Seu Amigão da Vizinhança, Homem-Aranha é surpreendentemente ESPETACULAR e refrescante!

Revelada durante o Disney+ Day de 2021, Spider-Man: Freshman Year foi anunciada como uma série que seguiria o Homem-Aranha do Universo Cinematográfico da Marvel antes, durante e depois da Guerra Civil (2016), nos seus anos iniciais como o Amigão da Vizinhança. A série seguiu com esse planejamento por um tempinho, tendo até conversado sobre uma 2ª temporada chamada Sophomore Year, possivelmente entre De Volta ao Lar (2017) e Longe de Casa (2019). No entanto, nunca saberemos como essa série seria, porque, conforme seu desenvolvimento avançou, mais ela se distanciou um pouco do UCM, e com a Marvel Studios entrando na era dos universos alternativos e o sucesso que X-Men '97 teve contando uma história isolada, a série se tornou Your Friendly Neighborhood, Spider-Man, reimaginando as origens do Homem-Aranha dentro do UCM, mas muito mais voltada para o universo aracnídeo.

Se a trilogia “Casa” jogou o Homem-Aranha dentro do UCM, essa série animada faz o contrário, jogando o universo dos Vingadores na origem de Peter Parker, e é isso que faz essa série se destacar: não só mostrando o que poderia ter sido caso a Marvel não tivesse as restrições da Sony, mas construindo um novo universo familiar e, ao mesmo tempo, distinto, que tem sido muito interessante de acompanhar.

Há algumas diferenças claras tanto dos gibis, quanto dos filmes aqui: Ben Parker faleceu ainda ANTES de Peter ser mordido pela aranha, que também vem através do Doutor Estranho ao invés de uma feira de ciências ou da Oscorp. São mudanças que podem soar estranhas para quem já está familiarizado com o personagem, mas que são completamente ignoráveis por conta do roteiro excepcional entregue por Jeff Tramell, capturando perfeitamente a dualidade de Peter Parker e o Homem-Aranha, principalmente nesses anos iniciais, com os conflitos que sua vida dupla lhe traz e a ingenuidade da juventude.

Norman Osborn cumpre o mesmo papel que nos filmes. Para quem já conhece o personagem, inclusive, nenhuma ação de Norman passa sem um pé atrás, e a série se aproveita disso com diversos momentos para duvidarmos de suas intenções. Tony Stark assume, sendo o “padrinho” de Peter, mas logicamente funciona infinitamente melhor por ser um personagem, de fato, do núcleo do Homem-Aranha. Mesmo assim, isso não faz dele um Homem de Ferro 2.0 (mesmo havendo precedentes nos quadrinhos para isso).

Norman Osborn, no áudio original da série, tem a voz do ator indicado ao Oscar Colman Domingo, que inclusive seria uma ótima escolha para o papel em live-action em caso de futura aparição no UCM!

O elenco de apoio é um dos pontos mais altos aqui, e não só de Osborns ele sobrevive! Além de Norman e Harry (que felizmente não é um esquisito como geralmente é nos filmes), temos May e, protagonizando o melhor arco da temporada, Lonnie Lincoln, o Lápide!

Lonnie tem uma história com um foco surpreendente, que obviamente não tira os holofotes de Peter, mas tem muitos momentos em que acaba brilhando mais por conta própria. Quando um roteirista sabe o que faz, não tem para onde fugir, e faz sentido que Tramell se solte mais escrevendo sobre a realidade de um jovem pobre negro do que a de um jovem pobre branco.

Só é engraçado como o elenco tem uma boa quantidade de personagens de fora do núcleo aracnídeo, como Nico Minoru e Pearl Pagan, que são heroínas a parte do universo Marvel. O modo como as personagens têm sido usadas é bem interessante, e como eu disse, apesar do estranhamento inicial dessas escolhas, o uso no roteiro bem escrito faz isso ser facilmente ignorado, por vezes até esquecido. Caso queiram saber quem elas (e outros personagens) são nos quadrinhos, fizemos uma postagem no Instagram sobre, mas é bem provável que acabe virando spoiler de temporadas futuras…

Não basta só uma escrita boa em uma produção audiovisual, né? Mas ao menos no áudio, a série entrega. Principalmente na questão trilha sonora, que é completamente Homem-Aranha (mesmo entregando um tema novo), e ainda traz muitos temas familiares, como dos Vingadores e do Demolidor. Mas na parte visual, a escolha artística é um pouco estranha. Assim como para X-Men '97, o estúdio decidiu seguir uma mescla de 2D com 3D (ou um 3D que simula 2D). Na série dos mutantes, com o tempo, acaba caindo no gosto, principalmente durante as cenas de luta, mas é muito mais fácil imitar uma animação dos anos 90 em 3D do que um quadrinho estático dos anos 60.

E é a única coisa que a série tira dos gibis de 67 também! Apesar de todo o papo da inspiração nas histórias de Stan Lee e Steve Ditko, a personalidade de Peter e o teor dessas histórias do Homem-Aranha estão bem mais próximas ao UCM do que qualquer coisa. Mas como adaptação, ainda é melhor do que tudo dos cinemas. Até porque, tanto Tobey, quanto Andrew, quanto Tom, se afastam de algum aspecto clássico do Homem-Aranha, tendo inclusive diversos afastamentos em comum.

Arte da abertura do episódio 10, “Se este for meu Destino”.
A abertura de todo episódio traz uma arte que simula capas de quadrinhos.

O final da série traz uma grande farofa, com as tramas da temporada todas empurradas no episódio 9 e o 10 servindo de epílogo, conversando com o piloto da série e preparando terreno para novas histórias nas próximas temporadas (a série já está renovada para a 2ª e 3ª). Muitos elementos dessa preparação remetem a manias que, em outras séries de super-herói (como The Flash) e até do próprio Homem-Aranha (Ultimate Spider-Man) dificilmente funcionam a logo prazo e os roteiristas costumar perder a mão, mas como essa primeira temporada surpreendeu, o jeito é torcer para que o time claramente competente dessa série continue a surpreender nos próximos anos.

VEREDITO: ★★★★½

A série procura explorar muito do Universo Homem-Aranha, contando uma nova origem mesclando com elementos do Universo Marvel tanto cinematográfico, quanto quadrinesco. E apesar de repetir algumas coisas vistas como erros em versões passadas — que de fato são apenas sequelas de seu tempo, de uma história modernizada para a linguagem do público atual —, contorna bem com uma escrita que entrega boas dinâmicas de personagens e conflitos interessantes, somado apenas a uma animação que com certeza poderia ser um pouco mais bonita.

Texto de Tiago Samps

Revisado por Clara Silvestre e Emilly Lois

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