Jornada nas Estrelas: Deep Space Nine | Desafiando os Moldes | Recomendação de Gabriel

 

De vez em quando, em uma franquia vem uma mídia para quebrar os moldes. Na encolha, como em jogos ou quadrinhos, ou se tiver sorte, um filme ou série, com níveis variados de sucesso. Jornada nas Estrelas teve mini quebras nos moldes, a começar com A Ira de Khan, mas Deep Space 9 pode ter sido a mais bruta por audaciosamente… permanecer no mesmo lugar.

Jornada nas Estrelas é uma série exploratória, a missão desde o início é “localizar novas vidas e novas civilizações”, mas Deep Space 9 (ou A Nova Missão, ou A Fronteira Final, como era chamada na 1° Temporada — a tradução tava testando nomes—, até desistirem na 2ª), como o nome indica, é uma base estelar: os personagens não saem dela para explorar, e até quando saem a partir da 3ª temporada, ainda não é para explorar.

Essa pode ter sido a maior das quebras, mas não acaba aí. A série usou “a visão de Gene Roddenbery” (para Nova Geração, não era a mesma da série clássica), que fez A Nova Geração ser um pouco monótona, mais como uma lista do que não fazer. 

O Sisko

A série acompanha o comandante Benjamin Sisko, traumatizado com os eventos de “O Melhor de Dois Mundos” (A Nova Geração), recebendo uma missão da Federação dos Planetas Unidos de cuidar da transição de governo de Bajor na ex-estação Cardassiana que paira sobre o planeta para, eventualmente, trazer Bajor para Federação. Bajor estava em uma ocupação Cardassiana (os Nazistas espaciais), até que os Bajorianos (os judeus da segunda guerra, ou palestinos, não é tão 1:1 assim) os expulsaram usando táticas de guerrilha e terrorismo.

Logo de cara, a série apresenta personagens quebrados, ideologias diferentes, conflitos interpessoais e uma ideia de arco serializado, coisas que ainda não haviam sido feitas na TV pela franquia. Somado a isso, ela também adentra fundo na religião e política de Bajor (e não se engane, essas duas coisas andam de mãos dadas lá) quando a fenda espacial e os alienígenas que lá habitam, que os Bajorianos acreditam serem seus deuses, falam com Sisko e inadvertidamente fazem dele seu Emissário segundo uma profecia.

Por estarem presos em um só local, a série é forçada a olhar mais para os personagens, e explorar suas relações e conflitos. E não só dos principais, mas dos secundários e dos antagonistas também, às vezes até demais nesse último. Ainda há episódios antológicos, afinal não se pode ser completamente serializada com 26 episódios por temporada, mas por conta de seu foco no desenvolvimento dos personagens, não há o sentimento de “perda de tempo” enquanto o enredo maior não avança.

Exemplos disso são os episódios em que Kira deve lidar com as repercussões da ocupação, que o Odo realiza uma investigação, que o Quark tem que lidar com sua sociedade capitalista, que a Jadzia enfrenta suas vidas passadas, e os episódios obrigatórios de cada temporada em que O'Brien deve sofrer.

Da esquerda para a direita: Major Kira, Doutor Bashir, Benjamin Sisko, Odo, Jadzia Daz, Chefe O'Brien (o homem mais importante da história), Jake Sisko & Quark.

Estou de propósito, mantendo informações em segredo, então aqui vai uma lista de coisas que você pode pular se já se convenceu: há um metamorfo na estação, o povo dele governa o quadrante do outro lado da fenda espacial; eles fazem uma Invasão Secreta para tomar o quadrante da Federação, levando a uma guerra nas estrelas. Essa trama é a maior parte da série — o Worf de A Nova Geração e que você pode conhecer pelo clichê que ele dá nome, recebe uma real personalidade na série… além da estabelecida de ser um pai ruim; os Ferengis, uma espécie ultra-capitalistas, recebem um tratamento mais aprofundado aqui; a volta do Universo do Espelho; a Seção 31 é introduzida; a Federação recebe seus tons de cinza, que sinceramente, já estavam lá, A Nova Geração só tratava a abundância de Almirantes corruptos como casos isolados; melhor comemoração de aniversário de uma franquia.

Nem tudo são flores, por mais progressista que a série seja, ainda sim algumas ideias estranhas passam com muito afinco da parte dos roteiristas (o grande “fetiche mal disfarçado”), outras são usadas tantas vezes que perdem o que tinham de interessante no início, e a analogia dos Cardassianos pode atrapalhar algumas rotas que tomaram na história. 

A dublagem, como todas as séries de Jornada nas Estrelas até Enterprise, recebe um elenco diferente depois da 1ª temporada, dessa vez não completo, Orlando Drummond, Nizo Neto, Leonel Abrantes e Luiz Sérgio Vieira se mantém por toda a série. Infelizmente, a melhor voz para O Sisko, que foi o grande Paulo Flores, foi trocada na 4ª.

Acredito que tem algo para cada um na Base Estelar 9, um porto para uma miríade de gostos e pessoas, é dinâmica, engraçada, política, intrigante, sabe o que é e já começa mais certeira que A Nova Geração. Foi um risco que compensou e jogou a franquia para frente, e apesar de não ser a mais típica das jornadas, vai audaciosamente.


Escrito por Gabriel Bezerra 

Revisão por Emilly Lois

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