The Last of Us (Temporada 2) – De Bom a Pior | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU
Em 2023, conversamos sobre a primeira temporada de The Last of Us e como a série tinha começado como uma das melhores adaptações de videogame, adicionando muito à história do jogo que por si só já entrega uma experiência narrativa muito emocional e virtualmente cinematográfica.
A franquia The Last of Us em si é muito especial para esse jornal, visto que o primeiro artigo escrito e publicado aqui — inclusive por mim (prazer, Tiago)— foi justamente um Balão de Pensamento sob as mensagens do segundo jogo, este que serve de base para a segunda temporada da série adaptação da HBO.
Felizmente, a temporada conserta um (1) dos problemas apontados na primeira temporada e potencializa a presença e a ameaça dos infectados na trama, incluindo finalmente os tão importantes esporos a esta versão do universo. Infelizmente, justamente o que destacou a série em sua estreia — suas adições à trama, que não alteram necessariamente o desenvolvimento dela e dos personagens, mas somam à estrutura — se tornou um vício sem sentido e prejudicial à adaptação. Desde a menor das mudanças, como a ordem de alguns fatores ou informações entregues, até a adição de um acontecimento supostamente inofensivo (o caos em Jackson no episódio 3), todas essas alterações afetam diretamente o desenvolvimento de Ellie (Bella Ramsey) e Tommy (Gabriel Luna), a forma que o público concebe a nova personagem, Abby e consequentemente o objetivo original da história do jogo se perde.
Falando na Abby, a que deveria ser a adição mais importante nessa nova temporada, é uma antagonista de pouca presença, o que poderia ser resolvido com um mistério por trás de sua motivação (como no jogo), o que não acontece. Apesar de Kaitlyn Denver ser uma boa atriz, não houve sequer esforço para que a personagem enquanto vilã parecesse e soasse ameaçadora como deveria.
Sem querer dar muitos spoilers do que vem por aí, é preciso dizer que o ataque a Jackson e o buraco de três meses entre a morte do Joel e as separadas viagens de Ellie e Dinah (Isabela Merced) e Tommy e Jesse (Young Mazino) para Seattle muda completamente as motivações para o arco que, a partir dos acontecimentos do final dessa temporada, o próprio Tommy deve entrar.
Algumas mudanças menores nas falas dos personagens, também nesse episódio 7 (como o Jesse sendo mais agressivo e menos compreensivo com Ellie, ou a própria Ellie ponderando se Nora merecia ou não morrer) são tão inúteis e servem para nada além de contrariar as personas tão definidas no roteiro jogo, personas essas que fazem completa diferença a longo prazo e para a mensagem que o final deve passar.
Ao invés de uma história que foca nos motivos de Ellie para ir atrás de sua vingança nesta temporada, recebemos uma narrativa que tenta a todo custo nos convencer a largar a simpatia pela personagem — e com sucesso — abandonando completamente o que faz a inevitável “escolha” do jogador (agora espectador) entre torcer pela sobrevivência da própria Ellie ou, pasme, da Abby, seja tão difícil: a dualidade entre o apego emocional a esses personagens, e a real ponderação sob suas ações.
Nada dos 7 novos episódios se destaca em relação à primeira temporada da série, e infelizmente é muito difícil aproveitar os necessários momentos a mais dos infectados quando o que rodeia estes momentos é tão chato e medíocre.
O único personagem que a série consegue gerar o mínimo de simpatia e entrega a adaptação é, claro, o Joel, interpretado por Pedro Pascal e ainda mais paizão do que nunca. Infelizmente é justamente quem tem a menor presença na trama (por razões óbvias), mas presença tá longe de definir importância, e se lembrarem disso, Joel vai continuar sendo a motivação número um para as ações de Ellie até o fim da série.
Se os jogos equilibram a ameaça dos zumbis e a dos seres humanos, a série que começou focando na humanidade agora perde completamente o sentido da palavra, com personagens difíceis de se apegar, uma história que não dá vontade de acompanhar, e um final anticlimático que não cumpre seu papel de fazer quem assiste ansiar por mais da jornada, tanto da protagonista, quanto da suposta antagonista (que não antagoniza nada) que está prestes a se tornar, para o terror de muitos, a protagonista da terceira temporada. E considerando como os roteiristas lidaram com uma personagem já amada pelo público, é no mínimo preocupante para onde esse time brilhante vai recorrer para vender o ponto cuja graça, apenas no jogo, foi se apegar aos poucos, apesar do ódio instaurado no seu breve, mas MARCANTE momento como vilã.
VEREDITO: ★★½
Para quem é fã dos jogos e entende toda a mensagem que rodeia a trama, a 2ª temporada da série da HBO é uma adaptação teimosa, que insiste não só em melhorar a história original, mas em contrariar a qualquer custo tanto o que agradou, quanto o que desagradou ao público na primeira vez que a história de Ellie e Abby foi contada.
Texto de Tiago Sampaio
Revisado por Emilly Lois e Clara Silvestre
Na minha opinião, a série vem sendo muito fraca desde a primeira temporada. O grande erro recorrente em adaptações de obras excepcionais, como The Last of Us, A Lenda de Aang e tantos outros exemplos recentes, está justamente na tentativa de transportar para outro formato uma história que foi originalmente construída para funcionar com maestria em sua mídia de origem, seja videogame, animação, etc. Na prática, é quase impossível melhorar ou mesmo igualar uma obra como The Last of Us aoresumi-la em uma série de apenas sete episódios. Acredito que a melhor forma de adaptar essas obras para séries ou filmes, não é tentar refazer a história que já conhecemos, mas sim criar novas narrativas dentro desses universos, isso manteria a essência original, ao mesmo tempo em que se oferece algo novo ao público, evitando comparações diretas que quase sempre prejudicam a recepção da adaptação.
ResponderExcluirPerfeitamente! Fallout e Cyberpunk são, mesmo sendo séries bem diferentes (animação e live-action), um exemplo perfeito de como a melhor forma de “traduzir” essas histórias é criar algo novo no mesmo universo.
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