FURIOSA é tiro, porrada e bomba! | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU

 Apesar do (agora usual) convite pra assistir o filme com antecedência, alguns imprevistos impediram a gente de trazer essa review (que ninguém pediu) "na hora certa", mas antes tarde do que nunca!

Furiosa é um retorno à saga Mad Max depois de quase 10 anos do último filme, que, não só também serviu de retorno pra trilogia que acabou em 1985, mas que fez o nome dela completamente, gerando quadrinhos, um jogo (que também é muito bom) e varrendo as premiações de Hollywood, tendo concorrido a 10 Oscars (incluindo Melhor Filme, que raramente tem blockbusters de ação indicados) e levou pra casa 6 prêmios. Não é pouca coisa.

Divulgação: Warner Bros. (Facebook)

O novo filme não é uma continuação, então não necessariamente você precisa ter assistido nem ao filme de 2015, nem aos outros três pra embarcar nessa aventura, mas obviamente a experiência é incrementada quando se tem o contexto e a bagagem pra entender todas as referências do filme, que faz questão até de citar o jogo.

O longa (que faz jus ao termo, porque tem quase 2 horas e meia de duração) conta a história de Furiosa (claramente), personagem que introduzida em Estrada da Fúria (2015) interpretada por Charlize Theron, dessa vez interpretada por Ayla Browne e Anya Taylor-Joy em momentos diferentes de sua vida antes de se tornar a Imperatriz de Immortan Joe.

Por se tratar de uma origem, o filme funciona como um ponto de entrada pra franquia. Ou seja, se você não assistiu nenhum Mad Max, pode assistir Furiosa sem medo de ficar perdido porque o deserto pós-apocalíptico de George Miller não é um mundo complicado de se entender, principalmente quando muito dele também está sendo descoberto pela protagonista.

George Miller, este que criou a franquia e é diretor em todos os filmes, mostra que aos 79 anos ainda tem visão pra produzir longas de ação. As sequências de combate, perseguição de carro e as de combate durante perseguição de carro são extremamente divertidas de se assistir e muito gráficas – com gráficas quero dizer que Miller não sente remorso de mostrar tiros na cabeça nem de arrancar membros e jogar sangue diretamente na tela. Às vezes, o filme beira o nojento, mas essa ousadia faz de tudo mais divertido. É evidente que o diretor toma certas atitudes que outros filmes do mesmo gênero veriam como "assumir riscos" sem medo de ser visto com maus olhos e lida com tudo isso de forma natural, consequentemente transformando esses elementos incomuns em aspectos naturais do próprio filme.

Como eu disse antes, o filme é longo, mas não necessariamente você sente essa duração. Ele usa desse tempo pra te contar como a Furiosa chegou no ponto em que a conhecemos durante a Estrada da Fúria sem dar muitas voltas, focando nos pontos principais para o desenvolvimento da protagonista. Claro que quando a gente só acompanha os destaques da vida de alguém, faltam os momentos simples que trazem profundidade pros personagens, mas esse filme tem um ritmo tão frenético que não chega a fazer falta.

Esse ritmo inclusive é ditado logo no início e não diminui em momento algum. É constante e isso, junto de toda a abordagem cômica em diversos momentos do filme, ajudam a não deixar um filme de mais de duas horas entediante.

Junkie XL retorna pra trilha sonora, que sinceramente não é um destaque no filme. É bem esquecível e tem muita coisa que rouba muito mais a atenção em cena, como, por exemplo, os visuais.

A Estrada da Fúria, as 3 Fortalezas do Deserto e todo o cenário apocalíptico do mundo de Mad Max ainda é imenso e se faz colorido mesmo nas limitações de um vasto terreno de areia. Caso seja uma preocupação para você, bem provavelmente você vai se incomodar em alguns momentos, principalmente se comparar com o filme de 2015, mas a aventura da Furiosa é empolgante o suficiente para ativar a descrença e se divertir com toda a mentirada não convincente jogada na sua cara.

Apesar de Immortan Joe estar nesse filme, ele não é o antagonista da Furiosa. Se em Estrada da Fúria a jornada foi de libertação, aqui é de vingança. Vingança, a partir do momento que Anya Taylor-Joy entra em cena, porque a jornada que Ayla interpretou foi completamente de sobrevivência, em uma trama que constrói todo o ódio de Furiosa pelo novo vilão, Dementus.

Interpretado por Chris Hemsworth, o vilão é uma tentativa de ditador que busca dominar todas as 3 Fortalezas do Deserto, mas não necessariamente tem capacidade pra isso (o que não significa que ele não faça um estrago enquanto tenta). Hemsworth raramente passa seu carisma pros personagens que interpreta (vide Thor e Tyler Rake, de O Resgate), mas aqui ele faz um personagem que, apesar da crueldade e do papel antagônico à personagem-título, esbanja carisma e diversão. Não é o melhor vilão de um filme de ação, mas é perfeito para essa aventura.

Eu assisti ao filme dublado, e senti a qualidade excelente já padrão da dublagem brasileira até a Furiosa (já interpretada pela Anya) abrir a boca pela primeira vez. Letícia Salles (atriz e modelo) dá voz à protagonista, substituindo Carina Eiras, que não só dublou todos os trailers do filme, mas já é a voz de Anya Taylor-Joy aqui no Brasil há alguns anos. Quando um artista que não é dublador é chamado para trabalhar em dublagem de filmes, os chamamos de Star Talent. O problema é que Letícia não é tão Star assim, visto que só tem 2 trabalhos notáveis como atriz (Pantanal e Vai na Fé, ambas novelas da Rede Globo) e pouco mais de 250 mil seguidores no Instagram, o que não é pouco, mas dubladores geralmente são trocados por influenciadores que vão, teoricamente, alavancar de forma significativa o alcance da campanha de marketing do filme, como por exemplo Fábio Porchat em Frozen, dublando o Olaf, e o infame caso de Luciano Huck em Enrolados, dublando José Bezerra. Mesmo que esses grandes nomes ajudem na divulgação do filme, a qualidade da dublagem a longo prazo sempre é prejudicada, visto que quando a empolgação passa fica sempre a memória do resultado final, e não da campanha de marketing. No caso de Letícia, sequer houve campanha. A atriz só pôde divulgar que deu voz à Furiosa quando o filme saiu, e a repercussão tem sido apenas em volta da polêmica da substituição de Carina ao invés de uma repercussão baseada na popularidade da atriz. No fim, a dublagem no filme não é ruim como a de Luciano Huck, e assim como Max em Estrada da Fúria, Furiosa não fala muito. Mas quando ela fala e se escuta a voz de Letícia, principalmente em diálogos, é perceptível a diferença na qualidade do trabalho entre a atriz e quem, de fato, é dublador.

Fonte: Letícia Salles via Instagram (@letisalless)

No fim, isso só atrapalha a experiência em quem se liga com atenção para esses detalhes, seja na dublagem, seja no tal CGI. Como um filme de ação cuja proposta é literalmente tiro, porrada e bomba, ele entrega tudo.

VEREDITO: ★★★★

O retorno à saga Mad Max conta uma história que, destacada, é uma boa experiência de ação que vale muito a pena ser visto (e ouvido) numa experiência cinematográfica, e também é uma boa introdução para a franquia (que agora é multigeracional) de George Miller, que se destaca entre todos os diretores de filmes de ação nessas duas últimas décadas. Depois desse resumo, você ainda me pergunta se vale a pena assistir?

– Texto por Tiago Sampaio.

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