Jornada nas Estrelas: Subalternos | Série antiquada, tempos modernos | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU
Desde a virada do século, Jornada nas Estrelas se colocou em um fosso de prequências, reboots e por último, sequências legado. Apesar de continuar assim em sua maioria, as coisas começaram a mudar em 2020. A Discovery pulou para o século 32, e uma nova série animada de comédia estreou.
Criada por Mike McMahan, Jornada nas Estrelas: Subalternos é a segunda série animada da franquia e a primeira de comédia, inspirada pelo episódio da 7° temporada de A Nova Geração de mesmo nome. Situada no Século XXIV, alguns anos após os eventos de Voyager, a série segue os subalternos da USS Cerritos, a 'subalterna' das naves da Federação, responsável pelos segundos contatos.
Como a maioria das séries da franquia, ela também demorou um pouco para achar seu caminho. Começando de modo irreverente até demais, somada ao design de animação reminiscente à onda de “animações para adultos” estilo Rick & Morty, a série não agradou de cara. Mas já na temporada de estreia, os personagens cresceram e a série se tornou uma real Jornada nas Estrelas, fazendo graça com a franquia e não dela, criando talvez o melhor final de temporada de todas as séries.
A evolução dos personagens (Becket Mariner, Brad Boimler, D'Vana Tendi e Samanthan Rutherford) foi uma surpresa, de certa forma não era necessária para a proposta da série e, de fato, seria mais fácil deixar eles parados no tempo e viver de referências. Mas a dinâmica faz você se apaixonar sem perceber por esse grupo de perturbados, e são eles quem fazem a série funcionar para os não iniciados na franquia.
Além de avançar o próprio núcleo, o trabalho feito em avançar/atualizar algo deixado pelas outras séries, seja a entrada na Federação de um povo que teve um episódio em Nova Geração, a mostrar que um subalterno de lá chegou a capitania. Essa continuidade e carinho, tanto de fan service quanto de piada, levou ao ditado de “Subalternos nunca se esquece”.
O retorno ao formato antológico, mesmo que haja uma linha narrativa ao fundo, dá uma liberdade de histórias que era comum na franquia, e permite a série ir a lugares e trazer personagens antigos naturalmente ao lado dos novos. O que ajuda também é ser uma série animada.
E Subalternos sabe o que é. Conseguindo fazer coisas que não ficariam naturais em live action, inclusive trazendo de volta espécies da Série Animada que não eram vistas desde 73.
A trilha sonora da série, por Chris Westlake e seus compositores adicionais Carl Johnson, P.J. Hanke, Freddy Avis e Gerrit Wunder é uma reflexão interessante da evolução da série. Ela, no começo, é uma coleção de 'homenagens' as trilhas de outras séries e filmes, sem muita rima ou razão, porém essas referências se tornam mais pontuais e os temas originais tiveram mais foco. Mesmo que a trilha continue com o mesmo 'som' das séries dos anos 90 (até a omissão da fanfarra de Alexander Courage é consistente), ao contrário delas, ela é bastante temática e em nenhum momento ela comete o erro de ser 'música engraçada'. E as referências não param em Jornada nas Estrelas, vão de Indiana Jones, Jurassic Park a Predador 2, e funciona muito bem.
A dublagem brasileira faz seu próprio trabalho de continuidade. A tradução se esforça para manter os títulos e textos utilizados nas séries originais e, talvez o que mais ponha a série naquele contexto aqui, é o título ter sido traduzido para Jornada nas Estrelas: Subalternos. Tradução de Star Trek não ocorre desde 2009, e é ótimo ouvir o narrador falar as palavras que eram o título no Brasil desde os anos 60. Infelizmente, quando se trata de personagens que retornam, a dublagem não traz o mesmo nível de nostalgia que no original pelo estúdio ser de São Paulo, mas não é como se a dublagem da franquia fosse um modelo de consistência. Curiosamente, os xingamentos aqui ficaram sem censura até as últimas temporadas, apesar de sempre haver os bleeps no original.
Pode até parecer que é necessário ter um conhecimento enciclopédico da franquia para aproveitar a série, mas ela acaba sendo um ótimo ponto de entrada por se aproveitar de tudo que a franquia tem a oferecer. Claro, em alguns momentos vai dar para perceber que o que você tá vendo é uma referência, mas como não é algo gratuito e sim oferece algo para os personagens, a referência se sustenta.
Não falo por ouvir outros dizerem que funciona, mas porque esse aqui começou a assistir antes de saber o que era um Borg (vulgo, bem cedo em A Nova Geração), e o prazer de reassistir, agora entendendo mais as coisas, faz a série ganhar um duplo gosto de quero mais. Mas todas as coisas boas…
VEREDITO: ★★★★★
Pode parecer contra intuitivo dizer que começou mais ou menos e dar 5 estrelas mesmo assim. Porém, no caso, o início ser como é faz parte da experiência, assistir o crescimento faz o final muito mais doce, a realização da mais doida das jornadas, audaciosamente chegando ao seu fim. E sendo só 50 episódios de 30min, talvez seja a série mais fácil de se assistir na franquia. ENTÂO VÃO ASSISTIR!
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