Reconstruindo a Galáxia é brincadeira de criança | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU

 

O mais novo especial de Lego Star Wars chegou ao Disney+ esse mês, continuando uma tradição anual que começou em 2020 com o Especial de Festas e seguindo com níveis variados de sucesso. Desde a compra da Lucasfilm, as séries e especiais de Lego tomaram um rumo pseudo-canônico, contando uma história que poderia muito bem adentrar no universo, tirando um certo exagero aqui e ali, não mais.

A primeira série, lançada em 2024, seguiu Sig Greebling (uma piada sobre os mini tocos nas peças onde outras podem encaixar) retirando a peça fundamental do universo, inadvertidamente remontando a galáxia muito distante conhecida em algo completamente diferente. Com a ajuda de Jedi Bob (outra piada interna, agora de um boneco Jedi genérico de um set de 2002), Sig deve recolocar a peça no templo Jedi para manter a presente galáxia protegida. Mas seu irmão, Dev, agora o Lorde Sith supremo, tem outros planos para a peça.

Com dois primeiros episódios em que há muita falação e outros dois em que o drama e a tensão são até bem feitos, a primeira série abriu um caminho diferente para os especiais de Lego seguirem, sem as limitações impostas pelo período de tempo que lhes foi reservado. A forma que inventaram de recriar a galáxia também impede qualquer "como é que isso poderia ser?" e só se diverte com as próprias mudanças. Porém, ao invés de continuar construindo a nova galáxia, a sequência acaba se freando.

A segunda série, intitulada Peças do Passado, inicia com Sig indo atrás de seu irmão, na esperança de ainda haver bondade nele. Mas a busca de poder de Dev desperta um mal do passado do Jedi Bob, Solitus, um ex-Jedi capaz de mandar toda a galáxia para o Domínio da Força, um limbo extradimensional. Só trabalhando juntos é que Sig, Dev e os exilados de outras galáxias podem impedir a desconstrução.

Como poesia, os dois primeiros episódios da nova série são os mais fracos. A repetição constante do arco de Sig e Dev deixa a série em um loop que só é quebrado por propagandas descaradas dos sets de Lego disponíveis agora nas lojas de brinquedo mais próximas e de cameos de mídias relevantes no momento (ou quando a série estava em produção). Entretanto, assim que Sig e Dev retornam do Domínio da Força e a série volta a brincar com as mudanças e montar seu novo arco narrativo, é quando ela diverte de verdade.

O humor escrito não é tão bom quanto o absurdo de ver a Padmé pirata, o Maul legal e o Landoloriano: a graça vem mais disso e da forma como a história é contada, parecendo de fato ser uma criança pegando os bonecos e brincando. Isso se trata muito da equipe de animação, que felizmente descartou o visual poroso dos últimos especiais em favor de algo mais parecido com os filmes de Lego. Com a movimentação dura e limitada, os bonecos têm de se contorcer todo para fazer um movimento simples, o que dá à série muita personalidade e explode em criatividade para tornar as lutas dinâmicas, até os rostos mudam subtamente como se tivessem sido trocados.

Quando se trata da dublagem brasileira, os curtas, séries e filmes de Lego Star Wars nunca foram consistentes com os filmes, geralmente realizados em São Paulo. Os únicos mantendo alguma continuidade foram A Ameaça Padawan, O Império Detona Geral e All-Stars. Infelizmente, e talvez a pior série no quesito, Reconstruindo a Galáxia perde um pouco da graça com essa perda da continuidade, dos dubladores do Rio seria compreensível, mas quando o Yuri Chesman tá no seu elenco e ele faz o Obi-Wan ao invés do Cal Kestis, tem algo muito errado aí.

Quem não erra é Michael Kramer (juntamente com Roberto Prado e Adam Dib), veterano das séries de Lego desde 2016, com a excelente Aventuras dos Freemakers. Seu tema para a série não é tão bom quanto o da já mencionada, mas aqui ele faz um grande trabalho narrativo e também brinca muito com os temas pré-estabelecidos, mesmo que os álbuns não deixem você ouvi-los.

Quebrando formatos e montando uma base nova para si, "Reconstruindo a Galáxia" tem muito potencial. Como está agora, um bom divertimento que dá aos fãs algumas coisas que nunca verão em qualquer outro lugar, com temas importantes para os menores e esbanjando criatividade visual, é o melhor e o pior do que uma brincadeira de criança pode ser.

VEREDITO: ★★½

0/10 nenhuma menção aos Freemakers, ME DEEM MINHAS MIGALHAS!


Texto por Gabriel Bezerra 

Revisão de Luísa de Luca e Clara Silvestre

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