ULTRAMAN: A ASCENSÃO – QUANDO A TRADIÇÃO ENCONTRA O NOVO | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU
Criado por Eiji Tsuburaya, Ultraman é um dos grandes nomes do Tokusatsu (gênero de produções de super-heróis japoneses baseados em efeitos práticos) e também um dos maiores símbolos da cultura japonesa. Carregando um visual extremamente reconhecível, um nome de peso e inúmeras referências da cultura pop, Ultraman, mesmo com tudo isso, sempre teve certa dificuldade de alcançar o mesmo nível de popularidade no resto do mundo como tem em sua terra natal. Muito disso se deve à problemas envolvendo os direitos da marca e seu nome, mas isso tem começado a mudar recentemente. A Tsuburaya Productions, atual dona de Ultraman, iniciou um processo de expansão global da marca, criando novos projetos, facilitando a distribuição das séries e iniciando novas parcerias que finalmente fariam a marca alcançar o lugar ao sol que tanto merece. É nesse cenário que nasceu Ultraman: A Ascensão, filme sobre o qual falaremos hoje!
Lançado na última sexta-feira, dia 14 de junho, Ultraman: A Ascensão (no original: Ultraman: Rising) é uma reimaginação da franquia totalmente diferente de tudo o que tivemos até agora. Dirigido por Shannon Tindle (Coraline e o Mundo Secreto e Kubo e as Cordas Mágicas) e co-dirigido por John Aoshima (Duck Tales e Gravity Falls), o filme utiliza nosso amado gigante de luz para contar não só uma história sobre a importância do Ultraman como um símbolo para o povo, mas também para iniciar um debate a respeito de responsabilidade, solidão, preconceito e paternidade. Ao mesmo tempo, inova ao trazer uma nova visão para o gênero de Tokusatsu, inserindo aspectos da cultura de heróis ocidentais enquanto mantém a essência do que torna esse nome tão especial.
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Ultraman e o ovo de Gigantron |
Ultraman sempre foi uma franquia simples em sua ideia base, apresentando um alienígena gigante que protege o universo e vem à Terra para se unir a um humano de bom coração, com o objetivo de defender o mundo da ameaça de outros alienígenas mal-intencionados e de monstros gigantes que habitam nosso planeta. No entanto, ao longo do tempo, a narrativa das suas séries tem mudado significativamente, especialmente na forma como retratam os monstros despertados e os alienígenas invasores. Utilizando esse clichê tão conhecido, as séries começaram a abordar temas profundos, comentando sobre o preconceito contra imigrantes e povos nativos, transformando isso em um dos pontos centrais de suas tramas. Um exemplo marcante é Ultraman Z, que já comentamos aqui. E é nessa linha que o novo filme Ultraman: A Ascensão mergulha profundamente.
No filme, nosso herói é Kenji Sato, uma estrela do beisebol em ascensão nos Estados Unidos, que precisa recomeçar sua vida no Japão após 20 anos ausente para assumir o dever deixado por seu pai de ser o novo Ultraman. Ken é contra a ideia de ser o novo gigante de luz, pois vê o herói como o motivo da separação de sua família e da ausência de seu pai em sua vida. No entanto, ele assume o papel devido ao pedido de sua mãe, que agora está desaparecida.
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Ken Sato |
Ken começa o filme como um herói irresponsável, sendo desaprovado pela população local tanto como jogador quanto como herói e sobrecarregado pelo estresse de uma responsabilidade que ele nunca pediu para ter. Esse ponto inicial do filme se alinha perfeitamente com a verdadeira trama, que se inicia quando Ultraman se vê responsável por um bebê kaiju (nome dado aos monstros gigantes) que teve sua mãe morta pela força de defesa do governo, que agora também caça a criança. Aqui, Ken enfrenta novamente uma nova responsabilidade que ele não pediu: ser o pai solteiro de uma criança órfã vitima da guerra conta kaijus.
A trama se aprofunda ao mostrar Ken, inicialmente relutante com as responsabilidades repentinamente jogadas sobre seus ombros, tentando conciliar os novos aspectos de sua vida: ser pai, herói e jogador de beisebol. Ele passa por uma jornada de aceitação, descobrindo o verdadeiro significado de ser o Ultraman, enquanto põe sua vida nos trilhos novamente.
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Ken, na forma de Ultraman, junto do Bebê Kaiju. |
Como já pode ter notado, o filme possui um estilo artístico único, mesclando 3D com 2D que fez tanto sucesso nos últimos anos em obras como Homem-aranha no Aranhaverso, A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas e Gato de Botas 2: O Último Pedido. No entanto, aqui essa técnica alcança algo ainda mais original incorporando elementos da série clássica de Ultraman, como o uso marcante de linhas de tinta pretas e vermelhas, frames estáticos inspirados na panelização de mangás, e uma apresentação digna do teatro kabuki japonês, que tanto inspirou o tokusatsu como um todo. Cada frame deste filme se transforma em um espetáculo visual, uma composição quase impecável que faz seus olhos não desgrudarem da tela por um segundo..
No início, o design dos personagens pode causar estranheza, apresentando um estilo cartunesco e um herói muito esguio. No entanto, a imersão proporcionada pelo filme rapidamente dissolve essa primeira impressão, fazendo você se encantar por esses visuais únicos. Eles não apenas carregam toda uma história por si só, mas também conseguem ambientar rapidamente o espectador no universo do filme, transmitindo suas intenções e emoções de maneira poderosa e cativante, apenas através de seus personagens.
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Recriação do filme da sequência de 'ascensão' do Ultraman. |
O filme pode desagradar os fãs mais fervorosos da franquia, uma vez que se distancia bastante de certos aspectos tradicionais de Ultraman em favor de uma história única e na busca por uma nova identidade, o que alguns podem interpretar como uma "sabanização" — termo usado por fãs para descrever alterações em franquias com forte origem japonesa para atrair o público americano. No entanto, aqueles mais receptivos a novas experiências podem apreciar o que o filme realmente tenta alcançar: uma mescla equilibrada entre tradição e novidade.
Em um mundo onde nem tudo são flores, o filme deixa a desejar em algumas de suas sub-tramas. Ele apresenta muitos elementos intrigantes logo na introdução, porém não consegue desenvolvê-los com a profundidade que merecem. Muitas dessas histórias acabam ocorrendo em segundo plano, deixando o espectador com um sentimento de que seria bom ter visto mais de certos personagens e conflitos que são concluidos de forma insatisfatória.
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Ken enfrenta os dramas de sua vida dupla. |
Ultraman: A Ascensão evita os erros cometidos pelo anime de Ultraman da Netflix ao tentar agradar a todos, inspirando-se nos acertos mais recentes da Tsuburaya com a marca. Tomando como referência séries como Ultraman Z, Taiga e também Shin Ultraman, o longa cria algo único, ideal para novos telespectadores que não estão familiarizados com a excentricidade e a breguice charmosa (no melhor sentido!) que os Tokusatsus podem apresentar. Ao mesmo tempo, conquista o coração dos fãs mais receptivos dessa franquia, que valorizam a inovação sem perder a essência que torna Ultraman o que é.
VEREDITO: ★★★★★
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