Strange New Worlds: Temporada 3 | Espantadiciosamente Retrógrado
Após duas temporadas bem recebidas e dois anos de espera, a 3° temporada de Strange New Worlds chegou, e trouxe consigo um gosto amargo de retrocesso e falta de fibra.
Star Trek: Strange New Worlds acompanha as viagens da nave estelar Enterprise – capitaneada por Christopher Pike, alguns anos antes de Kirk – em sua missão de explorar novos mundos, novas civilizações, indo audaciosamente aonde ninguém jamais esteve. Ou ao menos seria isso na teoria (há 4 estranhos novos mundos nessa temporada de Strange New Worlds). Na prática, o que o novo ano da série faz é ir para trás até quando quer fazer algo diferente.
9 dos 10 episódios têm um enredo relacionado à Série Clássica, o futuro na franquia ou um enredo já feito anteriormente. 3 desses 9 são uma tentativa de comédia, que, por muito custo, funcionam. 0 deles têm algo a dizer sobre qualquer coisa.
Quando não estão confusos sobre os Gorns serem absolutamente maus, os tornando derivativos de Xenomorfos e indo contra tudo que o episódio clássico quis dizer com eles, estão focando nos relacionamentos de: Chapel e Spock (em relação ao qual a série não fez nada e podia não ter acontecido) com a adição de Trelane, da Série Clássica (só pra levar a outro relacionamento que não agrega nada); Chapel e Corby, em que nada de interessante pôde ser feito por conta da Série Clássica; Pike e Batel, em que ela é jogada na geladeira; Uhura e "irmão da Ortegas", ... existe.
Os roteiristas se apoiaram nos piores impulsos presentes anteriormente na série: relacionamentos amorosos, nostalgia e uma moralidade questionável dos personagens não questionada pela série (pelo contrário, encorajada).
Os personagens até então bem desenvolvidos são diminuídos ao seu mais básico denominador comum: o médico cuja única história é a que ele mata; a descendente de Khan que é propensa geneticamente a violência; vulcanos geneticamente racistas, ah, mas eles não são Vulcanos de fato por dentro, vamos detransicioná-los contra a vontade. Ao se recusar a confrontar a realidade apresentada, a dizer alguma coisa, acaba por dizer tudo o que não devia.
Pra piorar, talvez atacando pessoalmente esse que vos escreve, de alguma forma a eugenia salva o dia contra a nova ameaça 100% maligna. O que põe o mal no seu lugar é a bagunça genética inserida na Batel, em um enredo derivativo de Deep Space Nine só que pior.
No episódio 6 dessa temporada, um novo personagem cria um documentário (muito mal feito) com o intuito de desafiar a benevolente Federação Unida de Planetas. Intitulado "O Que é a Frota Estelar?", ao invés de investigar as ações duvidosas já existentes (como o primeiro contato com os Ilirianos em Enterprise, as ações na guerra Klingon em Discovery, ou como dito no episódio, as tendências coloniais que A Série Clássica abordou), o episódio cria uma situação feita pra mudar a opinião do documentarista sobre a Frota, curiosamente forçando os personagens a agirem diferente de como agiriam normalmente pra fingir que um desafio de fato irá ocorrer. No fim, a pergunta não é respondida e o desafio é trocado por "a Frota é legal, me enganei, olha essa gente boa que trabalha aqui".
Jornada nas Estrelas sempre foi um certo tipo de escapismo, mas sempre tentou ter alguma substância. Mesmo a Série Clássica, a quem SNW tem aparente reverência, não são só Pingos as Pencas e A Licença, mesmo os episódios que a temporada tentou recriar, como O Senhor de Gothos e A Máquina de Destruição tinham em seu âmago algo a dizer sobre a humanidade.
Não há dúvidas de que a intenção dos roteiristas não era criar algo tão vazio, e sim entretenimento. Levando em consideração a quanto tempo foi escrita, não dá nem pra dizer que as atuais políticas dos EUA foram a causa do retrocesso.
A julgar pela 3ª temporada de Picard e o horroroso filme da Seção 31, o caminho é nostalgia e o mais simples do entretenimento, porque é o que a audiência continuamente pede. O resultado foi a pior temporada na franquia, que, infelizmente, só realçou os problemas com a série em si, um potencial desperdiçado de ótimos atores, artistas visuais, cenógrafos, compositora, figurinistas e tantos outros que mantiveram cada episódio assistível.
VEREDITO: ★★½
Há de se admirar, querer fazer um episódio e torcer todo o universo pra poder contar tal história, Discovery fez isso muito bem, mas manteve suas decisões. Aqui a série se retcona imediatamente, naturalmente, meu conselho pra você, é que retcone a existência dessa temporada, que em nada agregou, só piorou.









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