'DEADPOOL E WOLVERINE' É UMA GRANDE PIADA INTERNA | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU
Há quem pense que a Marvel tem passado maus bocados devido à performance e/ou qualidade das suas séries e filmes depois de Vingadores: Ultimato. Na verdade, hoje ela se mantém nas nuvens se comparado com seu período de falência nos anos 90. O ocorrido não teve nada a ver com o audiovisual, só com ganância do CEO da editora na marca (Ron Pereleman na época), que aumentou o valor dos gibis, mas não lançava histórias boas o suficiente para competir no mercado (principalmente com a Image Comics "roubando" todos os seus melhores artistas para si). Na tentativa de salvar a editora, os direitos cinematográficos de todos os seus heróis mais famosos (logo, os mais caros) foram vendidos para grandes estúdios, como o Blade para a New Line Cinema (da Warner) e o Homem-Aranha para a Sony Pictures.
Assim, o Demolidor, o Quarteto Fantástico, e claro, os X-Men (assim como todos os personagens criados nesses núcleos) foram vendidos para a 20th Century Fox. Exatamente por isso que nenhum dos personagens de nenhum dos icônicos filmes dos X-Men dos anos 2000 apareceram em nenhum dos filmes dos Vingadores na década de 2010, mesmo ambos tendo nascido na Marvel e se encontrando tão constantemente nos quadrinhos.
Em 2009, a Disney comprou a Marvel e investiu o dinheiro que fez do seu Universo Cinematográfico o sucesso que é hoje. Em Julho de 2018, a Disney comprou a Fox. Os fãs foram a loucura com a possibilidade de ter os X-Men e os Vingadores juntos em tela depois de tantos anos deles disputando bilheteria diretamente, e demorou, pois a inserção ocorreu de forma gradativa. Com o Professor Xavier aparecendo rapidinho em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura e com o Namor citando, bem sutilmente em Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, que é um mutante.
Finalmente, 6 anos não só depois da compra, mas do último filme do Mercenário Tagarela, Deadpool & Wolverine dão início a essa era tão esperada: a chegada dos mutantes!
O filme tem total ciência do que ele é: uma transição, e usa isso ao seu favor ao contar a história. Aqui, Deadpool não repete exclusivamente atos de amor por Vanessa (interpretada pela atriz brasileira Morena Baccarin) e expande suas motivações para toda a sua família e seu mundo. Toda a justificativa para tirar o personagem do seu universo (a Terra 10005) faz sentido para ambas as franquias: Deadpool fez bagunça na sua linha do tempo (que divide com os X-Men) em Deadpool 2, a AVT (Autoridade de Variância Temporal, apresentada na série do Loki) se encarrega de lidar com anomalias nas linhas do tempo. 1 + 1 2, né? Até com Logan (2017) a trama se amarra, ao mesmo tempo que traz um Wolverine completamente novo para o tabuleiro.
Deadpool arrasta o Wolverine para seu conflito com a AVT |
Hugh Jackman retorna como um Wolverine que muito se parece com o que conhecemos 24 anos atrás, mas que é um personagem completamente novo. Seu passado e suas motivações são completamente novas e diferentes, reveladas no decorrer do filme. O Carcaju tem sua própria jornada baseada em redenção que se espelha na de Deadpool: ambos buscam ser algo melhor. Essa dinâmica é a melhor parte do filme!
Uma das falhas dos dois filmes anteriores da trilogia é como Wade Wilson é retratado. Nos quadrinhos, todo o humor do personagem é uma válvula de escape pra toda a solidão, auto-desprezo e dor contínua que sente. Não vou dizer que esse elemento não está nos filmes, mas aparece bem gradativo conforme a trilogia avança. No primeiro filme, o humor é exaustivamente escorado em punchlines pornográficas, mas agora é bem melhor equilibrado com piadas que ajustam o tom do personagem e adicionam a carga dramática que gira as motivações da trama. Não me entenda errado, o humor não amadureceu! Apesar da classificação +16 pra justificar os palavreados e a violência, tudo aqui é pra apetecer adolescente, só estão melhores utilizados do que no primeiro filme. Definitivamente é o filme mais divertido dessa trilogia.
Chamei de trilogia, mas claramente isso já é uma franquia, porque esse filme não soa em momento absolutamente algum como uma conclusão. Pelo contrário: É uma nova introdução, extremamente expositiva, que traz um monte de pedaços da Marvel Studios e da Fox em um pra formar o famigerado show de aparições surpresa que todo mundo tanto ama desde Ultimato.
Sim, o filme tem várias delas. Várias mesmo. Só que 99% delas são de personagens de filmes de duas décadas atrás e podem não passar nostalgia alguma pra quem só é familiarizado com o Universo Cinematográfico da Marvel que gira em torno dos Vingadores. Particularmente, eu amei as surpresas, mas porque sou um completo nerd que pegou todas as referências jogadas por segundo pelo Wade. A melhor forma de descrever esse aspecto do filme é como "uma grande piada interna", o que pode funcionar ou só decepcionar quem tá indo com uma bagagem menor de filmes e mesmo assim espera sentir nostalgia. Vou ter que esperar pra saber a reação do público geral.
A vilã, Cassandra Nova (Emma Corrin) podia ser bem mais coerente, mas me interessei muito pelo o que o tal do Paradoxo tinha a oferecer pra trama, até porque, são os planos dele que colocam Wade na jornada do filme, pra início de conversa.
Enfim, tecnicamente falando, a direção de Shawn Levy (Uma Noite No Museu, Gigantes de Aço) segue um caminho muito parecido com a de David Leitch no filme anterior, com umas cenas de luta completamente sensacionais ao som de músicas pop que mesmo eu tendo visto listadas na trilha sonora do filme, nunca estava esperando quando começavam a tocar. Só é uma pena que incluindo tantas músicas licenciadas no filme (como Bye, Bye Bye do *NSinc e Slash do Stray Kids) a trilha sonora original composta por Rob Simonsen ficou completamente apagada.
O filme é extremamente divertido - seja no humor ou nas cenas de lutas com vários personagens de meia idade - e prepara terreno pro futuro do Universo Cinematográfico da Marvel, não só dando um universo inteiro pra servir de playground para novas histórias na saga do Multiverso (que ainda deve rolar até 2027, terminando no filme Vingadores: Guerras Secretas) mas também disponibilizando espaço para novos (e esperamos que bons) filmes dos X-Men.
VEREDITO: ★★★★
Sim, vale muito assistir no cinema. Esse é mais um daqueles filmes com momentos propositais pro povo bater palma no cinema, mas se sustenta além da nostalgia da mesma forma que os dois filmes anteriores do Deadpool: entregando umas risadas gostosas com a jornada de não apenas um, mas agora dois heróis completamente disfuncionais.
- Resenha por Tiago Samps
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