo Marvel, o Loki da TVA encontrou o seu propósito no fim de sua série.

Claro que o público não é o único culpado. Muito produtor não sabe a hora de parar. A franquia X-Men, por exemplo, que só teve um filme considerado ruim até 2014 (o infame Confronto Final), caiu ladeira abaixo após Dias de um Futuro Esquecido, tendo perdido completamente a mão nos filmes seguintes e hoje é lembrado só como um universo ruim de personagens da Marvel.

Pôster promocional de X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014)

O Arrowverso deve ser o maior exemplo disso: com um começo tão promissor que literalmente reviveu a era das séries de super-heróis para TV, hoje em dia é lembrado só como um universo de tentativas baratas (não só em questão de orçamento) de adaptar os quadrinhos da DC. Isso se deu, não apenas, mas principalmente pelo fato de Arrow e Flash (e posteriormente Supergirl), as séries pilares deste universo, terem durado tempo o suficiente pros roteiristas se perderem mais de uma vez na construção do universo, causando um cansaço nos fãs e um declínio cada vez mais evidente de todo o universo.

Imagem promocional de Arrow, Supergirl, Flash e Legends of Tomorrow para a CW em 2016.

Inclusive, caso a Amazon não tome cuidado, o seu atual carro chefe pode muito bem cair no mesmíssimo buraco.

The Boys parte agora para a sua 4ª temporada, e de novo veremos Billy Butcher e os Rapazes tentando matar o Capitão Pátria. Vão conseguir? Provavelmente não. E não sei vocês, mas eu já estou ficando cansado. Até quando vão estender essas tentativas falhas cercadas de momentos absurdos (seja por violência ou pornografia extrema, talvez os dois) feitos só para "chocarem a internet"? Um fim – que não deve chegar tão cedo, visto que no dia que eu lanço esse artigo a série foi renovada para sua 5ª temporada um mês antes do lançamento da quart é necessário, e quanto antes acabar, mais a qualidade da série se preserva na memória do público.

Capitão Pátria (Anthony Star) em trailer da 4ª temporada de The Boys.

Um bom exemplo de série que cumpriu seu propósito e que, não importa o quanto encham o saco, não deve ter uma segunda temporada, é Watchmen (2019) a série é uma sequência dos quadrinhos de Alan Moore e não tem a intenção de expandir infinitamente esse universo, só de mostrar o epílogo dos eventos daquela história, como o mundo lidou com os atos de Ozymandias e encerrar a história do Dr. Manhattan. Se a série insistisse além dessa primeira temporada, seria só mais uma descaracterização de um quadrinho clássico em busca de dinheiro, mas se satisfaz em contar a história que tinha que contar e ir embora, e ao fazer isso, satisfaz o público junto.

Claro, um gostinho de quero mais pode existir, como existe em qualquer história fenomenal como a de Watchmen, mas depois que o hype passa e você racionaliza o que assistiu (e sentiu) você só sabe como um final, seja fechado ou ambíguo pra interpretação, é sempre bem vindo.

Jeremy Irons é Adrian Veidt, o Ozymandias.

No fim, enquanto a gente como público não aprender a apreciar tramas bem fechadas ou a curtir ambiguidades propositais na feliz intenção de gerar diferentes interpretações do público (vide o clássico Dom Casmurro e o recente Anatomia de uma Queda) continuaremos recebendo novas temporadas com as mesmas histórias, mas de nível cada vez mais baixo em qualidade.

– Tiago Sampaio.

Comentários

  1. Uma análise precisa de um “problema” que tem se tornado crescente. A ambição tem destruído boas histórias, de fato é necessário saber a hora de parar.

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