Ruptura: Aflição, mistério e muita técnica! | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU

Não é todo mundo que têm acesso a uma assinatura da Apple TV+. Na verdade, nem é tanta gente no Brasil que saiba da existência desse streaming, que apesar de “pequeno” (em popularidade, porque convenhamos, é a Apple), é lotado de conteúdo de qualidade.

Dentre diversas séries e filmes exclusivos dos quais vale a pena checar, está Ruptura que, com muita tranquilidade, é um dos melhores seriados da atualidade.

O Thriller (traduzindo: suspense) vencedor do Emmy e quebrador de recordes de audiência americana, narra a história de 5 funcionários de uma empresa chamada Lumon, que submete uma parte dos seus funcionários a um processo que divide a sua mente em duas. A chamada Ruptura apaga todas as informações da sua vida pessoal quando se está no trabalho, e ao passar pela porta afora, as memórias do trabalho são apagadas (o que sinceramente soa como uma alternativa maravilhosa). No entanto, nem a “persona” do trabalho sabe do que a Lumon se trata, e todo esse mistério por trás das motivações da empresa, somadas às motivações pessoais de cada personagem para desafiar a Ruptura, constroem uma narrativa muito mais que intrigante, por vezes extremamente aflitiva e desconfortável (propositalmente).

A atmosfera não se dá somente no excelente roteiro, mas em como a série é produzida. Desde a música tema composta por Theodore Saphiro, que com basicamente 5 notas do piano evoca curiosidade, até a fotografia de Jessica Lee Gagné, que destaca o enclausuramento da Lumon e separa os dois mundos apresentados.

O destaque mesmo fica para o elenco, que é completamente absurdo e contempla Adam Scott, Britt Lower, John Turturro, Zach Cherry e Christopher Walken, todos incrivelmente dirigidos por (entre outros diretores, claro) Ben Stiller. O ator de Uma Noite No Museu, aqui, se mostra um diretor absurdo, sendo o responsável pelos melhores episódios em ambas as temporadas da série.

A única explicação que consigo encontrar para alguém desgostar de Ruptura é a falta de paciência para a trama, que é densa e requer atenção às sutilezas, algo que a geração atual de público, mesmo que já adulto, é incapaz de conceber. A série em si é tecnicamente impecável e qualquer um que preste atenção nesse aspecto se encanta, mas qualquer um que aprecie um bom suspense fica preso no mistério da Lumon.

A primeira temporada responde muitas perguntas conforme avança, mas termina levantando ainda mais questões que a 2ª temporada rapidamente retoma em um ritmo ainda melhor (até porque, desacelerar a loucura que foi aquela season finale seria burrice), dobrando a dose de aflição e explorando ainda mais a ideia das diferentes vidas e desejos dos internos e externos, deixando muito claro que, independente para aonde a série leve a jornada dos Marks, terá um fim amargo.

O mistério em volta da Lumon também traz uma metáfora não muito sutil, mas muito bem integrada na série acerca do papel da religião no capitalismo, e como narrativas religiosas são justificativas perfeitas para pavimentar a estrada da exploração. No atual momento da série (que ainda não está renovada, mas pode ter uma terceira temporada), o “glorioso plano do Kier” permanece sem muitas respostas, mas não precisa ser um gênio para entender que é um pretexto com um fim que, se não for extremamente bizarro, deve ser mais um comentário sobre corporativismo. Se não os dois!

VEREDITO: ★★★★★

Caso não tenha ficado claro no decorrer da resenha, Ruptura é uma série que se destaca em técnica de direção, performances e na entrega de um roteiro que casa drama e humor, gerando mistérios extremamente aflitivos protagonizados por personagens carismáticos e trágicos na mesma intensidade.


Texto de Tiago Samps

Revisado por Clara Silvestre e Emilly Lois

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