Introdutório, nostálgico e individual – por que X-Men '97 é bom? | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU
A não ser que você seja uma das crianças crescidas dos anos 90 que assistiam ao desenho clássico dos X-Men na TV Colosso/Xuxa/Globinho, você provavelmente não sentiu tanta animação quando uma continuação da série foi anunciada pela Marvel Studios em 2021. Quem vos fala incluso, mas 3 anos depois, aqui estou eu escrevendo uma resenha que, já adiantando, tem mais aclamação do que reclamação.
Apesar de ser uma continuação, a série é uma introdução também. Qualquer um sendo ou não fã dos X-Men pode chegar e assistir a partir do episódio 1 sem precisar assistir ou ler qualquer coisa antes pois a série se contextualiza perfeitamente dentro de tudo que se propõe, e levando em consideração que é a primeira produção sobre os X-Men sob um selo da aclamada Marvel Studios (que construiu o grandioso Universo Cinematográfico da Marvel), é óbvio que chamaria atenção de todo mundo e precisava se atentar a ser um ponto introdutório.
Mas sobre o que a série é? Um grupo de heróis que, além de uma família de mutantes super poderosos, também são (de certa forma) ativistas políticos. Os X-Men lutam contra o preconceito contra sua raça defendendo aqueles que os temem, ao mesmo tempo que lidam com seus próprios problemas pessoais, com muito drama e romance atrelados a esses personagens que normalmente são bonecos de ação. É essencialmente um novelão de super-heróis, e por isso conversa tão bem com tanta gente.
A proposta de falar sobre preconceito é explorada através de diversas alegorias. Mesmo que a série não dê nome aos bois, é possível ver diversas situações de racismo e homofobia, por exemplo, naquelas que os mutantes enfrentam. Infelizmente, às vezes essa necessidade de fazer tanta alegoria acaba pegando o lugar de críticas que poderiam e deveriam ser melhor construídas, e a produção peca muito principalmente com seus personagens negros.
A série começa com 11 personagens principais, introduzindo mais 3 no decorrer da temporada. Do elenco que retorna da série clássica, o Ciclope e a(s) Jean Grey são as que mais se destacam, mas os personagens que melhor se encaixam nas tramas de preconceito são justamente os que são deixados de lado pela trama.
Basicamente, Bishop, que foi "promovido" a membro do time depois de aparições nas 5 temporadas da série clássica, é completamente abandonado depois do episódio 3; A Tempestade, que é uma das heroínas mais fortes e populares da história da equipe, passou metade da temporada ausente e tendo uma trama de segundo plano que, no fim, só deu uma volta no desenvolvimento da personagem.
O pior caso talvez seja Roberto da Costa, o Mancha Solar, o personagem brasileiro – 🎉🎉🎊🎊🎊🥳🥳🥳🥳🇧🇷🇧🇷🇧🇷 – que foi completamente descaracterizado e despojado de todas as suas características de jovem negro (seja em traços físicos, na sua história de origem e até na escalação do ator que o interpreta) pra dar lugar a uma crítica – necessária, mas não na condição de remoção a uma pauta sobre racismo – sobre homofobia. Esse "embranquecimento" do personagem foi um aspecto que me incomodou muito na série, e eu até escrevi um artigo sobre que, apesar de não ter saído oficialmente, eu deixo você ler adiantado se deixar em segredo. 🤫
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Beto cumpre o papel que a Jubileu cumpria na série original: representar o público que está sendo introduzido ao mundo dos mutantes. |
Engraçado que, mesmo com o esforço pra fazer mais paralelos com homofobia, a série ainda deixa seus personagens homoafetivos de lado. Morfo, que foi criado para a série original, tem muitos momentos pra brilhar nessa nova versão e é um queride! Que foi canonizado como pessoa não binária e tem um romance muito, muito implícito com o Wolverine... que é completamente ignorado – tanto o romance, quanto o próprio Logan, mas eu lamento só pela trama do romance mesmo. Sinceramente, o Wolverine já teve destaque o suficiente nos filmes dos X-Men dos anos 2000.
Apesar da forma que a série escolhe lidar com seus personagens, a trama em si brilha tanto que é muito fácil você ignorar esses aspectos. Assim como a série original, ela escolhe adaptar diversas sagas dos quadrinhos dos X-Men e faz isso muito bem mesmo que condensando para episódios de 30 minutos. Dentre os arcos que vimos traduzidos das HQs para essa temporada, temos Atração Fatal (1993), Inferno (1996), e E de Extinção (2001), sem contar os arcos da série clássica que foram retomados de alguma forma aqui, como One Man's Worth, Sanctuary e até um pouco de Pryde of the X-Men, que é o filme animado de 1989 que deu origem a tudo isso.
A dinâmica do Professor X com Magneto está de volta, melhor do que nunca. Assim como nos quadrinhos, Charles Xavier toma decisões bem... burras (não tem forma melhor de dizer isso) enquanto Magneto mostra que não é apenas um vilão genocida. Só mais um ativista cansado de idealismo. Claro, em um certo episódio parece que isso se perde, mas a conclusão da série recupera de forma emocionante esse desenvolvimento sem jogar ele fora, o que é um alívio gigantesco principalmente quando o Magneto já faz parte dos X-Men nos quadrinhos há 2 décadas e é cansativo ver o personagem andando em círculos no arquétipo de vilão desde a série dos anos 90, até os filmes, pra assumir esse mesmíssimo papel nessa série.
Sinceramente, Erik Magnus Lensherr é quem mais brilha nessa temporada, e eu até argumentaria em outro artigo já lançado que Magneto estava certo...
A série tem um tipo de animação bem diferente que, não vou mentir, me causou muita estranheza no início. Mas se antes parecia que ela não sabia o que queria ser, eu terminei a série entendendo perfeitamente como funcionou a modernização do estilo já existente na série original. É bonito, é único e é uma forma de homenagear um estilo 2D clássico infinitamente superior à tentativa covarde da Disney em Wish...
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As cenas do Noturno são exemplos perfeitos de toda a criatividade usada nas cenas de luta de toda a série. |
Falando em único, essa não é uma qualidade exclusiva da animação não. A série como um todo tem uma qualidade que faz muita falta nas franquias como o UCM: ela não faz parte de um universo maior. Claro, a série tem diversas aparições que comprovam a existência de outros heróis da Marvel em seu universo, e a série clássica já se passava no mesmo mundo que a série do Homem-Aranha dos anos 90, mas a série sempre ficou e ainda foca no núcleo dos X-Men, usando essas outras aparições que são, em sua maioria, mudas, servindo só pra um momento legal de reconhecimento ou pra justificar o que está acontecendo em outros lugares e núcleos daquele mundo.
Claro, tem também a trilha sonora, que não só traz de volta o tema icônico de Ron Wasserman, mas desafia Andy Grush e Taylor Stewart a modernizar as músicas sem que elas perdessem toda a atmosfera dos anos 90. Afinal, a série é ambientada em 1997!
Pra quem viveu os anos 90, deve ser um show de nostalgia tanto como fã da série quanto como uma viagem no tempo para a época, modernizando histórias contadas naquela época apresentando-as também para um público novo.
VEREDITO: ★★★★½
Essa é, com a maior certeza do mundo, a melhor adaptação que os X-Men já tiveram como equipe, e se continuar sendo algo único sem forçar ligações com universos compartilhados e mudar a forma que trata os personagens negros, vai continuar sendo uma das, se não a melhor, produção da Marvel em muito tempo.
A série já está renovada para mais temporadas, então se essa for uma preocupação sua, pode ir assistir sem medo aos 10 episódios que estão todos disponíveis no Disney+.
– Texto por Tiago Sampaio
li tudin, rapidin
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