PECADORES: Ancestralidade, Música e Vampiros! | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU

 

O nome Ryan Coogler pode não ser reconhecível para sua mente, mas você certamente já trombou com um trabalho dele. Ambos os filmes do Pantera Negra, que são uns dos melhores trabalhos que a Marvel Studios tem a oferecer, são dirigidos por ele. E se filme de herói não for a sua praia, também foi o responsável pelo único filme da trilogia Creed a ser indicado ao Oscar (Nascido Para Lutar). É um nome novo no cinema, mas que já vem criando uma boa carreira (e boas parcerias, mas falo melhor sobre isso depois).

Seu novo projeto que estreia na véspera da sexta-feira santa, dia 17 de abril, apesar de familiar nos nomes com os quais trabalha, é bem ambicioso contando histórias diferentes do que trouxe em seus trabalhos destacados: Pecadores se passa no Mississipi nos anos 30, em um dos diversos ápices da segregação racial nos Estados Unidos, acompanhando os gêmeos Fumaça e Fuligem (Elijah e Elias Moore, ambos interpretados por Michael B. Jordan) e sua nova empreitada em um clube de Jazz exclusivo para negros, após acumularem riquezas ao redor do mundo.

Os gêmeos buscam auxílio de outros ótimos personagens que compõem o elenco de apoio do longa, como Annie (Wunmi Mosaku), Delta Slim (Delroy Lindo), e claro, Mary (Hailee Steinfeld) mas o destaque fica com Sammie Moore, o primo caçula dos Gêmeos, filho do pastor da cidadezinha, que sonha em ser um cantor de jazz e é o trunfo da dupla para dar gás no seu novo estabelecimento.

Sammie, o “Pastorzinho” é interpretado por Miles Caton em sua primeira experiência como ator, surpreendendo muito na sua entrega. Caton é um cantor também novato, com carreira recente (e um muito bom, com uma voz absurdamente potente), e isso é muito bem utilizado ao longo do filme que, enquanto explora as diferentes vivências do povo negro no período em que se passa, traduz alguns sentimentos para momentos musicais encaixados de uma forma que, um anti-musical, não veria este filme como um.

Miles Caton aprendeu a tocar violão exclusivamente para viver o Pastorzinho no filme.

Quando se trata da música, inclusive, obviamente Ludwig Göransson trabalha como o compositor da trilha sonora — como já é de praxe em todos os filmes de Ryan Coogler. — É inacreditável como um homem sueco trabalha tão bem com música afro, sem entregar trabalhos genéricos. Os tambores africanos de Pantera Negra, assim como o hip-hop de Creed, em nada se parecem com o Jazz e Blues entregues aqui. O único padrão que se mantém é a qualidade completamente acima da média na produção de uma trilha digna de qualquer playlist.

Ainda falando dos parceiros de Coogler, temos Michael B. Jordan em dose dupla! Sinceramente, não há muito desafio em interpretar dois personagens neste filme. Os Gêmeos são propositalmente separados por boa parte da sua jornada, e mesmo juntos, não são muito diferentes em personalidade e motivação, mas são fáceis de se diferenciar e são personagens igualmente divertidos de se acompanhar. Juntos ou não.

Da esquerda para a direita: Elias/Fuligem e Elijah/Fumaça.

Todo o elenco funciona bem e entrega, acima de tudo, carisma. Se procura um filme de terror, Pecadores entrega muito mais divertimento nas interações do personagem e uma história satisfatória na jornada contada. A trama dos vampiros, inclusive, chega de fininho, depois que os personagens estão propriamente introduzidos e enturmados entre si, mas ela se amarra perfeitamente ao todo e põe a cereja em cima do bolo com ação, uma pitada de terror e até mais humor brincando com os clichês do subgênero vampiresco.

É um filme que, com muita facilidade, pode agradar a diversos públicos. Há romance, ficção, música, uma forte presença de história e cultura afro-americana, e tudo isso muito bem escrita e integrada uma à outra. A direção de Coogler pode não ser, visualmente, a mais diferenciada do cinema, mas a forma que ele conta suas histórias, acima de tudo esta, com criatividade e propósito, o faz diferenciado.

VEREDITO: ★★★½

Com um elenco muito bem escolhido, uma trilha sonora potente e uma jornada absurdamente divertida, Pecadores é mais um filme sobre a América negra, para pessoas pretas, por pessoas pretas, usando o contexto do conflito racial como plano de fundo, um fato da época em que o filme se passa, focando na vida dos personagens além do racismo enquanto se permite ser criativo e fictício.

Texto de Tiago Samps

Revisado por Luisa de Luca e Emilly Lois

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