Desenvolvendo personagens, não um universo. | PACIFICADOR | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU

 O DC Studios finaliza o seu primeiro ano oficial com três produções para o seu novo universo cinematográfico. Comando das Criaturas serve como um prólogo, com o básico de uma construção de mundo, Superman é de fato o início, com o(s) primeiro(s) super-herói(s) que acompanharemos, e a 2ª temporada de Pacificador é um esclarecimento, ao mesmo tempo que uma conclusão.

Muitos ficaram confusos com a “reciclagem” da série do Pacificador e dos eventos de O Esquadrão Suicida (2022) no novo DCU. O que podemos considerar do universo antigo, o que não aconteceu, e por que não começar do zero?

Primeiramente, porque Pacificador é uma série boa. Assim como em O Esquadrão Suicida (e nos seus Guardiões da Galáxia), James Gunn usa de um personagem obscuro para entregar uma história divertida, extremamente irreverente, mas ao mesmo tempo com muito coração e sentimento. Como cada projeto do DCU tem seu próprio tom, não foi difícil trazer a série para este universo, com alguns ajustes, como alterar a aparição da Liga da Justiça para a nova Gangue da Justiça e… só. O resto encaixa tão bem neste novo e fresco universo quanto encaixou no tão controverso DCEU/Snyderverso.

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Enquanto a primeira temporada foi uma aventura do Pacificador, mostrando a sua redenção e uma jornada (ou ao menos o desejo) de se tornar um herói, esta segunda temporada é sobre o homem por traz do título e dos capacetes super-poderosos: Christopher Smith.

A série se destaca na performance de John Cena, que ainda é absurdamente divertido e engraçado na entrega dos momentos cômicos, mas surpreende e eleva completamente o nível da série quando Chris chega ao ápice do sofrimento — o que não acontece apenas uma vez. Em sua busca por amor e pertencimento, o Pacificador vai parar em uma realidade alternativa onde tudo era perfeito. Seu irmão está vivo, seu pai não é um vilão e Emília não o rejeita. Tudo o que importava para ele era perfeito.

Embora o plot twist da Terra X pudesse ser mais explorado e ter consequências ainda mais ramificadas, pouco importava para a história contada aqui — que é bem mais lenta e dramática que a da primeira temporada — que o Pacificador e os 11th Street Kids enfrentassem nazistas, pois tudo era sobre eles se encontrarem.

Cada um dos personagens do grupo de apoio de Chris passa por suas próprias barras — até o Eagly, que teve o arco mais esquisito da temporada — e precisam SE entender antes de, de fato, abraçarem o protagonista. 

Os destaques são Jennifer Holland, que entrega duas versões completamente diferentes de Emília Harcourt com maestria, Danielle Brooks, que é a cabeça e o coração da história e dos 11th na sua interpretação de Leota Adebayo, forte concorrente a melhor personagem original de uma adaptação de quadrinhos e, por menção honrosa, a inclusão de Tim Meadows no elenco, como uma nova ferramenta de comédia que traz ainda mais graça e risada para uma temporada naturalmente mais pra baixo.

O vilão da temporada — e presumidamente de todo este primeiro capítulo do DCU, intitulado Deuses e Monstros — é Rick Flag Sr. (Frank Grillo), que finalmente busca vingança pela morte de seu filho, que aconteceu nos eventos de O Esquadrão Suicida. Toda essa sede de vingança do novo diretor da ARGUS, amarrado às suas experiências negativas com meta-humanos em Comando das Criaturas e Superman, formam as raízes que devem conectar as produções futuras: o planeta-prisão Santuário e a corporação Xeque-Mate.

Embora o fim da série efetivamente pavimente o caminho para futuras produções e termine causando anseio por mais, a conclusão do arco de Christopher é, felizmente, o foco, levando o personagem a um novo ponto de sua vida que, embora ele tenha se tornado alguém completamente diferente daquele que conhecemos em sua estreia, todo o seu desenvolvimento não apenas faz com que esta mudança de vida e personalidade faça sentido, mas que seja satisfatória.

No fim, o Pacificador que buscava a paz a qualquer custo na base da violência, encontrou no amor e no pertencimento.

Se a série focasse completamente nisso e não prometesse tanto construção de mundo — o que é mais culpa do falastrão do James Gunn, que toda semana aumentava a expectativa do público para aparições e acontecimentos chocantes —, ela seria ainda melhor, pois nunca foi a quantidade de participações especiais ou grandes confrontos que fizeram um filme ou série de super-herói ser bom, mas sim o que é feito com aquele personagem no texto, desenvolvendo-o de forma individual e central. O melhor da 2ª temporada de Pacificador está, assim como na ótima 2ª temporada de Loki, na conclusão do arco de redenção do protagonista, e apesar de os momentos de “gibi” serem muito legais e pudessem ser melhor explorados (e devem ser, caso hajam spin-offs e outras temporadas da série), eles acabam afastando o público daquilo que realmente importa na história de Christopher Smith.

VEREDITO: ★★★½

Pode não ser melhor que a primeira temporada (apesar de ter o melhor episódio de toda a série), mas serve o seu propósito e, provavelmente, conforme os planos de James Gunn para o futuro do DCU forem se revelando nos próximos lançamentos, retroativamente pode não apenas fazer mais sentido, mas ficar melhor e/ou pelo menos mais interessante.


Texto de Tiago Samps

Revisado por Fernanda "Ferbs" Pinheiro


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