Robôs Gigantes nunca foram tão gays! | Mobile Suit Gundam: The Witch From Mercury

 

Estamos em junho, o mês do orgulho LGBTQIA+ e também o mês dos namorados. Por que não recomendar uma obra que se encaixa perfeitamente nesses dois temas? Por isso estou aqui para falar sobre lésbicas, robôs gigantes, guerra e o delicioso sabor agridoce da juventude em uma história movida pelo amor. Hoje, o assunto é Mobile Suit Gundam: The Witch From Mercury.

Começando pelo princípio, imagino que você deva estar se perguntando: "O que diabos é Mobile Suit Gundam?!" Bem, Gundam é uma aclamada franquia de animes de ficção científica e mecha, o famoso gênero dos animes de robôs gigantes. Foi criada por Yoshiyuki Tomino em colaboração com o estúdio Sunrise no final dos anos 70 e inclui séries animadas, filmes e jogos onde cada nova entrada geralmente serve como ponto de partida para novos telespectadores. A franquia ganhou notoriedade por seu alto realismo na representação do maquinário e pela maturidade na forma que aborda tramas políticas em torno de sua premissa. Isso resultou até mesmo em um novo subgênero chamado "Real Robots", que abriu espaço para uma nova onda de animes voltados para um público adulto que explorassem os conceitos dos Mecha.

Banner de Mobile Suit Gundam (1979)

Dentro desse contexto, em 2022, após um hiato de 7 anos sem uma nova série da franquia, surgiu The Witch From Mercury, um anime que trouxe como principal proposta a ideia de apresentar Gundam para um novo público e reinventar a franquia para uma nova era – literalmente, já que esta foi a primeira a estrear na era Reiwa do Japão – com diferentes apelos e sensibilidades. Com isso, The Witch from Mercury não só dá uma repaginada total em sua apresentação visual, adotando um traço mais "anime" do que suas antecessoras, como também é a primeira vez que Gundam apresenta uma protagonista feminina na forma da Suletta Mercury, que além de tudo ainda é LGBTQ+! Isso é um ponto fundamental para o desenvolvimento tanto da trama quanto dos personagens, mesmo que tenha seus altos e baixos.

Em The Witch From Mercury, somos jogados para um futuro distante onde a humanidade passou a habitar colônias pelo espaço. Mesmo assim, iniciou-se um conflito político entre aqueles que habitam essas colônias, os "espacianos", e aqueles que ficaram na Terra, os terráqueos. Esse conflito é causado pela extração de um material precioso utilizado para o desenvolvimento dos Mobile Suits (nome dado aos robôs da série) por mega-corporações que prezam mais o bem-estar dos privilegiados espacianos, deixando o povo da Terra às traças, em péssimas condições de trabalho e vida.




Antes do lançamento da série, foi exibido um episódio especial intitulado Prologue, que se passa 20 anos antes do início da história do anime. Nele, testemunhamos um conflito político em torno do sistema GUND, uma tecnologia neural que permite aos humanos controlar órgãos artificiais e maquinários por meio de conexão mental. Criada para facilitar a sobrevivência humana em planetas hostis, o GUND também passou a ser utilizado para fins militares na forma dos GUND-ARMS (ou GUNDAM para os mais íntimos), Mobile Suits aperfeiçoados por essa tecnologia. Contudo, seu uso é letal para os pilotos, podendo deixá-los com deficiências motoras e até mesmo levá-los à morte. Ciente disso, o Grupo Benerit, que liderava o conselho de desenvolvimento dos Mobile Suit, exige a apreensão de todo traço da tecnologia GUND e executa todos os responsáveis pelo seu desenvolvimento, iniciando assim uma Caça às Bruxas.

Dentro deste contexto, somos apresentados à Suletta, uma espaciana originária de Mercúrio. Com o objetivo de aprofundar seu conhecimento sobre o uso de Mobile Suits, juntamente com seu próprio modelo, o Arial, ela ingressa na Escola Técnica de Asticassia, chefiada pela megacorporação Grupo Benerit. Ao chegar lá, Suletta se depara com Miorine Rembran, que tenta fugir da escola se lançando ao espaço, apenas para ter seus planos frustrados por Suletta, que a salva. Mais tarde, Suletta descobre que Miorine é herdeira do Grupo Benerit e está prometida em casamento a Guel Jeturk, o combatente mais habilidoso, que recebe o título de "Holder". Após um conflito com Guel, Suletta é desafiada por ele, vencendo-o e recebendo o título de melhor combatente, juntamente com a mão de Miorine, que aceita a ideia de ter Suletta como sua futura noiva por razões políticas.

Arte oficial de Suletta junto a Miorine, divulgada pela Sunrise.

A trama se desenrola através das cartas colocadas na mesa e se desenvolve conforme Suletta, inicialmente uma jovem passiva sem atitude em relação à própria vida, começa a ganhar confiança sob a influência de Miorine. As duas aprofundam não apenas seu relacionamento, que começa como algo situacional em segundo plano e se torna algo íntimo e mútuo, mas também se envolvem cada vez mais em uma conspiração sem fim que inclui o Mobile Suit de Suletta – que é, obviamente, um Gundam –, o Grupo Benerit e os eventos ocorridos 20 anos atrás, que se entrelaçam com o presente e familia das duas.

O roteiro da série é assinado por Ichirō Ōkouchi, conhecido por sua contribuição no renomado anime original Code Geass: Lelouch of the Rebellion de 2006, bem como na aclamada adaptação do clássico mangá de Osamu Tezuka pela Netflix, Devilman Crybaby de 2018. Esse pedigree é claramente visível aqui,  com um primoroso desenvolvimento de personagens, uma trama política repleta de reviravoltas empolgantes e sequências de ação de tirar o fôlego. O impacto e as consequências na trama fazem jus ao legado da franquia e ao histórico de seu escritor.

Cena do episódio 1.

Maravilhosa em todos os aspectos, a representatividade é o ponto alto da série. Quando comecei a assistir, estava esperando que toda a dinâmica entre Suletta e Miorine acabasse com a conclusão de que "elas são apenas amigas!". Conforme os primeiros episódios avançavam, eu também ia me desprendendo cada vez mais da ideia de vê-las como um casal, e esse sentimento era compartilhado por muitos espectadores, como pude observar nos comentários feitos na época em diversas plataformas como Twitter, fóruns online e até mesmo nos comentários dos episódios na Crunchyroll. No entanto, a partir de um certo ponto na série, o roteiro decola rumo ao planeta do Yuri e o amor entre Suletta e Miorine deixa de ser apenas um plano de fundo para se tornar o assunto central. Até mesmo os perfis da série nas redes sociais abraçaram a ideia, comentando e dando indícios cada vez mais fortes até a grande confirmação oficial daquilo que todos já sabiam: Miorine e Suletta são um casal sáfico!

The Witch From Mercury orgulhosamente carrega a frase característica de sua protagonista: "Se você fugir, ganha uma, mas se seguir em frente, ganha duas",  e com isso, traz consigo o sucesso de uma série que não só acertou ao tentar se reinventar para um novo público, abraçando diferentes sensibilidades, mas também ao marcar o estrondoso sucesso do retorno de Mobile Suit Gundam e garantir que os olhos de todos aqueles que deram uma chance para essa história nunca mais esqueçam o que viram.

Fanart de Suletta e Miorine por @Hamitinha (EU!)

Você pode assistir a todos os 24 episódios + o Prólogo de Mobile Suit Gundam: The Witch From Mercury na Crunchyroll, inclusive com uma sensacional dublagem em Português do Brasil.

– Hami.



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