Speed Racer: Psicodelicamente Emocional | Recomendação de Gabriel

 

Em 2008/2009, os pais de um garoto alugaram um DVD na locadora do bairro. Eles já conheciam o personagem principal do filme por conta da série animada dos anos 60, mas seu filho não fazia ideia. Logo, a família se sentou para assistir a esse DVD alugado, e assim a vida do garoto mudou.

Bem, isso foi bastante dramático, mas nem tanto exagerado. Alguns filmes simplesmente mudam o rumo da sua vida, de uma forma ou de outra.

Perdido em um limbo de desenvolvimento desde 1992, Speed Racer tomou forma quando Joel Silver e as irmãs Watchowski se atracaram ao projeto, sendo lançado mundialmente em 2008. Baseado na obra de Tatsuo Yoshida, o filme segue o jovem prodígio piloto de carros de corrida Speed Racer, seguindo os passos de seu irmão falecido Rex Racer. Ele e a grande família Racer (Pops, Mama, Gorducho, Zequinha, Sparky e a namorada de Speed, Trixie) são ameaçados pelo grande conglomerado Royalton a se unirem ou não conseguirão fazer Speed crescer nas corridas.

Como uma adaptação, esse filme é uma anomalia. Quando se pensa em adaptação de quadrinhos/anime no início do nosso século, se pensa em "nada fiel, retirando os elementos fantasiosos". Mas Speed Racer, por algum motivo, vai para "tão fantasioso que não parece fiel". Não me leve a mal, o anime tem seus momentos fantasiosos (um carro mamute feito a Ouro e o próprio Mach 5), mas o mundo que ele habita ainda é realista, mesmo que o Corredor X desse filme seja um Batman (melhor que o do Nolan). O filme de 2008 é uma história realista em um mundo abstrato, digital, colorido e psicodélico.

Mas não é só no mundo que isso para, o filme é editado de uma maneira impossível de entender. Não no sentido "não sei o que está acontecendo" mas "como eles fizeram isso?!". Cheio de transições incríveis que só podem ter sido feitas com muita visão, filmando os atores em tela verde especificamente para elas e mesmo assim a iluminação em nenhum momento destoa do fundo pré gravado ou completamente falso. Além disso, as corridas são de uma arquitetura ímpar, indo pra cima, pra baixo, rodopiando e raramente, em linha reta. O filme é construído para a experiência cinematográfica.

Os personagens podem ser bem mais caricatos que no original (estou olhando pra você Snake Oiler), mas o núcleo principal age como pessoas normais, e a âncora do filme é a família Racer, que tem um destaque mais emocional que no desenho (até por que essa não era a proposta dele). Eles são o suporte de Speed quando ele ganha, perde e fica desiludido com o mundo das corridas, além de ter John Goodman e Susan Sarandon no elenco, que conseguem extrair perfeitamente a sinceridade do roteiro.

Na trilha sonora, Michael Giacchino resgata o tema de Nobuyoshi Koshibe e o usa sem parcimônia, além de resgatar alguns "motifs" menores da série e ficar bem próximo do estilo da trilha no início do filme, mas logo Giacchino já traz o seu estilo próprio com alguns temas de sua própria autoria que fazem o clímax do filme tocar mais fundo ainda. Um dos melhores trabalhos do compositor.

O filme é sobre se manter firme no que acredita em meio às provações, no caso aqui, as corporações que querem controlar a arte das corridas. Esse não é um tema novo para as irmãs Wachowski, de fato pode se argumentar que é o tema favorito delas. No filme, Speed deve confrontar essa corrupção com sua família e na pista de corrida, e no final do filme, na última volta mais emocionante do cinema, ele consegue fazer isso nas duas fronts.

E além de ser sincero, o filme é legal pra cacete.

"Não importa se as corridas não mudaram, o que importa é se deixamos as corridas nos mudarem." - X, Corredor



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