Star Trek: Seção 31 | Sobras Para Ninguém | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU

Mesmo nascida na TV, desde 1979, a franquia de Jornada nas Estrelas se tornou “cinematográfica”. A nova era da saga começou ao contrário: ressurgindo nos cinemas com o filme reboot de 2009 e depois na TV em 2017 com Discovery. As coisas retornaram ao normal com a franquia na TV sem nenhum filme à vista, mas isso mudou com o rearranjo do projeto Seção 31, que originalmente seria uma série spin-off de Discovery, no entanto foi retrabalhada para um filme após o Oscar de Michelle Yeoh. E ainda bem…

Star Trek: Seção 31 segue a Imperatriz Terráquea da Dimensão do Espelho, Philippa Georgiou, agora na dimensão usual. Recrutada pela nefasta Seção 31, ela deve enfrentar pecados passados quando uma arma que pode destruir o quadrante inteiro ressurge para assombrá-la. Com ela, uma equipe de renegados e desconjuntados deve salvar a galáxia.

Toda vez que algo novo entra em uma franquia estabelecida, a máxima “isso não é tal coisa” é dita e redita várias vezes. O mérito de um projeto como Seção 31 fazer parte de Jornada nas Estrelas não está em questão aqui, para o bem ou para o mal, agora é, sim, parte do que Jornada nas Estrelas é. O mínimo então que se pode esperar é de que qualquer inclusão seja coesa consigo mesma e com o universo; saiba o que é; não insulte a inteligência da audiência.

Apesar de Discovery não agradar e até falhar em alguns aspectos, ela cumpre o que se propõe a fazer. Georgiou veio dessa série e ela foi usada ao seu máximo lá, terminando em um caminho de redenção em uma conclusão satisfatória da personagem (foram até dois episódios só para isso). Imagine a surpresa de vê-la novamente na dimensão usual, de forma que faz o arco final dela na série se torne um tanto inútil.

Pior que isso, o filme falha em engajar. O filme é dividido em 3 partes (ex-episódios), se fosse uma série, não haveria motivo de continuar após o primeiro. A maioria dos personagens introduzidos ou são caricaturas, ou fracassam no seu papel de serem engraçados. O personagem do elenco secundário mais desenvolvido é Alok Sahar, interpretado por Omari Hardwick, mas só porque ele é um espelho (ha) de Philippa.

A parte mais interessante do enredo é tudo que se trata da Dimensão do Espelho. De fato, o filme começa lá e te engana que pode ser interessante, mas assim que a trama de verdade inicia e a fotografia começa a ter um ataque epiléptico com zooms aleatórios e giradas que chamam atenção desnecessária, dá para perceber que o filme quer ser algo muito específico, só não se sabe para quem exatamente.

Tudo isso poderia ser relevado se não houvesse o pecado imperdoável de insultar a inteligência de quem assiste diversas vezes. O triste é que a história base não é ruim, é algo que poderia muito bem fazer um filme de mediano a muito bom, porém as escolhas aqui feitas transformaram essa ideia em algo para ninguém, sobras de uma série e de um conceito mal explorado, que se não tivesse Jornada nas Estrelas no título, nunca teria nenhuma significância.

Em aspectos técnicos, visualmente o filme é um nível acima das séries atuais, mas ainda não seria material para sala de cinema (apesar disso nunca ter impedido a franquia antes), e CGI jamais foi a razão para assistir Jornada nas Estrelas. Jeff Russo retorna para a trilha sonora, resgatando alguns motivos e temas familiares, e apesar de soar grandiosa, é um tanto genérica, como seu trabalho nas séries. Há músicas cantadas no filme, que não parecem em nada com Jornada nas Estrelas e talvez seja o maior ponto de desconexão com a franquia.

Cronologicamente, esse filme se passa entre A Terra Desconhecida e o início de A Nova Geração, você não saberia disso assistindo e também não faz muita diferença (a menos que lembre/saiba quem Rachel Garrett é), a proposta do filme é ser ação que entretém, e decerto pode-se afirmar que uma dessas coisas ele fez. A ação é bem dirigida e coreografada, a primeira luta é até interessante e inovadora, mas como o resto do filme, é um brilho no meio de um vazio.

VEREDITO: ★★

Não machuca, mas também não agrega. Michelle Yeoh faz o seu trabalho bem, como sempre, e talvez valha a pena assistir se quiser começar Discovery. Não é o mesmo, para falar a verdade, esse filme não se parece em nada com a franquia, até aí tudo bem, mas sabe… podia ser bom também.

Texto de Gabriel Bezerra
Revisão de Clara Silvestre

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