Batman: Cruzado Encapuzado - Unindo o novo ao familiar | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU

 

Anunciada no início de 2021, Batman: Cruzado Encapuzado (Caped Crusader no original) é a mais nova série animada do Batman que chegou recentemente ao Prime Video depois de 3 anos bem confusos.

O infeliz falecimento de Kevin Conroy em 2022 adiou o processo de gravação de voz da série, que posteriormente foi cancelada pela Warner até ser retomada pela Amazon (sendo ironicamente a segunda produção do Batman a sair do MAX e ir parar no Prime Video em menos de um ano). Finalmente, apesar do pouquíssimo esforço da DC pra promover a série, ela saiu trazendo consigo uma mistura de aspectos novos e muita coisa familiar pra mitologia do Homem-Morcego.

A série é ambientada nos anos 40, época que o Batman foi criado, bebendo muito das primeiras histórias do personagem em Detective Comics, que consistiam em diferentes mistérios na cidade de Gotham resolvidos por uma nova e misteriosa figura que intriga não só os bandidos, mas a população e a própria polícia da cidade.

Trecho da abertura da série

Apesar da estética noir, a série não se esforça pra ser "pé no chão" e abraça o melhor que o aspecto ficcional da mitologia do Batman tem a oferecer. O Cara de Barro e o Fantasma Fidalgo (conhecido também como Cavalheiro Fantasma), inclusive, antagonizam os dois melhores mistérios e consequentemente os dois melhores episódios dessa série que é uma das poucas mídias atuais a abraçar também o lado detetive do Cavaleiro das Trevas.

Na produção executiva da série, entre outros nomes, estão Bruce Timm (um dos responsáveis pelas séries animadas clássicas do Batman, do Superman e da Liga da Justiça nos anos 90 e 2000) e Matt Reeves (o diretor da nova "Saga Épica" do Batman protagonizada por Robert Pattinson), com os episódios trazendo muitos elementos familiares dos trabalhos deles.

Batman: A Série Animada (1992) e Batman: O Cruzado Encapuzado (2024), ambas séries produzidas por Bruce Timm.

Mas não só de familiaridade vive essa série. Apesar de ter sim um momento nostálgico ou outro em relação a série dos anos 90, as inserções de elementos de quadrinhos, o uso do personagem Bruce Wayne, ambos completamente adaptados para uma estética dos anos 40, trazem um ar nunca antes visto nas histórias do Batman fora dos quadrinhos.

No decorrer dos 10 episódios, a série toma diversas liberdades criativas e alteram algumas coisas, como o Pinguim, que aqui é Oswalda Cobblepot. Sua personalidade se mantém a mesma, a mudança acontece só pela proposta da série de colocar mais mulheres em papéis de destaque. Dentro dessa ideia, temos a Arlequina, que nessa série tem a sua origem completamente separada do Coringa. Essa mudança é extremamente perigosa, mas muito bem feita aqui. Essa independência da personagem permite que seu desvio de caráter seja bem melhor mostrado do que em uma situação que só evidencia quão mal profissional Harleen Quinzel é como psiquiatra; Aqui, ao contrário, a personagem é completamente dedicada à sua profissão. Claro, vou evitar dar spoilers, mas também é valido lembrar que nos quadrinhos a personagem é canonicamente bissexual.

O novo design da Arlequina toma muitas liberdades, visto que a personagem só foi criada nos anos 90 por Paul Dini na série animada do Batman e não há uma referência dos anos 40 para Harleen Quinzel. Aqui, a vilã se aproxima muito mais de um bobo da corte do que do Coringa, o Palhaço do Crime.

Apesar de não ter sido renovada ainda (até o lançamento desta resenha), essa temporada constrói muita coisa que pode ser usada se puder desenvolver novos episódios, não só na aparição surpresa no final, mas já dropando 4 órfãos fundamentais para a Bat-família.

Conseguem reconhecer e nomear esses quatro passarinhos?

Não podemos finalizar a review sem falar de questões técnicas, que também não decepcionam.

A trilha sonora por Friederik Wiedmann é misteriosa, num tom sombrio — ou melhor, noir — que se encaixa perfeitamente em uma adaptação da Detective Comics da Era de Ouro (como chamamos o período entre os anos 40 e meados dos anos 60 no mercado de gibis norte-americanos).

A animação não é a mais diferenciada no meio, na verdade parece até bastante com as outras em que Bruce Timm está envolvido, mas tem o seu charme. 

A dublagem trás de volta Márcio Seixas como o Homem-Morcego depois de 7 anos sem dublar o personagem de forma oficial (teve o filme feito por fãs em 2021, Batman: Morrer é Muito Fácil); Evie Saide, que já faz a Arlequina na série solo da personagem, tá de volta aqui também. Se for pra falar de retorno, é muito melhor listar: Hélio Ribeiro como Harvey Dent, Sheila Dorfman como Mulher-Gato, Ronaldo Julio como Comissário Gordon, Alexandre Maguolo como Alfred e Guilene Conte como Barbara Gordon.

Mesmo que as vozes venham de cantos diferentes quando se trata de séries e filmes do Batman, é nítido o esforço para que vozes familiares integrassem o elenco da série e isso é sempre apreciado.

Até Márcio Simões voltou pra uma risadinha rápida!

Bruce Timm segurou sua uria por colocar Barbara Gordon como interesse amoroso do Bruce, algo que ameaçava de verdade a nota da série nessa análise. Como isso não ocorreu e o resto da série, como citada acima, está impecável...

VEREDITO: ★★★★★

O ritmo investigativo (detetívico?) da série pode não ser para todos os espectadores. O foco aqui é no Batman como um vigilante detetive, uma visão que só vimos em live-action, por exemplo, uma vez desde os anos 60 (em The Batman). É uma série que merece muito continuar e tem potencial pra adaptar muitas histórias boas, mesmo que de eras mais modernas de quadrinhos no Batman, para um contexto da Era de Ouro.

Todos os 10 episódios estão disponíveis no Prime Video.

– Texto por Tiago Samps.

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