THE BOYS prova que fidelidade não define qualidade! | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU

 

 No início de Junho, os fãs de cultura geek foram agraciados com duas estreias muito empolgantes de duas franquias gigantescas: Star Wars e The Boys, que nas 7 semanas que se sucederam lançaram novos episódios às terças e quintas-feiras, respectivamente. Enquanto The Acolyte decepcionou muito (pelo menos a nós aqui do blog), essa 4ª temporada de The Boys deu um grande e surpreendentemente satisfatório passo rumo a um fim empolgante e icônico para a série baseada em um quadrinho não tão bom.

A série de The Boys conquistou o público em sua primeira temporada por ser uma clara paródia não só às tão famosas histórias de super-heróis, mas por tirar sarro de toda a indústria do gênero ao mesmo tempo que conta sua própria história, original e rica de detalhes e personagens interessantes, cheia de "momentos chocantes" repletos de pornografia ou violência, se não ambos (e sinceramente, levando em consideração os quadrinhos que inspiraram a série, ainda tem pouco). A série continuou se escorando principalmente nesses momentos para segurar o público, dando voltas em si mesma e dando tudo de si pra não desenvolver propriamente nenhum personagem a não ser o Capitão Pátria (Antony Starr).

Capitão Capa estampando a capa fictícia da revista (verdadeira) Time.

Como dito nas nossas primeiras impressões baseadas nos 3 primeiros episódios, essa 4ª temporada pareceu ter percebido isso e começou dando um rumo pra todos os personagens, principalmente para Billy Bruto (Karl Urban) que deixou de lado sua obsessão pelo Pátria e tomou como prioridade a segurança de Ryan (Cameron Crovetti). Infelizmente só pra voltar pro ritmo assassino anterior (por causa da interferência de uma personagem que mal aparece na temporada), felizmente com um novo status quo que muda completamente a dinâmica do personagem em sua caça aos supers pra temporada final.

Página da HQ 'The Boys' #64 (publicada em Março de 2012)

Hughie (Jack Quaid) parecia estar evoluindo bastante na primeira metade da temporada, mas logo depois de seu — excelente — arco com sua família, foi extremamente judiado até o fim da temporada mesmo, teoricamente, sendo o personagem que deveríamos acompanhar o ponto de vista de toda a série (algo que foi completamente transferido para o Capitão Pátria com o tempo).

Anne January, (Erin Moriarty) a Luz Estrela, tem um arco chatíssimo de fraqueza que provavelmente tem sido feito pra construir algum momento super legal e poderoso dela, o que é muito batido. Mas ela passou por uma desconstrução quanto ao estigma de menina boazinha que adicionou muito ao personagem.

Leitinho (Laz Alonso), Francês (Tomer Capone) e Kimiko (Karen Fukuhara), no entanto, continuaram com os mesmos dramas. O Francês ainda teve um arco novo com um novo interesse romântico que o levou a enfrentar seu passado, mas não levou a lugar nenhum.

A temporada é repleta de episódios que não levam a lugar nenhum, mas é muito injusto usar isso como reclamação quando toda a série sofre desse problema. Se isso é um problema de qualidade, não é exclusivamente daqui, e sim de todas as 4 temporadas. Talvez nessa só esteja mais evidente pela falta daqueles momentos chocantes que tanto empolgam o público, enquanto aqui, apesar das voltas em torno dos personagens, tivemos finalmente uma mudança no status quo desse universo inteiro, graças a introdução das duas novas personagens que são a definição de "esperava nada e recebi tudo"!

Espoleta foi, assim como a Tempesta, introduzida como a mais nova alegoria à extrema direita, ironiza — claro, como completa coincidência, visto que a série retrata o cenário político dos Estados Unidos — perfeitamente situações e discursos políticos daqui do Brasil. Inclusive, é muito engraçado ver Valorie Curry, uma mulher queer, se divertindo aos montes interpretando a personificação de todo preconceito americano.

Mas o destaque (pelo menos aqui, porque ela aparece em momentos bem pontuais na série), vai na personagem de Susan Heyward, a Mana Sábia. Seria muito difícil o Capitão Pátria, sozinho ou com todos os Sete, orquestrar todo o caminho que levou ao final da temporada, e a introdução de Sábia como a mulher mais inteligente do mundo deu o empurrão que a trama precisava. A motivação da personagem ser apenas diversão é exatamente o que dá o ar de vilão que alguém com essa mentalidade precisa pra ficar do lado do Pátria, mas não podemos descartar a possibilidade dela estar tramando algo ainda maior (a tal Fase 2 de seu plano) para a 5ª temporada.

Mana Sábia e Espoleta em pôster da temporada.

Acima de todos, Antony Starr rouba a cena em absolutamente todos os episódios. Infelizmente parece que o ator age como o Capitão Pátria na vida real também, e isso justificaria a maestria na interpretação (e seria uma pena, afinal, é um vilão fascista), mas de qualquer forma, continua um personagem interessante e complexo, tanto de se interpretar, quanto de se entender (vide todos os marmanjos "se identificando" com ele na internet).

O conflito de John é todo baseado na vontade de ser amado, por seu filho e por todo mundo, mas evolui nessa temporada para a vontade de ser desafiado.

Olha, ainda nem mencionei Trem Bala (Jessis Usher), Victoria Newman (Claudia Doumit) e Ashley (Colby Minifie), todos ótimos personagens, com ótimas participações nos arcos da temporada, com ótimas conclusões com a pitada importantíssima de ótimas performances! Apesar de papéis menores (tirando a Newman, que es chave), com certeza estão entre os melhores da temporada e de toda a série.

Desde seu início, a série nada tem a ver com os quadrinhos em que é baseada. A obra de Garth Ennis não tem metade das tramas interessantes e se resume basicamente naqueles momentos pra chocar, sendo nem crítica nem ao gênero de super heróis, nem uma boa paródia política. Inegavelmente a série do Prime Video é um dos melhores exemplos, se não o melhor, de que no necessariamente precisa se seguir o material original (principalmente se traduzido em épocas diferentes), e que adaptar se trata de trazer os melhores aspectos daquela história de uma forma que melhore essa mesma história.

Pra não dizer que a série não cometeu nenhum vacilo na adaptação, o Tek Knight nessa temporada não é um personagem tão legal quanto nas HQs (seu episódio é o pior da temporada também), mas não é como se alguém ligasse pra ele (ou pros quadrinhos de The Boys) pra que isso afete o veredito dessa crítica.

Tek Knight, que nos quadrinhos é uma mistura de Batman e Homem de Ferro ninfomaníaco, não é tão interessante na série e infelizmente nem aparece com sua armadura.

Toda a qualidade técnica da série, como na trilha sonora e na fotografia, se mantém, e os únicos problemas seguem sendo aqueles que não são novidade alguma. A esperança para a 5ª temporada, com o final que a 4ª teve, é que realmente tudo seja finalizado, mas a série precisa urgentemente perder o medo de matar algum dos Rapazes ao invés de jogar todas as situações fatais para a Kimiko.

VEREDITO: ★★★★

A série mantém a qualidade e diminuiu o ritmo da putaria e violência para definir os pilares de um novo cenário político que muda todo o mundo da série, com ótimos ganchos para sua temporada final.

Me pergunto como o novo status quo desse universo vai afetar a 2ª temporada de Gen V...


– Texto por Tiago Samps


Comentários

Postagens mais visitadas