O Batman NÃO é a Vingança.

Vamos falar de Batman!

A DC nunca larga o osso e está sempre lançando algo que gira em torno do Homem Morcego— seja nos quadrinhos, na TV ou no cinema. Desta vez, chegamos na estreia de Cruzado Encapuzado, a nova série animada para a Prime Video que imagina todo o núcleo de Gotham durante os anos 40, a década em que as primeiras histórias do personagem foram lançadas.

Se você acompanha esse blog há um tempo, leu algum texto meu (prazer, Tiago) ou me ouviu falando sobre o Batman em algum episódio do POD•ish•CAST, já sabe o quanto eu bato na tecla de que o personagem é muito mal adaptado e que, a maior parte do público que o conhece através principalmente dos filmes (estou falando de você mesmo, Christopher Nolan!), provavelmente desconhece o que o Cavaleiro das Trevas é ou sequer o que ele deve representar, pelo menos originalmente para Gotham, para e dentro da Liga da Justiça ou para todo o Universo DC.

Não me entendam errado! "Batman: O Cavaleiro das Trevas'"(2008) é um filmaço, mesmo que a trilogia se agarre em um medo profundo de explorar a narrativa incrível de Gotham City....

O Batman (personagem) foi criado na edição 27 do quadrinho Detective Comics, em 1939, pela dupla Bill Finger e Bob Kane. Como o nome da série de HQs já entrega, os quadrinhos continham histórias compiladas de detetives, e foi exatamente nesse contexto que o herói foi criado.

Nessa primeira história, o Comissário Gordon (persona bem conhecida entre os apreciadores do Universo do Homem Morcego) investiga o assassinato de um empresário ao mesmo tempo que deve tentar impedir que seus ex-sócios sofram do mesmo destino. Mas, antes que o Comissário sequer alcance o segundo alvo do assassino, o Batman, uma misteriosa e nova figura da cidade, chega pra solucionar o caso.

Capa de Detective Comics #27, publicada em Março (capa datada em Maio) de 1939.

Essa história fez tanto sucesso que, o que era pra ser uma aparição esporádica, tomou conta da série completamente. Assim, decidem lançar uma Revista intitulada com o nome do herói.

Com Detective Comics e Batman sendo publicadas simultaneamente, as HQs dividiram entre elas os dois principais núcleos que compõem as crônicas do personagem: as aventuras investigativas e as aventuras heróicas. Não preciso explicar qual ficou com o que nessa "separação de bens", certo?

Detective Comics dá razão para um dos vários apelidos do Batman ser "O Melhor Detetive do Mundo" com ele solucionando os piores casos de Gotham. Quem jogou a saga de jogos 'Arkham', se deparou com uma ótima adaptação desse lado do personagem: com missões onde precisamos solucionar as armadilhas do Charada, e investigar rastros de vilões para encontrar não só suas localizações e como derrota-los, mas também suas origens.

Inclusive, o  "Modo Detetive" é uma das mecânicas mais úteis e interessantes da saga de jogos 'Batman Arkham'.

Esse é o lado mais pé no chão do personagem (e mesmo assim, há muita ficção) e, todos os filmes que miram por essa pegada mais "realista" (com exceção de The Batman, do Matt Reeves com o Robert Pattinson) escolhem, por alguma razão, não seguir o caminho de Detective Comics e optam por descaracterizar a mitologia do herói (estou falando com você de novo, Christopher Nolan!).

E digo descaracterizar porque não, o Batman não é só o super-herói sem poderes da DC no meio da Liga da Justiça! Ele é o detetive, mas ao  mesmo tempo,  ele enfrenta tanta coisa absurda dentro e fora da área de Gotham que muitos suspeitam que ele seja um meta-humano sem nem saber.

As histórias da série em quadrinhos Batman, em publicação desde 1940, são as que exploram as aventuras mais "impressionantes" do herói. Foi na edição #1 dessa série que foram criados personagens  ilustres como o Robin, a Mulher-Gato e o Coringa.... e, conforme o tempo foi passando e a série avançando, outros vilões e aliados também.

Capa da primeira edição da HQ solo do Batman publicada em Junho de 1940. 

Aqui, em seus próprios casos, Batman enfrenta monstros feitos de barro, morcegos gigantes (literalmente), caras com tamanho suficiente para quebrarem um homem ao meio com as mãos, e tudo de mais surreal que se pode imaginar pra Gotham, porque ele passa a transitar de uma figura de detetiva para a imagem de um super-herói. Nunca foi pra ser pé no chão.

Cara de Barro, Morcego-Humano e Bane.

Eu já falei aqui, há muito tempo, lá no início desse blog (e com uma escrita bem diferente da que eu tenho hoje), sobre como o Batman também não é o cara durão que todo mundo pinta que ele é. Bruce Wayne tem defeitos e eles fazem dele um personagem muito mais complexo do que vemos em suas adaptações. Entretanto, é muito importante lembrar que, o menino quebrado que ele era gerou um herói e  não a Vingança como todo mundo acha.

Esse inclusive é o ponto de The Batman (2021): por mais que a jornada de Bruce Wayne como o Cavaleiro das Trevas tenha começado com o pretexto de vingança, ele se tornou a esperança por justiça na cidade de Gotham.

Ao fim do filme, Bruce percebe o que o povo de Gotham realmente precisa.

A dúvida que fica é: como um personagem tão icônico e tão idolatrado tanto pelo público quanto pela editora pôde perder muito de sua essência com o passar dos anos?

Minha esperança é que, com as sequências de The Batman, essa nova série Cruzado Encapuzado e a futura chegada de Brave and The Bold que o DC Studios está produzindo, o Cavaleiro das Trevas deixe de ser atrelado apenas a esse título e seja também o Maior Detetive do Mundo e a Esperança da Justiça em Gotham. Preferencialmente, essas três coisas simultaneamente!

– Texto por Tiago "Samps"