Arcane e a EVOLUÇÃO GLORIOSA das adaptações de videogames | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU

 League of Legends é um jogo que tem uma certa fama. Todo mundo já se envolveu com alguém que joga ou jogava o infame LoL. Afinal, o jogo está de pé desde 2009. Online há tanto tempo, era inevitável que um dia o jogo fizesse a travessia dos videogames para o audiovisual, e, em 2021, o jogo ganha vida — e que vida! A Riot Games, em parceria com a Netflix, decidiu fugir da ideia de investir em filmes em live-action para o cinema e investiu pesado ($250 milhões, o maior investimento na história de qualquer série animada) para entregar o que furaria completamente a bolha do LoL e redimir um pouco a fama do jogo, pelo menos ao que diz respeito à sua lore.

De primeira, a série chamou muita atenção por seu estilo artístico colorido, repleto de detalhes e cinematografia de qualidade, muito acima não só da qualidade do jogo nos últimos anos, mas de qualquer animação feita para televisão ou streaming na história. Mas depois, conforme os boatos da qualidade da série foram se espalhando, virou um dos maiores sucessos da Netflix, com a sua 2ª temporada sendo um dos assuntos mais comentados na internet nas últimas 3 semanas desde a sua estreia, e agora, no seu término, dando um fim à série.

A trama gira em torno de duas das diversas regiões do jogo, Zaun e Piltover, e apesar de referenciar outros pedaços da lore (como Noxius), a série deixa 90% de fora para contar com ainda mais detalhes a história dos poucos personagens escolhidos: Vi, Jinx, Caitlyn, Jayce, Viktor, e Ekko, ainda com a adição de Mel e Ambessa, personagens criadas exclusivamente para a série que cumprem um papel fundamental (e que já estão chegando ao jogo também). Outros personagens aparecem como coadjuvantes, como Singed e Heimerdinger, mas a maioria do elenco é formado por personagens originais, facilitando a contar a história dos personagens do jogo sem ninguém reclamar do boneco preferido ter tido menos destaque. Antes um personagem guardado para o futuro do que com potencial desperdiçado, certo?

Cartaz promocional da 2ª temporada com os principais personagens + o querido do Heimerdinger

Inclusive, a série aproveita ao máximo o potencial de todos os personagens, que passam por seus próprios arcos pessoais que em algum momento através dos atos da série se entrelaçam para desenrolar o grande ponto principal além do conflito entre Zaun e Piltover: a Hextec e os mistérios do Arcano.

No entanto, justamente o núcleo das personagens que trazem o conflito final na conclusão da série soa… corrido. As Medardas (Mel e Ambessa), apesar de personagens interessantes, tem uma história com muitas pontas soltas, o que não seria problema se tivéssemos uma continuação, mas a série não terá novas temporadas.

Ambessa e Mel Medarda, as personagens originais de Arcane envoltas pelo mistério da Flor Negra e as responsáveis pelas referências (e por plantar as sementes) do núcleo de Noxius, que pode ser a próxima região do LoL a ser explorada em uma série.

Não só há a história confusa das Medardas, como muitos pontos impostantes são deixados de lado para dar lugar a mais interações ao amado romance de Vi e Cait. Sim, os fãs adoram a história de amor das duas e, exatamente por isso, na segunda temporada esse plot tem um foco bem maior que na primeira, mas esse foco acontece às custas do foco de outros personagens com arcos mais importantes para a trama geral.

Caitlyn e Violet. Provavelmente as personagens mais comentadas de toda a série e, não coincidentemente, as com o maior destaque na 2ª temporada.

Por exemplo: Ekko, fundamental para a conclusão da história, mal aparece em metade da 2ª temporada da série. Provavelmente até a história das Medardas seria melhor contada se menos tempo fosse gasto na repetição que é toda a enrolação de CaitVi, que ao menos agradou os fãs, que certamente odiariam se fosse diferente — mesmo que isso nos entregasse um desenvolvimento ainda melhor dos núcleos de Hextec, da Flor Negra e até do próprio mistério do Arcano.

Dito isso, apesar de pender demais para um lado, os relacionamentos são justamente o ponto alto do roteiro e é exatamente o que faz o espectador sentir tudo que acontece na trama. Os destaques não românticos (estes são os mais importantes) são as relações de rivalidade entre as irmãs Vi e Jinx e os parceiros Jayce e Viktor. Graças ao rompimento dessas duas relações, a história tem seu início, e cabe às suas reuniões o seu fim.

Jayce e Viktor descobrem juntos a Hextec logo na 1ª temporada.

O final da série, apesar de amargo para alguns (eu até diria todos) os personagens, segue exatamente o caminho ideal para seus arcos, o que é um mérito absurdo dos roteiristas da série, que claramente tinham um planejamento muito bem definido para onde essa história devia chegar. Ao mesmo tempo que conseguem fazer exatamente tudo que os fãs (seja os que vieram dos jogos ou os que chegaram agora com a série) queriam antes da série terminar.

Ekko, o Garoto Salvador.

Como já foi dito, a série ainda tem uma direção de arte absurda, muito mais linda do que qualquer obra em live-action poderia produzir, graças ao tempo dedicado aos animadores a todos os detalhes desse mundo fictício e de seus personagens. Tal detalhismo se estende até no design dos figurantes, sendo tão únicos que, se eles aparecerem duas vezes, é muito capaz de você reconhecer.

E como não só de visuais se faz uma produção “audiovisual”, claro que a trilha sonora também é arte. Alex Seaver faz um ótimo trabalho não só co-compondo a trilha original, como selecionando as canções que fazem parte da série, as quais são às vezes até regravadas para encaixar no contexto das cenas (como Heavy is The Crown, da banda Linkin Park).

Claro que, como qualquer produção, a série tem seus tropeços. Mas na soma de todos os fatores, desde os técnicos até o resultado da história, Arcane se consagra como uma das melhores (e deixo em aberto a discussão se não é a melhor) série de todos os tempos. No quesito animação, é definitivamente a melhor.

VEREDITO: ★★★★½

Apesar de Arcane ter chegado ao seu fim definitivo nessa segunda temporada, a Riot já confirmou que outras séries baseadas em outras regiões e campeões da lore de League of Legends estão em desenvolvimento. Como se Deus quiser, elas vão demorar (dê o tempo para eles trabalharem. Arcane só foi tão boa porque fizeram com calma!), haverá tempo o suficiente para assistir e reassistir a essa série que, se não mudar a forma que você concebe o formato animado e até arte como um todo, é porque você não tem mais salvação nem entrada no reino dos céus… ou só um senso artístico muito pobre.


Texto de Tiago Samps

Revisão de Emilly Lois

Comentários

Postagens mais visitadas