CORINGA 2: O delírio de uma continuação desnecessária | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU
Sendo uma das estreias mais esperadas do ano, Coringa: Delírio a Dois chega aos cinemas amanhã, quinta-feira, dia 03 de outubro. Nós da equipe do Nerdish tivemos a oportunidade de assisti-lo na cabine de imprensa e trazemos aqui o que achamos do filme.
Primeiramente, é inegável que a qualidade técnica deste filme é tão primorosa quanto o primeiro. É um trabalho que realmente se importa com o visual e a semiótica, não ficando para trás do seu precedente. A fotografia escolhida para essa história é realmente especial, dando esta roupagem única para o personagem com uma visão realista de alguém que dança entre o limiar da loucura.
Logo que o filme começa, temos uma abertura muito legal e divertida recheada de referências a filmes e a desenhos antigos, momento esse que provavelmente foi meu favorito do filme. O mais interessante dela é A Sombra, lembrando muito Peter Pan, que é um conceito que será espelhado durante todo o decorrer do longa.
O filme possui um ritmo diferente do primeiro, tornado-se mais leve por conta dessa presença mais latente das músicas. A história se constrói em volta do tribunal no caso do Coringa que será televisionado. Constrói-se assim, de certa forma, uma discussão sobre qual é o preço de conseguir fazer qualquer coisa para chamar qualquer tipo de atenção que seja.
Por falar em dança, muito se especulou sobre o quão musical seria este filme. Muitas pessoas possuem preconceito e uma convicção fechada do que é considerado um musical. Já até conversamos sobre isso em um episódio do nosso Pod•ish•cast. A sensação que passa é que o diretor mudou de ideia no meio das gravações de ser um musical propriamente dito com os personagens cantando e o misturou com cenas das mesmas músicas tocando em destaque. Houve até momentos de oportunidade perdida para ser uma cena musical. No entanto, seguindo a estética proposta desde o primeiro filme de século XX, o filme faz um ótimo trabalho de referenciar boas obras da Hollywood antiga primordialmente em cenas “inserts” que são descoladas da narrativa principal como muitos filmes musicais antigos possuem, representando o delírio dos personagens e a relação entre eles.
Como fã de musical no geral, e não apenas de um ou outro, é um tanto decepcionante, mas não surpreendente considerando as declarações do diretor quanto a estrutura do filme que houve este meio do caminho entre ser um musical completo ou não. O engraçado é relembrar que o primeiro tem a música muito presente em sua narrativa e que realmente ajuda a contar a história, inclusive no ponto de virada entre Arthur Fleck e O Coringa. Considerando isso, é natural pensar que uma continuação, por mais sem necessidade que ela for, seja um musical completo. Entretanto, é inegável que há essa enorme resistência com esta forma de contar uma história, principalmente do público consumidor esperado para filmes relacionados a super-heróis.
As atuações de Joaquin Phoenix e Lady Gaga se tornam destaque na trama. A química entre eles é respeitável, mas não chega a ser estrondosa. A Arlequina de Gaga realmente é uma visão da personagem que acaba por brincar e desiludir Fleck, gerando uma dúvida no ar de suas verdadeiras intenções com o protagonista e se o interesse dela realmente é amoroso. Não há como saber se ela também seria louca ou tudo é um fingimento para fins que não são explicitamente ditos. Um ponto bom do filme são justamente os momentos que ela ganha espaço para cantar. Se você for fã dela, talvez isso já pague o seu ingresso porque ela é uma coadjuvante com altíssimo destaque.
Na verdade, o final acaba sendo inesperado, mas de uma forma meio confusa, deixando um azedo na boca de não saber ao certo se você perdeu tempo assistindo ao filme ou não. Há uma sucessão de fatos que não ganham explicação por uma tentativa de elevar a emoção da trama que acaba por não se sustentar assim como foi feito no primeiro filme. Chega a ser anticlimático considerando a personalidade que conhecemos do Coringa. Com certeza, daria para criar cenas finais muito mais interessantes, porém o último ato acaba indo por uma vertente mais filosófica que culmina em uma ironia final que pessoalmente não me apetece. Eu, pelo menos, preferiria algo mais épico e teatralizado como são diversas cenas do primeiro filme. Quem sabe se torne um filme que cresça em mim com o tempo, mesmo que nem eu acredite nisso.
VEREDITO: ★★★
O filme é tecnicamente maravilhoso, mas acaba sendo narrativamente vazio de propósito. Pelo menos, temos as interpretações lindas da Lady Gaga de grandes clássicos da música norte-americana.
Texto de Luísa de Luca
Revisão de Emilly Lois
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