THE ACOLYTE é só mais um produto de Star Wars. | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU
Às vezes uma série não recebe a atenção que deveria. Mas algumas vezes, uma série recebe uma atenção que não merece.
A mais nova série de Star Wars acaba de finalizar na noite de terça-feira, 16 de Julho de 2024. Situada no final da Alta República, 100 anos antes de A Ameaça Fantasma, a trama segue as gêmeas Osha e Mae, irmãs poderosas na Força mas separadas por um acontecimento traumático na infância em que os Jedi estavam envolvidos.
Para quem acompanhou o marketing da série, ela foi vendida como um mistério de assassinato, ou só um mistério, com uma atmosfera mais sombria que o normal. Assim como Era de Ultron antes dela, não foi assim que aconteceu, e até aí tudo bem, o problema foi o que acabou sendo a série.
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Primeiro pôster da série divulgado. Apesar dessa estética mais sombria, a série não foge muito da atmosfera de outras séries e filmes de Star Wars. |
Muito drama foi gerado durante as exibições dos episódios, mas disso nós já tratamos aqui no blog, então o foco será estritamente na série e nos fatos dela como produção.
Em uma era cheia de oportunidades, uma showrunner com conhecimento íntimo de Star Wars, um elenco talentoso, um ótimo coreógrafo, uma pilha de dinheiro e 8 episódios, The Acolyte parece não saber gerir os seus recursos, pois todos esses fatores são feridos pelo roteiro e a edição.
De todos os filmes que viraram séries no Disney+, The Acolyte é um caso peculiar porque ela consegue enrolar e correr ao mesmo tempo. Provavelmente não funcionaria como um filme, mas como está também não funciona. A edição picotada que termina episódios e transita cenas abruptamente não ajudam o ritmo da série, que em muitos momentos é chata, redundante e expositiva com diálogos tão inaturais que poderiam ser obra do Lado Sombrio.
Sua premissa é o maior de seus males, pois o mistério que o marketing se apoiou não é o mesmo do foco da série, tendo sua resolução logo no primeiro episódio. A série em si se escora na dúvida em cima dos acontecimentos catalisadores da trama, que quando finalmente mostrados, trazem respostas até satisfatórias (embora seja debatível), mas também levemente contraditórias. O tempo que a informação foi segurada tornava a exibição semanal frustrante, mas ao mesmo tempo foi o que mais segurou a audiência, por ser uma história interessante no papel.
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Mae (Amandla Stenberg) |
O roteiro toca várias tramas de um modo superficial e pseudo-profundo, levando os que não prestam atenção a ficarem confusos, e aos que prestam a ficarem um tanto desanimados. Ele anuncia o que vai acontecer, mas trabalha muito com a omissão para fazer suas reviravoltas funcionarem, dando uma sensação de que ninguém sabe o que tá fazendo, impedindo uma conexão com os personagens em um nível mais profundo.
Essa falta de foco e aprofundamento leva aos atores a uma performance um tanto engessada, exceto em alguns momentos em que eles conseguem extrair algo para usarem, guiados por um bom diretor. Em questão de performances, os melhores episódios foram os 3 e 7 (dirigidos por Konganada), em que os flashbacks ocorrem e temos uma luz nas motivações dos personagens que acompanhamos.
O episódio 5, dirigido por Alex Garcia Lopez, possui várias lutas de sabre de luz empolgantes e tensas, tornando-se o melhor episódio. Os embates em si são o melhor aspecto da série, e o que mais diferencia esses Jedi de qualquer outro que vimos. Afinal, esta é a primeira vez que estamos vendo a Ordem Jedi em seus tempos de glória, o que justifica a superioridade em qualquer habilidade (e também a abundância de espécies e tipos de sabres dentro da Ordem).
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Cena do Episódio 5 "Noite" |
O episódio final, que é um pouco mais longo que o resto da série, ainda assim não tem tempo suficiente pra fechar tudo que vem sendo desenrolado e larga muitas pontas para uma segunda temporada (que até o momento não foi encomendada).
Apesar das aparições especiais terem alegrado muitos fãs, definitivamente não foram o suficiente pra ofuscar todos os problemas citados acima. Embora, devemos citar, que a série tem sim boas referências a livros e quadrinhos da Alta República, algo não muito esperado vindo de uma produção em live-action, e essas tendem a ignorar os materiais literários. Mesmo assim, a série pouco parece como algo da Alta República. Talvez por já ser o fim dessa era e o início da Queda dos Jedi, mas também há poucas conexões com qualquer uma das prequências para definir dessa forma.
Uma crítica feita pelos que assistiram a série em seu áudio original em inglês foi a performance ruim. Não foi algo que senti, mas creio ter sido a dublagem. Não seria de hoje que Star Wars é melhorado pela dublagem. Uma perda, porém, foi o sotaque do Mestre Sol — Lee Jung-Jae (Round 6) aprendeu inglês exclusivamente para interpretar o personagem.
Mas não só no inglês se nota o esforço de Jung-Jae: seu personagem é um dos que mais instiga curiosidade, e o ator faz o seu melhor mesmo com os diálogos mal escritos.
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Quais as verdadeiras motivações por trás de Sol? Essa é a pergunta que paira por toda a série. |
Felizmente, o elenco inteiro é talentoso o suficiente pra entregarem personagens até que carismáticos mesmo em meio de diálogos expositivos e superficiais. Talvez a atriz que mais conseguiu extrair algo para sua atuação tenha sido Jodie Turner-Smith, que faz o papel das mãe de Osha e Mae, e nos faz entender o lado dela e o que está pensando, ao mesmo tempo que mostra toda força que uma líder precisa.
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Jodie Turner-Smith interpreta a Mãe Aniseya. |
Manny Jacinto (The Good Place) interpreta o primeiro novo Sith em 3 décadas da franquia, e embora esteja envolto de um (dois?) plot twist super previsíveis, sempre entrega bons momentos em tela.
Previsível na verdade é uma bela forma de definir esse roteiro, que além de se usar de diversos clichês, no final acabou confirmando absolutamente toda e qualquer teoria que os fãs pudessem ter criado no decorrer dos 8 episódios, se segurando na esperança de ter mais uma temporada pra desenvolver tudo propriamente.
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"O Estranho" |
A trilha sonora é curiosa, pois é a mais fiel à linguagem musical de John Williams, até pegando motivos (motifs) obscuros das prequências, mas infelizmente nunca se sobressai e não passa de um papel de parede sonoro muito bem feito.
Enfim...
VEREDITO: ★★½
Apesar das várias ideias boas, é difícil definir entre um roteiro fraco, uma edição ruim e um marketing feito para o lado errado o que mais prejudica e ofusca os pontos fortes, que existem, mas não tem poder o suficiente pra fazer dessa série verdadeiramente boa.
Pra quem é fã de Star Wars, até vale a pena assistir e respirar um ar que não seja a Saga Skywalker, mas não se deixe enganar, se quer realmente saber sobre a Alta República, leia Luz dos Jedi ou assista a série do Disney Jr. Aventuras dos Jovens Jedi, ambas histórias que se desenrolam muito melhor.
– Texto por Gabriel Bezerra e Tiago Samps
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