Crescido, Expandido e Surpreendentemente Emocionante | WICKED: FOR GOOD | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU
Wicked: For Good é muito MAIOR do que o material original em que se baseia, em todos os sentidos. Em duração, é claro, mas principalmente em carga e substância. O primeiro filme da duologia, lançado há um ano, basicamente replica o primeiro ato do musical de palco, obviamente adicionando algumas cenas e elementos para dar mais corpo à obra — mídias diferentes requerem abordagens diferentes —, mas nada que altere substancialmente a história que está sendo contada ou a percepção do público que está assistindo. Simples, bonito e extremamente bem feito. O segundo filme, por sua vez, tinha uma tarefa um pouco mais difícil.
Dificilmente você verá alguém dizendo que tem o segundo ato de Wicked como favorito. As músicas, como um todo, não são tão memoráveis quanto as do primeiro, e o desenvolvimento do conflito pode não ser tão cativante quanto a jornada divertida que introduz os personagens na primeira metade do espetáculo. Isso não torna o segundo ato ruim, longe disso, é um ótimo complemento quando se assiste a história completa, e também tem a licença poética do teatro para não se prolongar ao explorar os detalhes do que está acontecendo com os personagens entre um número e outro, mas aí é que está o ponto, o segundo ato de Wicked CRU, não funcionaria tão bem no cinema, e o filme precisa se sustentar por si só, não como um complemento. E é aqui que a coisa fica grandiosa.
MUITAS cenas novas, novos versos em músicas já existentes e duas músicas inéditas. Não importa quantas vezes você já assistiu ao musical no teatro (ou em alguma bootleg na internet), você NÃO está preparado para o que te espera na sala do cinema.
O subtítulo já nos dá uma ideia do que esperar: For Good — o nome do dueto de Elphaba e Glinda e o ponto culminante da narrativa. Essa é uma história essencialmente centrada nessas duas personagens, o contexto político em que elas estão inseridas, como elas se relacionam entre si e como enfrentam a realidade diante delas.
Aqui, temos um olhar mais amplo sobre as implicações do regime fascista imposto pelo Mágico, a opressão dos Animais e os atos de ativismo de Elphaba, com sua nova música solo (No Place Like Home) se tornando praticamente um grito de guerra durante sua tentativa de recrutar os Animais a se juntarem a ela em uma resistência. Infelizmente, sem sucesso.
Em meio à forte propaganda que pinta Elphaba como a Bruxa Má do Oeste, com muita ênfase na cor de sua pele, e ao grande movimento para silenciar e subjugar os Animais a uma posição de serventia, a opressão de pessoas e grupos marginalizados se tornou algo tão normalizado pelos cidadãos de Oz que, quando Nessarose, governadora de Munchkinland, resolve punir todos os Munchkins por um simples capricho em relação ao seu “amado” Boq, ela não é sequer questionada.
Cynthia Erivo entrega uma versão muito mais madura de Elphaba, a heroína declarada dessa história, e é encantador ver o contraste entre a jovem inocente e sonhadora do primeiro filme para a mulher forte e determinada deste, principalmente considerando que ambos os filmes foram filmados simultaneamente. Quanto aos vocais, dispensa comentários, No Good Deed é a melhor música do segundo ato e foi o número mais arrepiante do filme (APESAR de terem tirado a icônica transição de Glinda para Elphaba gritando FiyeroOoOoOOOo).
O filme teve muitos acréscimos e poucas mudanças, mas uma mudança muito boa foi a decisão de colocar Glinda no número Wonderful. Faz muito sentido a presença dela no momento em que Elphaba passa a considerar a possibilidade de trabalhar junto ao Mágico e acreditar que eles possam fazer algo bom juntos. A imagem de Glinda transmite uma ideia de carinho, confiança e esperança aos olhos de Elphaba, de que juntas elas podem ser invencíveis. Consequentemente, isso torna a decepção e a dor de ambas as partes ainda maiores quando as coisas dão errado.
Os personagens secundários cumprem bem seus papéis de personagens secundários, não tendo grandes acréscimos em suas subtramas. Uma exceção notável, e infeliz, é a decisão de conceder à Michelle Yeoh mais oportunidades de canto do que o estritamente necessário. Esta é a única escolha equivocada de elenco, visto que a atriz não entrega nada vocalmente e também tem uma interpretação muito distante do que deveria ser a marcante e caricata Madame Morrible. A segunda não sendo exclusivamente culpa da atriz, mas é a imagem dela que fica marcada na insatisfação dos fãs.
O Fiyero de Jonathan Bailey, por sua vez, faz só o que lhe cabe: Entregar vocais em As Long as You’re Mine (mesmo que sua química com a Elphaba de Cynthia Erivo seja inexistente) e quase morrer para dar origem ao smash hit No Good Deed e também fazer aquela conexão sem muito sentido com O Mágico de Oz. Ah, o acréscimo de sua subtrama foi aparecer sem camisa para causar gritos no cinema e gerar reviews bobas de mulheres heterossexuais e homens gays no Letterboxd.
Marissa Bode (Nessa) entrega uma versão no máximo decente de Wicked Witch of The East, Ethan Slater (Boq) DEVORA March of the Witch Hunters e Jeff Goldblum (Mágico) retorna com sua versão carismática de um personagem detestável.
Mas a verdadeira estrela do filme é a Glinda de Ariana Grande. Glinda sempre foi a personagem mais complexa e multifacetada do musical, mas que geralmente não é compreendida pelo público e às vezes até lida como uma das vilãs da história, já que nem todo mundo é capaz de entender as nuances do que está implícito na construção dessa personagem, e também depende muito de qual atriz está a interpretando nos palcos e se sua abordagem é capaz de transmitir tudo isso para o público. De novo, o teatro tem essa licença poética, mas o filme precisava de fato mostrar. E mostra. Todo o conflito interno sobre a necessidade de aceitação, a vontade de acreditar que estava fazendo a coisa certa, a tomada de consciência e a decisão de agir — tomando atitudes inteligentes, que não comprometem a luta e nem o seu poder de realmente realizar coisas boas — passam como uma montanha russa de sentimentos na magistral interpretação de Grande. Inclusive, sua nova música solo (The Girl in the Bubble), chega já na reta final do filme e bate forte demais! Uma incrível adição ao arco da personagem, por finalmente expressar todos os sentimentos anteriormente não ditos. Ariana superou todas as expectativas, que já eram muito altas, e entregou a Glinda definitiva de Wicked. Megan Hilty e Katie Rose Clarke (intérpretes da personagem na Broadway) podem ficar orgulhosas. *ARIANA TEM UM OSCAR NA SUA BOLSA INTENSIFIES*
E é natural, também, que esse filme tenha desenvolvido mais a Glinda. O primeiro aprofunda-se mais em Elphaba e, neste ponto, sua jornada já se concentra mais nos conflitos externos do que nos internos. E está tudo bem. É uma história das duas, lembram?
Da música For Good em diante, é porrada atrás de porrada. O número é lindo, cheio de emoção de ambas as partes (muito mais emoção que As Long As You’re Mine, inclusive), e tudo o que vem a seguir é um soco no estômago. A cena da porta vai me assombrar para sempre. É doomed yuri, não tem jeito. Mas é lindo! Nunca deixa de ser lindo. Além do desfecho das duas personagens, o filme também se preocupa em dar um desfecho para o contexto político de Oz, coisa que o musical original acaba deixando de lado, e faz isso de maneira muito satisfatória. O frame final é um mimo muito gostoso para os fãs do musical e faz com que possamos encerrar essa jornada com o coração consideravelmente quentinho após todo o sofrimento. É agridoce.
VEREDITO: ★★★★
Pode parecer um pouco lento no começo e, de modo geral, não supera seu antecessor, mas Wicked: For Good traz boas releituras de todas as músicas, preenche lacunas, expande o universo e é, objetivamente, o melhor filme que poderia ser feito sobre o segundo ato do musical.
Texto de Fernanda "Ferbs" Pinheiro
Revisado por Tiago "Samps" Sampaio








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