Espelho, Espelho Meu... Essa Adaptação Convenceu? | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU

Você, com certeza, sabe de cor a história da Branca de Neve. O primeiro longa animado dramático do Ocidente, a primeira princesa da Disney, todas as suas mil versões. A jovem mais bela do reino, não só pela aparência, mas pela gentileza e humildade—qualidades que enfurecem a Rainha Má, levando-a a planejar sua morte. No fim, Branca é salva por um beijo de amor verdadeiro.

A versão live-action da Disney segue essa essência, mas com algumas atualizações necessárias. Dirigido por Marc Webb (O Espetacular Homem-Aranha, 500 Dias Com Ela), o filme respeita o original sempre que possível, mas convenhamos: uma Branca de Neve fiel à animação de 1937 simplesmente não funcionaria em 2025. Com 88 anos de diferença e incontáveis revoluções sociais pelo caminho, a trama original já não se sustenta da mesma forma.

Houve controvérsias quando Rachel Zegler (que interpreta a personagem título) mencionou as mudanças na história, mas sejamos honestos: alguém realmente esperava que, quase um século depois, a protagonista ainda fosse uma donzela sonsa, acordada por um príncipe aleatório que mal interagiu com ela? Em tempos em que o machismo e a misoginia seguem se enraizando, é essencial que as novas gerações vejam princesas que podem ser gentis e humildes, mas também fortes, ambiciosas e donas de seus destinos. E nisso, o roteiro de Greta Gerwig e Erin Cressida Wilson acerta em cheio.

O figurino deixa a desejar. Mesmo enquanto Branca de Neve ainda vive com seus pais, o Rei e a Rainha, suas roupas são simples, remendadas, e só vão ganhando volume conforme o tempo passa e o reino cai sob o domínio da Rainha Má. Para uma transição mais coerente, faria muito mais sentido que ela começasse com trajes dignos de uma princesa e, ao longo da música Onde Reina o Amor, sua vestimenta fosse se transformando gradualmente, refletindo seu crescimento e a mudança de sua realidade. Quando Branca de Neve é levada para colher maçãs, pouco antes do caçador alertá-la para fugir, seu figurino muda para o clássico vestido azul e amarelo, que permanece até o fim. O detalhe que realmente causa estranheza, além das mangas longas, é o comprimento: ao invés de um vestido longo e fluido, a saia termina no tornozelo, um pequeno ajuste que faz uma grande diferença na forma como ela é percebida enquanto princesa. Talvez a escolha tenha sido feita para que Branca parecesse mais jovem, mas não vejo necessidade disso. Um vestido longo e menos volumoso teria transmitido melhor a energia de realeza.

As músicas, escritas por Benj Pasek e Justin Paul (dupla de The Greatest Showman) não são tão memoráveis assim, sendo mais calmas e lentas comparado ao que atrai a atenção da nova geração. No entanto, são boas letras e coerentes com a narrativa. Uma mudança significativa foi a remoção de Someday My Prince Will Come, canção icônica do filme original e querida por muitos fãs da princesa. A decisão faz sentido, já que esta nova versão não gira em torno de um príncipe salvador, o maior desejo de Branca de Neve aqui é a liberdade, não o casamento. Isso significa não haver romance? Pelo contrário. O príncipe foi substituído por um jovem plebeu, e os dois compartilham momentos musicais marcantes. Em Problemas de Princesa, eles se conhecem e se desentendem, enquanto Deve Ser Você revela, mais tarde, os sentimentos que nascem entre eles.


No geral, as atuações deixam a desejar. Rachel Zegler como Branca de Neve (assim como em qualquer outro papel que já interpretou) não entrega o suficiente. Sua bela voz não compensa a falta de expressão, tornando a personagem apática. Ainda assim, é um pouco melhor do que Gal Gadot como Rainha Má, que não tem nem a intensidade necessária para o papel, nem a potência vocal para sustentar o número musical da vilã. Embora a música original não seja das melhores, a dublagem de Sylvia Salusti na versão brasileira consegue transmitir as emoções que Gadot simplesmente não alcança.

Além das atuações fracas, o filme sofre com uma iluminação instável, que muda bruscamente e, na maior parte do tempo, deixa tudo com um tom cinzento nada agradável. O CGI também é um problema: as sete criaturas da floresta têm um visual caricato, e a decisão de substituir os clássicos sete anões por esses personagens animados digitalmente não faz sentido. No fim das contas, o papel deles na trama continua o mesmo, só que com um nome diferente e um acabamento pior. O uso excessivo de CGI também compromete momentos que poderiam ter sido visualmente impressionantes. Um exemplo claro é a queda de Branca de Neve na floresta encantada, que tenta evocar a queda de Alice no País das Maravilhas, mas falha miseravelmente. Outra cena prejudicada é a de Deve Ser Você, que poderia ser mágica, mas acaba ofuscada pelo fundo artificial e sem vida.

VEREDITO: ★★★

Apesar de suas falhas, a adaptação entrega uma experiência que funciona dentro da proposta de um filme infantil. Ainda que alguns elementos deixem a desejar, a reinterpretação da protagonista é um ponto positivo: finalmente, Branca de Neve deixa de ser apenas uma donzela à espera de um príncipe e ganha mais propósito na história.


Texto de: Emilly Lois

Revisado por: Tiago Samps

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