O que aconteceria se... 'WHAT IF' fosse mesmo uma antologia? | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU
No entanto, a série é "antológica" só até a página 2, porque a série continua insistindo (ainda mais) no erro da primeira temporada de serializar a única série da Marvel Studios que não tinha a obrigação de ser serializada. Irônico, considerando que eu escrevi um artigo onde eu crítico o estúdio justamente por fazer séries que não possuem uma estrutura episódica.
E se de alguma forma você caiu aqui de paraquedas, relaxa que eu te explico:
What If...? (ou como foi traduzida aqui no Brasil; O que aconteceria se...?) é uma série de animação (a primeira da Marvel Studios) cuja proposta é explorar cenários alternativos ao Universo Cinematográfico da Marvel, sendo uma forma de explorar o Multiverso da franquia contando histórias diferentes de personagens que o público já conhece.
Essa ideia veio diretamente do selo de mesmo nome que começou nos anos 70 nos quadrinhos da Marvel Comics, mas a execução do UCM não chega a ser tão criativa quanto as HQs, mesmo sendo no melhor formato possível pra explorar qualquer ideia tanto narrativa quanto visualmente.
Para comparação, as HQs exploram ideias como "E se o Simbionte tivesse tomado conta de Peter Parker?" e o Homem-Aranha se tornasse mal; "E se o Doutor Destino fosse um herói?" e outros tipos de histórias que mudariam o curso de todo o universo Marvel.
Já na série, o primeiro episódio só troca o Steve Rogers em Capitão América: O Primeiro Vingador pela Peggy Carter e desperdiça ideias boas como "E se Thor nunca fosse banido para a Terra?" para, ao invés de mostrar um Deus do Trovão cuja inconsequência trouxe ruína pra Asgard, se tornou um rolezeiro intergaláctico.
Claro que a série teve boas ideias, como o terceiro episódio da primeira temporada que imagina o que Hank Pym faria se Hope Van Dyne se juntasse a SHIELD e morresse em uma missão enviada pelo Diretor Fury, o que resultou em um episódio de mistério investigativo protagonizado pela Viúva Negra que revisitou os filmes da fase 1. Interessante né? Mas é minoria na temporada, porque a maioria dos episódios se mantém no mesmo "clima" e humor pra facilitar o eventual crossover no final da temporada.
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"E se... O Vigia quebrasse seu juramento?" Temporada 1, Episódio 9. |
Inclusive, nem o crossover é necessário, mas ainda preciso escrever sobre como todo o UCM é construído sobre promessas de grandes encontros de personagens que atualmente só prejudicam histórias que funcionariam bem (e as vezes até melhor) se contidas em suas próprias atmosferas (e no caso de What If, em seus próprios universos).
A segunda temporada propôs ideias um pouco mais criativas, mas o tempo curtíssimo de cada episódio não é o suficiente pro aproveitamento dessas histórias que acabam sendo corridas e de humor cansativo.
Pelo menos visualmente a animação deu uma melhorada. Quando a animação estreou na primeira temporada, o público se dividiu entre quem achou o estilo artístico genérico e quem gostou de como a animação simulava a estética do live-action. Particularmente, não acho a animação ruim. Muito pelo contrário! No entanto, ela não é aproveitada como deveria. Aparentemente a Marvel Studios não entende que a animação é um formato que permite muito mais liberdade pra contar histórias de ficção (e não a toa todas as novas histórias interessantes de Star Wars tiveram início nas séries animadas) e acaba simulando a estrutura não só visual, mas narrativa dos seus filmes nessa série, o que somado ao curto tempo pra contar as histórias que precisam de início, meio e fim, se torna só mais do mesmo dentro da franquia, que já está sendo criticada há um tempo por falta de inovação.
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"O que aconteceria se... a Capitã Carter lutasse contra o Esmagador Hidra?" Temporada 2, Episódio 5. |
Nem preciso falar sobre a uria do público de ver elementos da série em live-action (como a Kahhori), porque além de já termos tocado nesse assunto aqui no blog, seria divagar muito do que é uma resenha. Talvez outro dia eu reclame.
Mas falando sobre a Kahhori, essa foi sem dúvidas a melhor parte da série inteira, sendo o melhor exemplo possível do que essa série devia ser desde o início, por todos os seus episódios.
Esse episódio imagina um mundo onde o Ragnarok aconteceu muito mais cedo e o Tesseract caiu em uma aldeia nativo-americana, dando habilisades de manipulação espacial para parte da tribo de Kahhori, que consegue seus poderes enquanto foge de colonizadores espanhóis. Interessante né? Pena que, de novo, a curta duração dos episódios e a necessidade da Marvel de fazer com que a história se conecte a outros personagens não deixa que esse universo brilhe como deveria.
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"O que aconteceria se... Kahhori remodelasse o mundo?" Temporada 2, Episódio 6. |
Temos mais um episódio para a Capitã Carter, que é claramente a personagem dos sonhos dos roteiristas (especificamente da A.C Bradley, que é a criadora e produtora da série). Não satisfeitos de darem uma continuação pra história da personagem, ela ainda rouba os holofotes na história que reimagina os Vingadores numa trama shakespeariana no século 17 inspirada na HQ 1602, de Neil Gaiman (um potencial absurdo desperdiçado) e protagoniza o grande final da temporada.
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Capitã Carter em "O que aconteceria se... Os Vingadores se reunissem em 1602?" Temporada 2, Episódio 8. |
Final esse que de grandioso não tem nada além de uma farofada imensa que tenta fazer seu próprio "Ultimato" abrindo portais e jogando personagens aleatórios em tela em uma trama que faz com o Doutor Estranho Supremo, o personagem com o melhor episódio da primeira temporada, a mesma coisa que Multiverso da Loucura faz com a Feiticeira Escarlate e retrocede o desenvolvimento do personagem pra repetir uma jornada gananciosa em busca de alguém que ama.
No fim, a série com a proposta mais promissora de toda a franquia tem os mesmíssimos problemas que todas as outras produções do estúdio, desperdiçando episódios com ideias desinteressantes e gastando tempo dos episódios de cenários interessantes em prol de crossovers pra saciar a sede do público de grandes eventos multiversais, repetindo o erro de As Marvels em não focar em seu(s) próprio (s) universo(s).
VEREDITO: ★★½
Por serem episódios curtos com histórias que na maioria das vezes funcionam sozinhas, vale a pena assistir e tirar suas próprias conclusões. Querendo ou não, apesar da série deixar a desejar quando imaginando cenários diferentes para personagens conhecidos, ela inegavelmente sabe aleatorizar personagens e situações pra, com muita sorte, chamar a atenção de alguém.
A série já foi renovada pra uma 3ª temporada e supostamente vai acabar só na 4ª. Não temos ideia de quando a próxima temporada chega ao Disney+, mas já tem trailer dela mostrando um cenário onde o Soldado Invernal e o Guardião Vermelho fogem do Agente Bill Foster:
– Tiago Sampaio
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