Pluribus: Resistir não é inútil | REVIEW QUE NINGUÉM PEDIU

"A reação perfeita à nossa série é para o espectador decidir por si mesmo: Isso é o paraíso ou o inferno?" (Gilligan à Variety, 2025)

Assimilação tem sido um tema recorrente em 2025. No cinema, tivemos de Pecadores a Wicked, na vida real, temos a bolha da IA e os grifters de direita. Na realidade, a assimilação é uma realidade constante do capitalismo, seja em pequenas doses ou escrachadamente.

E nesse ínterim, Vince Gilligan, da fama de Breaking Bad e Better Call Saul, criou uma nova série: Pluribus, onde o mundo todo foi assimilado, exceto por 12 pessoas. Essa premissa poderia ser bem direta na sua execução, mas há um porém: os assimilados são pacíficos, pela definição da palavra (que ou o que ama ou almeja a paz), mas um tanto dissimulados.

Rhea Seehorn como Carol Sturka

A série segue Carol Sturka, uma escritora insatisfeita com a vida, e suas reações à assimilação e aos assimilados. Ela se torna a forma da audiência descobrir mais sobre Os Outros, como a série nomeia os assimilados, mas não há qualquer interesse da série de explicar tim-tim por tim-tim do como ou de onde, nem a que Os Outros são uma alegoria. A história é sobre uma personagem nessa situação.

Isso não quer dizer que não haja explicações, muito pelo contrário, há cada interação com Os Outros, mais se descobre do que eles são capazes e incapazes de fazer. E ao decorrer da série, conforme Carol encontra outros dos 12, também como eles reagem à assimilação e como o mundo no geral está. 

Mas isso ocorre sem pressa alguma. Se você for do tipo que comenta "mas esse episódio não avançou o enredo", essa pode não ser a série que procura. É propositalmente contemplativa. Carol termina a temporada exatamente onde ela começou, mas emocionalmente, ela foi ao inferno e voltou. E é essa volta que torna um final, que não tem muita fanfarra, satisfatório.

Há um segmento inteiro mostrando o que um personagem secundário está fazendo com Os Outros

Há o argumento de que a audiência enxergar Os Outros como uma metáfora para "tal coisa que não gosto" é bom. A série não se firma em coisa alguma. Carol faz referência a um campo de conversão e como a perda da individualidade traz perdas humanas, mas também mostra como o mundo de fato está "em paz". Então não, provavelmente não é sobre a bolha da IA, mas uma indagação de um "e se".

Se todos são um só, não há razão pra cultura. Se todos possuem uma única mente, não há como fazer arte. Se todos já estão conectados, não há razão para a linguagem. É uma biblioteca com todo o conhecimento do mundo para ninguém. Ao mesmo tempo, a solidão do isolamento ao se recusar ser assimilado vale a pena?

A série é basicamente um veículo para performances incríveis, principalmente para Rhea Seehorn, mas também pros personagens que a cercam, até os que aparecem em uma cena só. Não se surpreenda se ganhar todos os prêmios ano que vem. Mas tais performances em planos sequência e momentos quietos não seriam elevadas sem a cinematografia, que conta uma história por si só. A trilha, que se utiliza maioritariamente de músicas pré-existentes, mas que possui um trabalho original de Dave Porter, é utilizada de forma eficaz, até em sua ausência.

Pluribus não é TV cult, mas também não é entretenimento vazio pra deixar passando na TV. Como várias das séries na Apple, se você deixar ela conversar com você, nos termos dela, pode chegar a algum lugar que não havia ido antes. E não é esse o trabalho da ficção?

VEREDITO: ★★★★½

O ruim é que a próxima temporada só deve vir quando a Terra já estiver sem água e as pessoas sem capacidade de raciocínio básico.


Texto por Gabriel Bezerra 

Revisado por Tiago Samps & Fernanda "Ferbs" Pinheiro

Comentários

Postagens mais visitadas