Capitão América: Não tão admirável, nem tão novo mundo. | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU

O ano de 2025 para a Marvel Studios, em apenas 2 meses, tem sido de pura empolgação. Com a nova série do Homem-Aranha no ar e o revival de Demolidor chegando em março, na TV e no cinema vai ter conteúdo para todo tipo de fã, e o público se mostra bem animado para Thunderbolts* e Quarteto Fantástico nos próximos meses. O que tem passado despercebido, no entanto, é o filme do novo Capitão América que chegou hoje (13 de fevereiro) aos cinemas brasileiros — e sim, já assistimos!

Estrelando Anthony Mackie, Capitão América: Admirável Mundo Novo acompanha Sam Wilson tentando desvendar uma conspiração no meio de um evento de proporções mundiais, capaz de ditar a nova ordem mundial (que, inclusive, quase foi o título do filme). Thaddeus Ross, que antes era general do exército e foi o principal responsável pelo Acordo de Sokovia que gerou a Guerra Civil, agora é o presidente dos Estados Unidos e tenta convencer Wilson a formar os Vingadores novamente, mas obviamente, o Capitão América tem um pé atrás em confiar no homem que tanto sabotou seu time.

Ross é uma peça central do filme, mas agora é interpretado por Harrison Ford (Indiana Jones), devido ao infeliz falecimento de William Hurt em 2022. O filme brinca bastante com a mudança de visual do personagem, mas Ford entrega uma das melhores performances do filme brincando. O que não é difícil, visto que além dele, todas as outras adições agem como portas ou se expressam como peixes, e as únicas interpretações legais de se assistir são as de personagens que já tiveram interação prévia.

Presidente Ross (Harrison Ford) e Capitão Wilson (Anthony Mackie).
Divulgação: Marvel Studios

Anthony Mackie É o Capitão América, e espero ainda ser por um bom tempo, porque ele sabe muito bem representar não só a angústia emocional de Sam Wilson como o substituto de Steve Rogers, mas a dificuldade de fazer esse trabalho sem o soro do super soldado. Todas as questões raciais levantadas em Falcão e o Soldado Invernal (2021) são continuadas e respeitadas aqui, embora não necessariamente evoluídas.

O filme respeita todo o desenvolvimento da série — o que é um alívio, considerando o que fizeram com o arco da Feiticeira Escarlate entre WandaVision (2021) e Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (2022) —, embora, inegavelmente, a sutileza dos assuntos expostos ao público tenha se perdido entre as produções, mesmo com os roteiristas da série integrando o time de escrita do filme também. Espere diálogos mais como os do episódio 6 da série, e menos momentos de “Show, don't tell” (mostrar sem dizer) como nos episódios 1 a 5. Inegavelmente é uma sequência da série de Sam Wilson com Bucky Barnes, trazendo de volta até Joaquin Torres (Danny Ramirez) assumindo o manto do Falcão, mas dificilmente está no mesmo nível.

Joaquin Torres trabalha com o Capitão América há 3 anos na cronologia do Universo Cinematográfico da Marvel. O tenente da aeronáutica dos Estados Unidos conheceu Sam Wilson durante uma missão, quando ele ainda era o Falcão, e foi essencial no combate contra os Apátridas após o Blip.
Divulgação: Marvel Studios

Ainda sobre a falta de sutileza, o filme sente a necessidade de se explicar do início ao fim, e de formas nada naturais, atrapalhando a integração entre os personagens que retornam, como o próprio Ross e Isaiah Bradley (Carl Lumbly), que quase tem um arco interessante (e é o motivador do Sam dentro dessa conspiração).

Quando é uma história de Sam Wilson, o filme é interessante, e amarra uma ponta solta deixada lá no filme dos Eternos (2021) que muita gente se perguntava quando seria resolvida, e agora abre caminho para muita coisa importante. Mas o filme não se contenta em ser uma história do Capitão América e busca reforço em elementos da mitologia do Hulk, acaba mergulhando demais nessa fonte que vira um fosso, e muitas vezes soa como uma sequência de O Incrível Hulk (2008).

Todas as ideias interessantes aqui (Sociedade da Serpente, Hulk Vermelho, o Líder) sequer são necessariamente mal utilizadas, e até funcionam como adaptação, mas são desperdiçadas em um roteiro que é fraco, com diálogos ruins e uma tentativa — nada — barata de ter a mesma atmosfera de Capitão América e o Soldado Invernal (2014).

É uma história que pode divertir, mas que não escapa de quão esquisitos são seus aspectos técnicos.

As cenas de luta carregam um conceito interessante nas dificuldades do Capitão Wilson no combate em solo. Mas, só o conceito e o esforço de Mackie em transpassar essa dificuldade são atrapalhados por uma edição com cortes excessivos, mesmo que a coreografia seja semi-decente. Ao menos, no combate aéreo, é quando o filme se destaca. A movimentação é bem satisfatória e foge do problema que grande parte dos filmes de super-heróis tem quando começam a lutar voando: serem inúteis, porque só vão ser resolvidas se o herói e o vilão pousarem (tô falando com você, Homem de Aço).

Missão na Ilha Celestial, introduzida no filme dos Eternos.

A edição de som desse filme, embora não deva ser percebida pela maioria, ainda consegue ser pior. Nunca pensei que imploraria mentalmente para uma trilha parar de tocar, e me vi fazendo isso mais de uma vez assistindo ao filme. Não por ela ser ruim (o que de fato não é, mesmo sendo bem genérica e se segurar muito em violinos frenéticos e estridentes e no piano), mas por ser mal utilizada.

É engraçado também como o filme é escrito e anda como se fosse cheio de mistérios, mas absolutamente todas as “revelações” foram entregues durante os trailers. Se você for da turma que evita teasers e trailers até ver o filme (e também não leia quadrinhos, claro), a trama da conspiração deve ter bem mais graça. Isso não significa que o filme não tenha surpresas!

VEREDITO: ★★½

Mesmo com uma direção e edição ruins, um roteiro com diálogos fracos, o Admirável Mundo Novo apresentado pelo novo Capitão América pode divertir a muitos, e ainda abre caminho para novas histórias não só dos Vingadores, mas também dos X-Men!

Texto de Tiago Samps

Revisado por Emilly Lois

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