MADAME TEIA e o desleixo absurdo da Sony Pictures | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU

 Na última quarta-feira, 14 de Fevereiro de 2024, Madame Teia chegou aos cinemas. Não era um filme muito esperado pelo público, mas eu (@tiago.samps) esperava pelo menos me divertir com um filme que, logo no primeiro trailer, prometeu uma aventura de viagem no tempo baseado em alguns personagens do Aranhaverso. Eu esperei demais da Sony Pictures...

Chega a ser engraçado que o estúdio que fez a trilogia clássica de filmes do Homem-Aranha e até mesmo a duologia Espetacular, que apesar de não ser o ápice do cinema de super-heróis, tinha um caminho até que promissor, agora tem construído o que mais parece uma lavagem de dinheiro.

Pra quem não tá entendendo nada, eu explico: a Sony Pictures é dona dos direitos cinematográficos do Homem-Aranha e de toda a sua mitologia desde os anos 90, quando a Marvel Entertainment vendeu seus maiores heróis pra fugir da falência. Da mesma forma que os X-Men passaram anos com a Fox antes dela ser comprada pela Disney, que hoje em dia também é dona da Marvel.

Dito isso, a Sony não larga de jeito NENHUM a mão do Homem-Aranha, mesmo a Disney oferecendo rios de dinheiro pra ter o personagem de volta. O máximo que a Sony cedeu, e feliz, foi um acordo para a Marvel Studios produzir filmes do Homem-Aranha no Universo Cinematográfico da Marvel, e isso resultou na trilogia com Tom Holland e na presença dele nos filmes dos Vingadores.

A Sony achava que, por causa desse acordo, qualquer filme que ela fizesse sobre o Homem-Aranha também seria do UCM, e então tivemos Venom (2018). Eu, particularmente, gosto do filme. Amy Pascal, a co-presidente da Sony, bateu o pé diversas vezes que o filme se passava no UCM, e Kevin Feige, presidente da Marvel, fez questão de se afastar ao máximo de tudo que a Sony construía, reduzindo o Venom a uma cena pós créditos em Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa. Logo veio Morbius, que sinceramente eu sequer fiz questão de assistir até hoje, porque mesmo eu gostando de ambos os filmes do Venom, são dois filmes rasos e esquecíveis que só são divertidos porque é o projeto pessoal do Tom Hardy com um personagem que ele gosta e entende.

Madame Teia é a primeira das tentativas de "filmes do Homem-Aranha sem o Homem-Aranha" que faz sentido, por trazer não uma mas três personagens cujas origens não possuem uma ligação obrigatória com o Peter Parker. Ironicamente, depois de fazer três filmes em que vilões do Peter não tem ligação com ele, a Sony decide usar ele. Mais ou menos...

Enquanto nos quadrinhos Cassandra Webb é uma personagem que está no Aranhaverso podendo ver, presenciar e interferir em todos os cantos da Teia da Vida e do Destino, no filme, pela maior parte do tempo, ela acaba sendo só uma clarividente tentando impedir 3 meninas aleatórias de serem mortas por um maluco. Certo que, seguindo a história dos quadrinhos, onde a personagem é cega e paraplégica desde nascença, não daria pra fazer uma história agitada lotada de ação, mas mesmo com uma "Cassie" em perfeitas condições de corpo e visão, a trama corre e nada acontece.

Cassandra Webb em Amazing Spider-Man #210 (1980)

Sendo justo, eu não achei o ritmo ruim. O filme não me cansou, mas é engraçado como a jornada dá voltas e só vai acontecer algo mesmo no final da trama, depois de uma hora e meia.

Visualmente, o filme é uma bagunça. A estética anos 2000 é mal feita, os cortes são péssimos e a demonstração dos poderes da Cassie vem em mais cortes e flashes de luz que mais atrapalham do que ajudam você a ver ou entender alguma coisa. Por incrível que pareça, S.J. Clarkson, diretora desse filme, dirigiu os dois primeiros episódios de Jessica Jones, que são completamente o oposto desse projeto de filme.

Cortes e Flashes confusos são a estética horrorosa dos poderes de Cassandra na maior parte do filme.

O pior de tudo é que a ideia do filme não é de toda ruim. Com uma personagem com poderes de interligar todas as pessoas-aranha do multiverso, capaz de estar em tantos lugares ao mesmo tempo, é um desperdício gastar 2 horas de um filme contando a origem dela (uma personagem que já vem PRONTA, só desembalar e usar) e não aproveitar esse tempo pra convencer o público que essa heroína vale a pena não só nesse filme, mas nos outros que eles CLARAMENTE estavam planejando posteriormente.

Quando falo de aproveitar o aranhaverso, não falo de trazer Tobey Maguire, Andrew Garfield ou Tom Holland. Muito menos um Miles Morales ou um Peter Parker recém nascido. A Sony tem à disposição todas as pessoas-aranhas, incluindo as mulheres e, um filme protagonizado só por Mulheres-Aranha, tem um potencial grande como qualquer um com o tema Aranhaverso. Principalmente montando um bom elenco. O QUE ELES FIZERAM!

Madame Teia e as Mulheres-Aranha: Mattie Franklin, Anya Corazon e Julia Carpenter.

Dakota Johnson protagoniza o filme como Cassandra Webb, e Sydney Sweeney, Isabela Merced e Celeste O'Connor fazem o papel das 3 crianças protegidas por ela, que só levam o nome de heroínas do Aranhaverso. Apesar de serem ótimas atrizes, muito carismáticas e que claramente dariam certo juntas, o roteiro não dá momento pra você se apegar a nenhuma delas individualmente ou como grupo. Pelo contrário, só te faz se estressar com atitudes burras ou esteriotipadas de adolescentes. Se elas se tornam as heroínas dos quadrinhos que, inclusive, o trailer, os pôsteres e TODO o marketing do filme promete? Não, não se tornam. Além de ruim, o filme ainda te engana na cara DURA se escorando nas mulheres-aranha pra vender e, no fim, ter elas como "uma visão do futuro".

Essa cena do trailer é propaganda enganosa!

O vilão, Ezekiel Sims (Tahar Rahim) é bem genérico. Só mais um homem ganancioso, e não tem exatamente muito a ver com o personagem dos quadrinhos. Mas o filme tenta, sim, dar pra ele um visual parecido com o dos quadrinhos, o que no filme só é engraçado porque é um cara andando de terno e e descalço nas ruas de Nova York. Inclusive dentro do metrô.

Inclusive, não sei o que achar do traje que Ezekiel usa nesse filme. Nada justifica ele parecer tanto com o Homem-Aranha, muito menos a existência dele, já que Sims vive tirando ele e andando por aí descalço. Dito isso, foi interessante ver alguém parecido com o Homem-Aranha em um papel antagônico, porque me fez imaginar o TERROR que os bandidos sentem quando o herói encurrala eles em um lugar fechado e escuro. Foi um ponto de vista bem interessante. No mais, a interpretação de Tahar é só mais uma entre todos os vilões desse universo: esquecível.

Ezekiel Sims, o Homem-Aranha do mal.

Na verdade, nenhuma das interpretações aqui é interessante. Nem que a Dakota Johnson tentasse MUITO ela ia conseguir fazer algo bom com esse roteiro que ignora completamente pelo menos 6 histórias em quadrinhos diferentes pra criar um caminho original que não podia ser mais genérico. Eu não vi Morbius, mas o roteirista principal desse filme (Matt Sazama) ser o mesmo de Madame Teia reduz pra números negativos a vontade que eu tenho de ver esse filme.

Ainda nem citei a propaganda descarada da Pepsi que tem não uma, mas DUAS vezes nesse filme. Como se Dakota Johnson segurando uma latinha cuja logo está sempre virada pra câmera independente da posição que ela assuma não fosse expositivo o suficiente pra audiência, o ápice do terceiro ato inteiro se passa numa fábrica de Pepsi Cola, que ainda faz um callback pro momento que Cassie "desbloqueia" seus poderes. É tosco.

Como eu disse antes, o fim ainda tenta dar um gancho pra um futuro da Madame Teia com as 3 Mulheres-Aranha, mas como esse filme sequer faz questão de transformar elas nessas supostas heroínas que elas estão destinadas a se tornar, você não tem esperança alguma de que uma improvável sequência seja melhor, menos bagunçada ou mais interessante que essa primeira "aventura".

Se feito direito, Madame Teia poderia ter aberto espaço para várias outras Mulheres-Aranhas brilharem em live-action.

Eu poderia citar mais tosquice, mas além da direção e roteiro a trilha sonora só não decepciona porque dificilmente você espera algo dessa obra. Pare pra ouvir a trilha e você nunca vai perceber quando uma música termina e outra começa. Se estiver em loop, você vai ouvir o álbum inteiro e depois de duas músicas vai perceber que voltou pro início. Sequer o tema "Madame Web" se salva, e olha que ele tenta imitar a estrutura de outras músicas temas do Homem-Aranha na cara dura.

O pior é que, com o filme se passando nos anos 2000, simular uma trilha de herói épica não devia ser difícil com tantas referências tão boas quanto Danny Elfman (Trilogia do Homem-aranha de Sam Raimi) e John Ottman (X-Men 2), mas parece que Johan Söderqvist só queria pegar a parte dele dessa lavagem de dinheiro e não ser chamado pra nenhum filme do gênero de novo. O que é triste.

Em alguns momentos pouco mais legais, o filme se escora em músicas pop. E é até divertido ver uma cena de ação tocando Britney Spears, mas a cena é curta e só mostra mais do potencial que esse filme teria se a Sony tivesse tentando fazer um filme.

No fim, Madame Teia é mais um desperdício de 80 milhões de dólares, de atrizes talentosas e de um universo tão rico que continua sendo um dos pilares de vendas da Marvel Comics há mais de 60 anos.

VEREDITO: ★

É engraçado pensar que esse mesmo estúdio fez Homem-Aranha: Através do Aranhaverso, e é assustador pensar que nesse ano eles vão atacar de novo com mais DOIS filmes!

Kraven, O Caçador é o próximo, estreando no dia 30 de Outubro, e Venom 3 é um dos últimos filmes do ano, marcado para 8 de Novembro.



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