O atual cabo de guerra político em Star Trek
"Eu digo isso sem tomar nenhum partido político, que é parte do que significa convidar todo mundo para a tenda. Uma das minhas coisas favoritas em Jornada nas Estrelas, é que alcança através do abismo. Pessoas de todos os lados do espectro político amam por diferentes razões. Isso é algo que nós queríamos manter verdadeiro aqui." (Kurtzman, 2025)
Alex Kurtzman disse isso segundos depois de contar que Starfleet Academy seria sobre o ódio destruir a empatia, uma ideia da extrema direita americana que está em voga no momento.
Mas seria possível? Uma série que apelasse a todos os lados do espectro político? A direita americana gosta de olhar pra trás e dizer que a lacração não estava nas séries antigas – já fizemos um post destacando como isso é balela – e que as novas séries só pensam em ideologia e agendas ao invés de ser Jornada nas Estrelas.
Discovery, o maior alvo dessa parcela de fãs, recebe todos os rótulos: woke, SJW, DEI (o que é irônico, já que in-universe, IDIC significa a mesma coisa). Usando de desculpa as mudanças visuais no cânone, as críticas a um romance gay, personagens trans (no total 4 de um elenco regular de 15) e à protagonista (uma mulher negra) entram nem tão sutilmente. Ao que parece, o futuro dessa parcela dos fãs não inclui certo tipo de gente.
Chega Strange New Worlds. Elenco? Só personagens clássicos (brancos) em sua maioria, e não ouse reclamar da Uhura, a única pessoa negra na ponte (de novo). Trataremos o destino de Pike não como uma futura deficiência, mas como a morte, mesmo que a Série Clássica não tenha tratado assim. Personagens LGBT+? Nenhum regular. A primeira temporada ainda tentou, a segunda possui uma cena com um casal de mães, a terceira absolutamente nada e, inclusive, aumentou o número de relacionamentos heteronormativos de 2 para 5.
Somado a isso, a temporada foca em uma posição que já havia tomado anteriormente com Spock em episódios (ditos) cômicos, o de determinismo genético. Spock sempre foi Vulcano, essa era sua criação e seu modo de vida, ele sofreu na infância por ter uma mãe humana e isso o fez se esforçar pra ser aceito como Vulcano. Os seus amigos humanos sempre cutucavam ele sobre "a parte" humana, apelando à suas emoções, mas ele nunca as teve por ser "meio humano", ele as teve por ser Vulcano.
Porém, Strange New Worlds trata Spock como um ser dividido em dois. A genética humana é um empecilho real para ele ser totalmente Vulcano. Quando se torna humano, ele de repente não sabe lidar com emoções, mesmo que o controle dos Vulcanos seja uma prática aprendida. Quando os humanos se tornam Vulcanos, eles já vêm com a lógica absoluta, o que os torna racistas contra Spock, por algum motivo.
No mesmo episódio, a personagem que (por algum motivo) é parente muito distante de Khan, se torna predisposta geneticamente a ser Romulana, manipuladora com sede de sangue. Por que? Por que o gene que nem deveria mais estar no sangue dela tem poder?
E no último episódio da temporada, a soma da mistura genética que fizeram em uma personagem a torna o ser supremo para trancar o mal absoluto do universo. Repito, a eugenia a tornou o ser perfeito.
Como já dito anteriormente, eugenia é algo sério em Jornada nas Estrelas, desde 1967, porém já nos anos 90, eles a transformaram em algo mais sci-fi via manipulação genética, um erro terrível que suaviza algo sério aqui no nosso tempo também, mas SNW segue nessa concepção. Então pode ser sem pensar que eles acabaram caindo em ideias essencialmente nazistas.
Porém, junta a citação de Kurtzman, o tratamento de personagens com/que terão deficiência, o futuro sem pessoas da comunidade LGBT+, o papo do determinismo genético e o uso benéfico de eugenia... fica difícil não notar um padrão.
Talvez Kurtzman não note que ao ativamente parar de lidar com um lado do espectro político, o outro automaticamente entra no espaço vago, ao dizer nada, se convida justamente quem não deveria. O tipo de pessoa que ele quer agradar, não merece tal agrado, pois o que lhes agrada, é a aniquilação daquilo que Jornada nas Estrelas devia defender: Infinita Diversidade em Infinitas Combinações.
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