What If...? é uma fanfic de alto orçamento | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU

 Assim como no ano passado, a Marvel Animation entregou de presente de natal episódios diários de uma nova temporada de What If…?, e no ano passado também, lançamos uma review onde reclamamos sobre como a série cria uma trama linear ao invés de mergulhar completamente no conceito de infinitas possibilidades em uma antologia.

Aparentemente as possibilidades sequer eram tão infinitas assim, porque essa 3ª temporada ainda é a última da série, que apesar de certos vislumbres de grandeza, desperdiçou um conceito tão bom dos quadrinhos em histórias que soam como fanfics, principalmente ao introduzir personagens originais tão criativos quanto os criados por crianças durante uma sessão com seus brinquedos numa quarta-feira. Tudo isso em prol de uma trama que se amarra à saga do multiverso. Para quem é fã do Universo Cinematográfico da Marvel, talvez isso até soe legal, principalmente com a possibilidade de ver alguns desses novos personagens e as novas versões de heróis antigos pipocando no cinema (tal qual foi com a Capitã Carter em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura), mas para quem está familiarizado com o selo original nos quadrinhos, a série é só um desperdício de oportunidade de trazer as mais diversas interações de personagens, novos universos completamente diferentes do original e versões alternativas de personagens.

E tivemos vislumbres disso, principalmente nessa terceira temporada! Uma equipe de Vingadores cuja formação é completamente nova (pilotando robôs gigantes), com personagens que ainda não se encontraram no UCM, um universo ambientado no Velho Oeste, em 1800.

“E se… o Hulk enfrentasse os Vingadores Mecha” mostra uma equipe formada pelo Capitão América (Sam Wilson), Capitã Rambeau, Bucky Barnes, Nakia, Shang Chi, Cavaleiro da Lua, Guardião Vermelho e Viúva Negra (Melina Vostokoff). O episódio bebe dos Tokusatsus (gênero de ação japonês), mas não aproveita isso ao máximo, muito por conta do estilo de animação da série que limita um combate de robô gigantes oriundos de animes em 2D como Mobile Suit Gundam.

A série tinha um caminho, e bons episódios. Sua primeira temporada, que hoje se consagra como a melhor da série, seguiu um caminho experimental e seguro, usando apenas personagens populares das fases 1 - 3 e conceitos menos “malucos”, mas mesmo assim, contidos em si próprios. Mesmo o crossover no final deu conclusões para os personagens que retornaram, ao ponto da maioria não ter sido revisitado posteriormente. A partir da segunda temporada, o tempo dos episódios começou a ficar mal distribuído, e ideias boas foram descartadas em prol de ideias bobas. Não vou ficar repetindo o que já foi reclamado na review da 2ª temporada, mas é difícil não tocar nos mesmos pontos quando a 3ª continua com os mesmos erros.

Ainda sem saber aproveitar o tempo para desenvolver e explorar cada cenário ao seu máximo (sinceramente, realmente é difícil em menos de 30 minutos. A série merecia episódios mais longos), a série ainda insiste em uma trama linear envolvendo o Vigia. Embora, felizmente, largue a obsessão na Capitã Carter, a série continua insistindo em um humor bobo e deixa de lado a tentativa de dar um tom diferente para cada universo, como houve na primeira temporada com o mistério investigativo do assassinato dos Vingadores e a tragédia romântica do Doutor Estranho Supremo. Aqui, tudo é baseado no humor e do quão “divertidos” esses novos encontros podem ser.

“E se… o Guardião Vermelho parasse o Soldado Invernal?” coloca dois personagens com muito em comum, mas que ainda não se encontraram em uma dinâmica de dupla. Embora seja um episódio divertido e fechado, Bucky Barnes parece um pouco descaracterizado, talvez pelo tempo de duração do episódio (demonstra mais humor do que deveria antes de sair do controle mental da Sala Vermelha). O episódio também tem uma dose exagerada de humor e finaliza com poucas mudanças na linha do tempo ao ignorar certas consequências que haveria nos Vingadores ao alterar tão drasticamente o passado de um personagem específico.

E realmente, cada um desses encontros diverte de alguma forma, principalmente por, finalmente, se desgarrar da Saga do Infinito e explorar os personagens apresentados na Fase 4, que muito tinham a oferecer. Foram 2 episódios derivados de Eternos (mesmo que um deles não use nada além de um ponto de partida, ainda assim, foca em Riri Williams, de Wakanda Para Sempre) e até o Shang Chi protagonizou uma adaptação de 1872, e esses dão um gosto agridoce do que a série poderia oferecer se tivesse mais temporadas futuramente e largasse de mão de continuidade.

“E se… 1872? apresenta um Universo Marvel no Velho Oeste, baseado na minissérie em quadrinhos de Gerry Duggan e Nik Virella publicada em 2015, parte do evento Guerras Secretas, ao qual não só What If…? Mas toda a Saga do Multiverso do UCM está pavimentando caminho para adaptar em 2027, no 6º filme dos Vingadores. É um dos melhores episódios da temporada e da série, mas, assim como o episódio que adapta 1602 na 2ª temporada, carrega uma trama do Vigia, embora aqui atrapalhe muito menos.

A série também se atrapalha em quesitos técnicos ao não permitir que cada episódio tenha seu próprio estilo de animação. O próprio episódio dos Vingadores Mecha seria infinitamente mais legal, cheio de personalidade, ao se entregar para o estilo dos animes aos quais se inspira. Não seria nada novo para a Disney, visto que Star Wars Visions, que também traz histórias alternativas (mas para uma galáxia muito, muito distante), entrega cada episódio de sua temporada para um estúdio diferente ao redor do mundo. A variedade de roteiristas e animadores faz com que cada episódio seja único e apele para um público diferente, e assim é What If nos quadrinhos também, com cada história contada por uma nova equipe criativa.

Não que Mathew Chaunsey, o chefe de narrativa dessa temporada, seja um roteirista ruim (até porque ele é responsável pelos melhores episódios da série desde o início). Ora, não diria isso nem de A.C. Bradley, que supervisionou a série nas primeiras duas temporadas. Mas fica evidente como a falta de diferentes visões limita esse tipo de produção.

A trilha sonora, ao menos, a dupla Laura Karpman e Nora Kroll-Rosenbaum continuam trazendo de volta temas antigos. Dos mais reconhecíveis e repetidos até os que só tocaram uma vez, de Alan Silvestri (Os Vingadores) ao Joel P. West (Shang Chi e a Lenda dos Dez Anéis). Não é de hoje que a série é exemplo em continuidade musical e já tem até texto aqui elogiando e identificando isso na primeira temporada.

A série termina até que de forma divertida, com diversas referências aos quadrinhos, mas com um gosto muito forte de que poderia ter sido muito mais. A série termina em 3 temporadas ao invés de se estender para além devido ao buraco em que se enfiaram ao criar um arco narrativo em volta do Vigia e da Capitã Carter. Por causa desse claro favoritismo de personagens e histórias, a promessa das infinitas possibilidades se transforma em uma fanfic pessoal dos roteiristas que receberam a oportunidade de escrever suas histórias dos sonhos do Wattpad com orçamento de animação da Disney.

Veredito: ★★★

Nos últimos 9 dias, fizemos reviews semanais de cada um dos episódios dessa última temporada. Caso queiram ver detalhadamente o que achamos (na opinião do mesmo autor desse texto, claro) de cada um dos episódios, clique nos links abaixo:

E se… O Hulk enfrentasse os Vingadores?

E se… Agatha fosse para Hollywood?

E se… O Guardião Vermelho tivesse impedido o Soldado Invernal?

E se… Howard, o pato, se casasse?

E se… A Emergência destruísse a Terra?

E se… 1827?

E se… O Vigia desaparecesse?

E se… E se?

Texto de Tiago Samps

Revisão por Emilly Lois

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