AVATAR: FOGO E CINZAS, OU SÓ FULIGEM? | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU
Avatar: Fogo e Cinzas pode não ter sido o filme mais esperado do ano (até porque eu duvido muito que o público geral sequer sabia que esse filme saia esse ano), mas é, com certeza, um dos lançamentos mais importantes do ano. Avatar sempre foi uma franquia controversa, mas se a estreia de quase $350 milhões entrega alguma mensagem, é que o pior dia de bilheteria para James Cameron é o melhor dia de qualquer outra franquia na história do cinema. Esse peso definitivamente se justifica no orçamento do filme, que custou por volta de $400 milhões para ser produzido, e esse orçamento definitivamente se justifica na produção... mas essa pataquada toda, uma década e meia depois, ainda se sustenta? A resposta é sim.
A franquia Avatar se lançou para o público em 2009, mas ela tem inicio lá em 1994, quando James Cameron (diretor de Aliens; O Exterminador do Futuro) escreveu o primeiro rascunho do roteiro, mas as limitações tecnológicas da época forçaram o diretor a deixar o projeto de lado — e nesse meio tempo trabalhar em Titanic, que é a 4ª maior bilheteria da história. Até por isso o primeiro filme, embora um espetáculo visual que revolucionou o cinema com a utilização ao máximo da captura de movimentos (motion capture, que funciona também como EMOTION capture ao aproveitar 100% da performance dos atores, mesmo cobertos de CGI) para a criação dos Na'vi e a criação da Fusion Camera System (por Cameron e Vince Pace), que levou a tecnologia 3D ao limite e ajudou a entregar uma imersão ao mundo de Pandora, é repleto de problemáticas e genericidades sobre imperialismo e (norte)americanidades.
Foram 13 anos até que Cameron conseguisse lançar um segundo Avatar, porque 5 novas tecnologias foram implementadas para trazer o mundo aquático de Pandora à vida, além de reintroduzir, com muito mais tato, toda a história dos Na'vi, que sempre foi sobre povos nativos lutando pela sua Terra natal.
Fogo e Cinzas, que foi gravado junto de O Caminho da Água e por isso pôde ser lançado no curto intervalo de 3 anos, pode não trazer nenhuma nova técnica revolucionária como seus antecessores, mas se permite ser exatamente o que todo filme e sequência deve ser em sua simplicidade: uma história coerente, divertida e envolvente dentro de seu próprio universo.
Começando exatamente de onde o anterior parou, acompanhamos não (apenas) a família Sully em sua nova vida com os Metkayna (a tribo da água), mas a continuação da cruzada pessoal de Quartitch (Stephen Lang) contra Jake e nos aprofundamos nos seus sentimentos como o legado de um Coronel humano, um novo corpo de Pandora e a paternidade, que é o tema central do filme. A vingança não é mais o único nó no laço que une os caminho dele com Jake Sully (Sam Worthington), mas a coparentalidade de Spider (Jack Champion) que os força a trabalhar juntos por boa parte do filme. Os melhores momentos do filme são entregues na performance de Lang, que está muito confortável no personagem, e é potencializada pela dublagem de Luiz Carlos Percy.
Ainda nos antagonistas, temos a introdução de Varang (Oona Chaplin), a Tsahìk dos Mangkwan, a nova tribo do fogo. Embora andando em uma linha muito tênue da representação do "indígena malvado", os Mangkwan nada mais representam do que uma diferença cultural do povo de Pandora de motivação plausível e uma utilização completamente diferente dos Omaticaya e dos Metkayna, sendo um povo com interesses de troca de táticas e tecnologias com o povo do céu, que exerce protagonismo na relação com os colonizadores americanos — em especial o Quaritch, que passa gradativamente por uma mudança, se afastando cada vez mais do militarismo americano e se enocontrando nos meios de Pandora.
Claro que, apesar de não serem tão interessantes quanto os vilões, a família Sully segue sendo os protagonistas da história, com Jake mais uma vez precisando sair de sua zona de conforto para proteger sua comunidade, mas com cada outro membro passando por sua própria jornada. Neytiri (Zoe Saldaña) explora o luto e seus conflitos em relações aos seus filhos e à cada vez mais literal adoção de Spider; Lo'ak (Britain Dalton), que além do luto, segue em pé de conflito com seu pai e com todos os Metkayna por ter ligação com um Tulkun excluído; e Kiri (Sigourney Weaver), que segue buscando respostas sobre sua origem e sua tão forte, mas ainda distante conexão com Eywa. Todas essas histórias, cada uma com seus momentos de empolgação e (muita) emoção, convergem em um ato final que espelha a jornada de Jake Sully, e pode muito bem soar como repetição dos filmes anteriores, mas servem de forma muito diferente à grande história sendo contada ao longo da saga, que termina bem amarrada, sem furos, mas segue repleta de espaço para os próximos dois filmes já planejados por James Cameron.
Claro que, embora justificadas, as repetições ainda assim são cansativas, principalmente em um filme com 3 horas e 17 minutos de duração, que poderia ter aproveitado boa parte desse tempo (pelo menos uns 40 minutos) acompanhando Quartitch, os Mangkwan e até o detestável núcleo militar humano.
O mundo de Pandora segue sendo a melhor seção da experiência, seja na floresta, no ar ou no mar. Até na arquitetura hostil e desnatural da Bridgehead City é possível ver beleza, em um momento muito específico protagonizado por Neytiri. Avatar segue sendo um dos pouquíssimos filmes a justificarem a existência e utilização do 3D até hoje, e PEDE para ser visto no cinema, porque absolutamente nenhuma televisão — nem mesmo a sua 4K de 116 polegadas — pode entregar o que essa experiência cinematográfica, de forma visual, sonora e em sua narrativa, pode te proporcionar.
VEREDITO: ★★★★
James Cameron segue a dar vida (e muita) a seu projeto dos sonhos com mais um capítulo épico que aproveita ao máximo do cinema como espetáculo visual, mas admitidamente pode ser entediante para o público mais deficiente em atenção e apreciação de desenvolvimento — embora não decepcione na entrega de empolgação e adrenalina com as melhores cenas de ação da franquia até aqui.



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