Andor: A Guerra nas Estrelas acaba de ficar real | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU

 

Na época em que a Disney estava, com muito afinco, promovendo o Disney+, ela acabou por dar sinal verde para inúmeros projetos para tacar na plataforma. A esse ponto, a qualidade desses projetos já é infame, junte a isso um escritor que pouco se interessava à franquia que fora atribuído, em um projeto que é prequência de uma prequência sobre um único personagem aparentemente desinteressante e temos uma fórmula de um desastre.

E assim, Andor estreou no dia 21 de setembro de 2022. Estrelando Diego Luna, Stellan Skarsgård, Elisabeth Dulau, Adria Arjona, Genevieve O'Reilly, Denise Gough, Kyle Soller e muito outros. A série foi criada por Tony Gilroy, conhecido por seus thrillers políticos como Conduta de Risco e a franquia Bourne, além de ter tomado as rédeas da produção de Rogue One.

Tony Gilroy e Genevieve O'Reilly no set da 2ª temporada de Andor.

A primeira temporada pode ser intitulada de “A radicalização de Cassian Andor”, que passa por um arco similar ao de Jyn Erso em Rogue One, só que bem mais aprofundado. Mas, além disso, a temporada é sobre a máquina fascista ser o controle por base do medo, por ser composta de pessoas sem poder em cargos de poder, que uma rebelião não pode acontecer sem ação e até que ponto ela deve ir.

A segunda temporada é sobre como a propaganda fascista separa as pessoas e cria seu próprio inimigo para trazer gente para o seu lado, e como uma rebelião não pode combater as táticas fascistas em conflito interno, em inação ou no centro, ainda se utilizando dos privilégios, mas como um front unido, e os sacrifícios que essa vida traz consigo. Porém, essa temporada sofre com um desfoque que a primeira não possuía...

Elisabeth DulauStellan Skarsgård dão um show de atuação sutil.

Os 12 primeiros episódios de Andor se passam em um período de 2 a 3 meses. Eles contam uma história em 4 arcos, mas a história geral é uma só e apesar de cada arco ter seu próprio desfecho, tudo leva ao último episódio da temporada de forma incrivelmente satisfatória.

Os últimos 12 episódios continuam o formato de 4 arcos, mas cada arco se passa em um ano diferente, unificados por uma história maior, mas os personagens acabam soltos, alguns sem um rumo, com conflitos diferentes em cada conjunto de episódios que acabam parecendo que muito mudou, mas, ao mesmo tempo, nem tanta coisa assim. O formato de 2 episódios de construção e um de execução estabelecido na primeira temporada continua a funcionar, e a quebra do formato leva a um sentimento de ansiedade proposital, e apesar de amarrar a série tematicamente, o final abre mais para os acontecimentos de Rogue One que um encerramento como o fim da 1°. 

Reuniões imperiais são as partes mais interessantes da série.

O Império, retratado principalmente pelo BSI, nunca foi melhor escrito, exemplificando a força a distância, mas a fraqueza ao chegar mais perto. Os rebeldes, paranoicos e fanáticos, competindo entre si, não haveria revolução sem eles, mas só se pode ir tão longe assim. Essas são peças já estabelecidas no cânone de Star Wars, quer seja verdade que Lucas baseou a franquia na guerra do Vietnam ou não, e a série não só se utiliza dessas peças, como intensifica e aprofunda o universo que habita.

Andor se utiliza dos eventos estabelecidos que o cercam e os melhora, e nenhum personagem mostra mais isso que Mon Mothma, interpretada brilhantemente por Genevieve O'Reilly desde suas cenas deletada em Vingança dos Sith. É estranho saber que Thrawn está perseguindo o Esquadrão Fênix ao mesmo tempo que os eventos da segunda temporada acontecem? Sim, mas funciona.

Além do próprio universo, Andor não está interessado em ser sutil sobre o nosso. O fascismo não é algo novo para ninguém, e nem é necessário ir abrir um livro de história para se familiarizar (mas é bom que abra!). Os americanos adoram olhar para o próprio umbigo, e apontar para seus próprios grupos como os rebeldes ou para o Trump e dizer que a série está direcionada a ele (sem perceberem que eles já se utilizam das táticas fascistas há muito tempo, seja para instituir poder na América Latina ou na guerra do Oriente Médio). Entretanto, a série fala sobre um assunto universal e cíclico que pode ser conectado à muita coisa, história antiga e atual em uma roupagem de Star Wars, com muita honestidade.

Tudo isso amarrado em um roteiro, que apesar das críticas anteriores, é mais que sólido, e é um dos melhores. Vinte e quatro roteiros dessa qualidade é muito difícil de se encontrar (esse é o número de episódios de uma série da CW), e a maior prova da nuance são as diferentes interpretações que cada um tem sobre as motivações e ações dos personagens. Além das diversas construções de mundos e detalhes que merecem uma segunda assistida para pegar.

O design de produção da série e a direção de arte são sem iguais, cada planeta e cidade parece um local vivo e real, isso por conta de também utilizarem locações reais. Os figurinos retornam ao senso de moda das prequências e os melhoram, ao mesmo tempo que também resgata o aspecto rebelde da trilogia original, além ser essencial na hora de construir os novos mundos. A fotografia da série não é espalhafatosa, se atem no realismo, o que acaba gerando uma leve estranheza quando algo digital aparece, mas no geral é linda.

A trilha sonora de Nicholas Britell é perfeita para a série. Apesar de estar abafada na maior parte do tempo e não ser o esperado para Star Wars, ela ainda se mantém no aspecto mais importante e essencial do que é ser uma trilha de Star Wars, ela é temática. E o que Britell faz com seus temas é comparável à John Williams, mesmo que não soe como ele. Mas na segunda temporada, Britell só pôde retornar para um episódio, que é notável, seu substituto foi Brandon Roberts, que mantém o som e estilo estabelecidos, mas não tem a mesma chance de utilizar os temas, pois a temporada, nas cenas mais críticas, decide reutilizar faixas sem relação temática em cenas com a única razão de “soa bem”.

Esse também não é o único problema da série. Logo no início, ela se vê na obrigação de explicar o sotaque de Diego Luna, e não faz nada com o fato de Cassian ter sido sequestrado por uma mulher branca que pensou que estaria salvando a vida dele, o separando da irmã, algo que ainda acontece hoje em dia. Outra coisa é um padrão curioso, que de ocorrer tantas vezes, acaba por chamar a atenção: todo personagem de cor que aparece e ganha um pouco de destaque é o primeiro a morrer (dá até para dizer que o Saw é o primeiro a morrer em Rogue One), somado a isso a branquitude em que a série termina, fica nítido algo que com certeza não foi proposital, mas é estranho que tenha ocorrido 8 vezes.

“A opressão é a máscara do medo.”

Mesmo com esses “poréns”, não há dúvidas de que não há nada melhor na franquia no momento, se a segunda temporada decepcionou um pouco, foi pelo padrão alto que a primeira colocou juntamente com a espera de 3 anos, e isso diz mais sobre a série que qualquer coisa. Star Wars sempre foi um palco fértil para qualquer tipo de história, Andor poderia ir a qualquer lugar, ao invés disso, resolveu aprofundar a história que já estava lá.

VEREDITO: ★★★½

Deveria Star Wars ser Andor a partir de agora? Não. Você deveria dar uma chance mesmo que sua praia seja o lado místico da franquia? Espero que já tenha dado se está aqui! Os fãs da série podem ser um pouco queixo pro alto, mas é melhor relevar, continua sendo Star Wars, só com algo para dizer.

Revisado por Emilly Lois e Clara Silvestre

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