BEETLEJUICE AINDA NOS DIVERTE | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU

Reprodução: Warner Bros. Brasil

Apesar de não ter sido esperada ansiosamente por um grande público, uma sequência de Os Fantasmas Se Divertem (1988) era ensaiada há tempos, estando engavetada todos esses anos pelo direitor Tim Burton. E apenas ele poderia pensar em uma história com toda a estética e particularidades que esta aqui possui.

Em Os Fantasmas AINDA Se Divertem (2024), mais de 30 anos depois, a abertura com os créditos, a trilha sonora, a fotografia e a tipografia, todas preparam de forma combinada a mesma atmosfera do original nos trazendo uma sensação de nostalgia e animação do que pode estar por vir.  Uma coisa importante de eu, Luisa, deixar claro para vocês é que não tenho o costume de assistir trailers. Então, logo de cara, fiquei surpresa com a Lydia Deetz (Winona Ryder) ter como trabalho logo um programa de televisão tosco que tem como premissa buscar fantasmas. Sinceramente, não acho que aquela Lydia adolescente lá do original sequer cogitaria isso, porém é inegável que a sequência inicial do filme é bem-humorada.

O filme inteiro é mais divertido que o seu precedente e tem momentos engraçados bem pontuados. Porém, definitivamente, os momentos-piada deste novo longa são bem mais escrachados que a versão oitentista. Em vários momentos, eu ri horrores! O humor de ambos os filmes é construído nos exageros do personagem-título, mas o que me diverte mais no original são as pequenas sutilezas que as atrizes deram para suas personagens. As caras e bocas da Catherine O’hara para sua Delia e a figura sofrida emo-gótica da Lydia de Winona particulamente me agradam mais. Falando de O’hara, para mim ela foi a melhor coadjuvante do novo filme trazendo uma nova roupagem para a personagem que me divertiu muito e pudemos ver um pouquinho mais de como é a relação de madrasta e enteada que elas possuem atualmente.Enquanto Catherine O’Hara conseguiu incorporar Delia como se o original tivesse sido ano passado, vemos uma Lydia com uma personalidade mais acuada do que no original em relação às escolhas que ela acabou tomando na vida. O ponto de virada vem quando ela irá precisar contatar nosso querido BesouroSuco.

Lydia, Astrid e Delia Deetz.
Reprodução: Warner Bros. Discovery

É inegável o fato de como o Beetlejuice é icônico. Michael Keaton retorna ao seu papel como se nunca tivesse saído. É divertidíssimo como músicas retiradas do fundo do baú fazem parte de seu repertório e como ele as utiliza quando você tá menos esperando.  Seu personagem tem uma magia de sempre virar o filme de ponta cabeça toda vez que aparece, e falo isso no melhor dos sentidos! É incrível como podemos esperar qualquer absurdo vindo dele.

Michael Keaton parece ter se divertido como nunca interpretando Betelgeuse (Besouro Suco, na dublagem) mais uma vez.
Reprodução: Warner Bros. Discovery

Para esta sequência, uma nova personagem entra na jogada: a sua ex-esposa, Delores (Monica Bellucci), ainda mais perversa que ele. Todo o visual dela é impressionante, mas sinto que ela teve um certo potencial desperdiçado. A estética da personagem traz uma lembrança da personagem de Angelica Huston em Convenção das bruxas (1990), o que talvez se justifique com a curiosidade de que Huston foi cotada para fazer Delia no filme original mas acabou não podendo por questões de saúde. Durante todo o filme, constroi-se bem a vilania de Delores, porém o roteiro peca no último ato, não arrematando essa maldade com algum feito mais grandioso ao final para trazer maior impacto a sua caracterização. Poderiam ter usado ainda mais as habilidades que ela possui. Afinal, não é todo dia que uma sugadora de almas aparece na sua porta procurando retratação. Toda a busca por vingança dela por Beetlejuice acaba sendo contada apenas pelo ponto de vista extremamete duvidoso dele, e acabamos sem nenhum gosto das motivações da personagem e com uma trama bem esquecível.

Delores.
Reprodução: Warner Bros. Discovery

Astrid (Jenna Ortega), a filha de Lydia, que facilmente é possível recordar-se notável semelhança com Wandinha (2022), não acredita nessa mediunidade da mãe, mas irá precisar lidar com este lado inesperadamente.

O relacionamento entre as duas é estremecido por conta da morte do pai de Astrid, que criou um abismo em relação ao diálogo entre elas. As cenas que focam nessa questão foram mais rápidas do que eu gostaria, perdendo um pouco do sentimento de reconexão que deveriam passar. Eu pensei que a narrativa iria focar apenas nesta questão, porém precisa dividir espaço com uma paquera que surge na vida da garota: Jeremy.

Interpretado por Arthur Conti, Jeremy é uma adição que, a princípio, parece apenas um interesse amoroso com uma trama mais fofa para os fãs mais novos que chegam com Ortega, mas acaba sendo um artifício muito importante na ligação de Astrid com Delia de uma forma que, mesmo estando óbvio, me pegou de surpresa.

Jeremy e Astrid.
Reprodução: Warner Bros. Discovery

Esta continuação mantém uma linha narrativa bem similar ao filme de 1988 ao mesmo tempo que consegue modernizar a história de forma competente. Todos os elementos e regras estabelecidas em relação ao pós-vida foram bem reutilizados aqui. São justamente estes elementos, como o “Manual Dos Recém-falecidos” e a porta que precisa ser desenhada com giz na parede para o submundo é o que dão um charme a mais para a famosa estética Tim Burton do filme.


O ritmo de ambos os filmes, no entanto, às vezes se torna mais truncado. Neste ponto, acredito que a sequência acaba sendo mais dinâmica.  


A fotografia, por caminhar junto com a trama, expandiu o cenário indo para além na cidade do que os quatro cantos da casa onde a história é focada. Por conta disso, acaba que ela se torna mais aberta e clara, sendo o carro-chefe que empurra para o sentimento de atualidade presente, constratando com a sensação de clausura do original que o casal Maitland precisa enfrentar durante a história.


Esta claridade também se evidencia em alguns cenários novos apresentados no Além. Com esta expansão, fica claro a diferença que o orçamento possui, engrandecendo o filme mas sem deixar de lado os principais detalhes presentes no enredo que deixam a estética do filme encantadora.  


Novamente, a trilha é assinada por Danny Elfman que diga-se de passagem também é responsável por obras como a trilogia do Homem-Aranha por Sam Raimi (2002 - 2007), A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005) e Batman: O retorno (1992) e muitos outros filmes que você deve estar mais do que acostumado de ouvir os temas. Elfman traz muito do original tanto no retorno de faixas de 88, como em novas que se mesclam perfeitamente.


BeetleJuice é uma obra que toda vez que revisito seja o próprio filme ou o musical homônimo, eu me afeiçoo mais por sempre acabar me atentando a um detalhe que antes não capturava meu olhar. É uma sequência que precisa do contexto do anterior para uma experiência completa por conta das referências diretas que faz a todo momento, mas é uma atmosfera encantadora que merece ter a chance de ser assistida e aclamada pelo público. 


VEREDITO: ★★★½


Definitivamente faz jus ao primeiro! Respeitando-o, ao mesmo tempo que adiciona aspectos novos na obra. Um filme muito divertido caso você goste do original ou tenha curiosidade em conhecer esta pérola do cinema. E não se esqueça, Beetlejuice, BeetleJuice...


Reprodução: Warner Bros. Discovery


Texto por Luisa de Luca
Revisão de Tiago Samps


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